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quinta-feira, 16 de outubro de 2008

A GRAÇA DE CELEBRAR 800 ANOS DO CARISMA FRANCISCANO - ÚLTIMA PARTE


Oitavo Jubileu de Fundação da Ordem Franciscana
800 anos do carisma Franciscano
Última Parte


A GRAÇA DAS ORIGENS
Frei Celso Márcio Teixeira ofm


Em 2004, o Ministro Geral da Ordem dos Frades Menores enviou carta a todos os frades sob sua autoridade, convocando-os à celebração dos 800 anos da aprovação da Regra. Juntamente com a carta, explanava toda a programação que se estendia de 2006 até o ano de 2009. E propunha três atitudes fundamentais que deveriam marcar as celebrações: recordar o passado com gratidão, viver o presente com paixão e abrir-se ao futuro com confiança.
A convocação soou-nos, porém, pouco empenhante. Claro que nas entrelinhas há um desejo e apelo a vivermos mais plenamente o carisma, mas, segundo nosso parecer, falta algo que nos conclame a comprometimentos mais corajosos. Corre-se, assim, o risco de uma celebração muito bonita, triunfalista, cheia de incenso voltado para nós mesmos; leva-nos a um ingênuo estar contentes com nós mesmos (portanto, se justificaria ficar ou continuar como estamos); não nos incentiva a uma busca nem nos incita a mover-nos.

A Ordem precisaria de convocação mais provocativa, contundente, profética. Algo que nos incomodasse, que nos despertasse de nossa letargia, que nos questionasse em nosso auto-contentamento e nos colocasse em movimento ou em processo de conversão.

Não somos contra a atitude de gratidão ao dom recebido nem de viver com paixão nem de ter confiança no futuro. Mas talvez seja o momento de questionar: Quais são as nossas origens? O que fizemos com o carisma recebido? Em que estamos investindo as entranhas de nossa paixão? Quais as bases concretas para termos confiança no futuro?

Esta pequena reflexão pretende retomar com simplicidade a convocação do Ministro Geral e de seu governo com a finalidade de torná-la mais incisiva em nossa vida.

1. Retorno crítico às origens

Mais do que por recordar as origens com

gratidão, porém sem descartar esta atitude, nosso retorno às origens deveria ser marcado por uma atitude crítica. Esta consistiria em buscar com discernimento o que constitui a proposta original do nosso carisma. Incluiria um estudo ou aproximação da maneira como esta proposta se concretizava naquela época e do impacto que aquela novidade causava na Igreja e na sociedade em geral.

Sem dúvida, esta aproximação metodológica exigiria um grande esforço, pois seria como um deslocar-se do século XXI ao primeiro quarto do século XIII. O retorno às origens – ou situar-se na origem – seria a maneira mais própria a permitir a verificação da proposta original e das formas concretas que ela assumia e, inclusive, das variações que sofria ou das evoluções (naturais) pelas quais passava.Duas grandes dificuldades encontramos para nos colocarmos nas origens, uma em nível teórico e outra em nível prático.


a) Em nível teórico. Ousamos afirmar que o franciscanismo em que fomos formados não é o das origens. Para provar que não afirmamos coisas absurdas e sem sentido, lembramos que é somente a partir das últimas décadas que temos a ventura de poder confrontar-nos diretamente com todos os escritos de São Francisco. Tínhamos conhecimento apenas da Regra Bulada e do Testamento. E mesmo aquilo que hoje compreendemos como “origens” nos foi transmitido por ideologias que marcaram profundamente a história (e a formação) da Ordem. Portanto, a leitura que temos das nossas origens foi feita com óculos de ideologias que muito pouco têm das origens verdadeiras. Em nossa concepção atual de franciscanismo temos “verdades absolutas e inquestionáveis” que não passam de preconceitos (preconcepções) que nos foram transmitidos como as verdades das origens. Quem, por exemplo, nunca ouviu falar que São Francisco era contrário aos estudos? Quem nunca ouviu falar que a vocação de Francisco consistia em viver a pobreza e que esta é o elemento mais importante do franciscanismo? Para quem é novidade a afirmação de que Francisco foi enviado por Deus como “homem novo” não somente para tirar o mundo da lama dos vícios (cf. 3Cel 1,3), mas também como reformador da Igreja ou para inaugurar uma Igreja espiritual, cujo elemento de identificação era a pobreza? Quantos não se encantaram com os relatos poéticos e não menos caricaturais de Fioretti, a ponto de julgar que o franciscanismo que esta obra nos transmite é o genuíno franciscanismo das origens? Todas estas afirmações, geralmente categóricas, são uma maneira preconceituosa de ler as origens, porque oriundos de grupos extremistas que fizeram sua leitura dos primórdios da Ordem e nos transmitiram seus conceitos (ou preconceitos), seu modo de conceber a vida franciscana.

Segundo nosso parecer, a formação do nosso modo de conceber e de viver o franciscanismo data da metade do século XIII. A partir daí, as nossas origens foram como que apagadas, e foi-nos transmitido como original um franciscanismo ideologizado. Diríamos que fomos formados não somente por um franciscanismo caricatural, mas híbrido, em que se misturam algumas inspirações de Francisco lidas e interpretadas não a partir do confronto com o Evangelho, mas com os óculos e a partir das teorias imaginosas de Joaquim de Fiore (recorde-se que Joaquim de Fiore teve enorme influência nos meios religiosos da época, influência comparável, a nosso ver, à de Aristóteles nas universidades). Desta maneira, nossa vida franciscana tem como imagem ou espelho não propriamente Francisco de Assis, mas os fraticelli, como eram conhecidos os idealizadores ou ideologizadores deste franciscanismo híbrido.

A proposta de um retorno crítico às origens requer, num primeiro momento, que se identifiquem esses grupos, que se questione a concepção que eles têm das origens. Torna-se imperativo para isto um embrenhar-se nos meandros da história em busca das idéias-força que configuraram a vida franciscana da época em que surgiram esses grupos. Num segundo momento, a busca propriamente dita das verdadeiras origens deve ter como alvo as opções fundamentais e inalienáveis de Francisco, as opções-eixos que imprimiam identidade à vida do frade menor, as práticas que concretizavam estas opções.

Esta busca, porém, não significa estacionar nas origens no sentido de querer copiar a vida tal qual acontecia naquela época. As origens não eram estáticas, mas dinâmicas, passavam por processos de evolução; a vida ia se concretizando diferentemente nas diversas circunstâncias de lugar, de tempo, de cultura, mantendo-se, porém, fiel às opções fundamentais. Pois evolução não significa renúncia às opções fundamentais e inalienáveis que constituem a identidade de um grupo. Onde há renúncia às opções fundamentais, não há evolução, mas desvio. As opções fundamentais do carisma são, portanto, irrenunciáveis. Uma verdadeira evolução mantém sempre a fidelidade às opções que constituem a identidade do grupo. E Francisco, em várias ocasiões de sua breve existência, sempre se mostrou consciente do que constituía o inalienável ou o inegociável de seu carisma.

b) Em nível prático. Também aqui, o que nos foi transmitido a partir da metade do século XIII foi decisivo para a nossa compreensão do franciscanismo. Até este período, estamos diante de uma Ordem marcada pela mobilidade (exatamente o contrário da stabilitas loci dos monges). A partir deste momento, a Ordem começa a passar por um processo de estabilização ou de fixação. A pregação itinerante, que marcava o estilo de vida do frade menor, acabou cedendo lugar a uma fixação cada vez mais acentuada, distanciando-se da proposta evangelizadora das origens. A nosso ver, não tanto o crescente número de frades e a necessidade de construir casas maiores (conventos) era a causa precípua da fixação, mas o fato de os frades assumirem cada vez mais as tarefas que competiam ao clero.

De um lado, esse processo é plenamente compreensível. Tratava-se de encontrar um espaço dentro dos quadros da Igreja. O que, no fundo, constituía uma busca de sua identidade no âmbito eclesial, visto que comumente os grupos se definem ou se identificam a partir do que fazem. E recorde-se que a pregação itinerante sempre fora mal vista por setores importantes da hierarquia eclesiástica. Nesta busca de espaço-identidade, pouco a pouco, a Ordem foi assumindo as tarefas que não lhe competiam, até para justificar sua presença e atuação na Igreja.

As igrejas dos frades passaram a atender os fiéis a exemplo das paróquias, o que causou no início brigas com o clero, pois este sentia que seu espaço estava sendo ocupado por intrusos. Tanto assim que o papa Inocêncio IV, atendendo às queixas dos seculares, chegou a proibir que os frades, nos dias solenes, abrissem as portas das suas igrejas antes da terça (por volta das 10 horas), para não afastarem os fiéis de suas paróquias (lembre-se que toda esta problemática incluía a questão muito concreta dos benefícios) (cf. Salimbene de Parma, Crônica, n. 38, em FFC, p. 1395). Neste processo de adequação à atividade do clero, o passo para que os frades se ocupassem de paróquias foi muito curto. Deste modo, a mobilidade inicial acabou ficando estática, constituindo um verdadeiro desvio daquilo que era a proposta clara das origens: os frades não seriam pastores (clero), mas auxiliares do clero na sua tarefa de “salvar as almas”; sua tarefa seria a de suprir o que porventura faltasse, portanto, a da complementaridade (cf. 2Cel 146,2).Pode-se argumentar que a Igreja hierárquica pressionava a Ordem a assumir as tarefas próprias do clero. Com ou sem pressão, porém, a Ordem não pode eximir-se da culpa e atribuir à Igreja a responsabilidade de seus desvios. Segundo nosso modo de ler a história, faltou à Ordem uma liderança lúcida que, como Francisco, fosse capaz de fazer valer suas opções fundamentais mesmo diante do papa. Apenas um exemplo: quando Francisco pediu a aprovação da Regra, o cardeal João de São Paulo lhe propôs uma das regras existentes, e o próprio papa achava muito difícil viver o que nela se propunha, mas Francisco recusou cortês e corajosamente qualquer outro caminho que não fosse o de sua opção.

Tanto quanto a clericalização jurídica da Ordem, esta clericalização prática, que açambarcava a tarefa do clero e a reivindicava como seu modo de dar fruto na Igreja (cf. 2Cel 148,10), não deixava de ser uma grande traição às origens. Com a fixação, perdeu-se a “novitas” ou o próprio que exatamente identificava a Ordem. Se nas origens muitos membros do clero acorriam à Ordem, deixando as tarefas próprias do clero para se tornarem pregadores itinerantes (em outras palavras, deixando de ser “clero” para tornarem-se frades menores), a partir deste período, o movimento torna-se precisamente o contrário: os frades, pouco a pouco, vão deixando a itinerância para se fixarem nas paróquias (vão deixando sua identidade de frades menores para assumirem inconscientemente a identidade de “clero”).Se de um lado, este processo é compreensível, de outro não se justifica, pois o processo preteria uma das opções irrenunciáveis que fazia parte da identidade dos frades menores e que constituía a sua “novitas” dentro da Igreja.

2. Ler o presente à luz das origens

O retorno às origens não significa um estacionar no passado com saudosismo. Deve provocar-nos a atitudes criativas para o nosso presente. Caso contrário, estaremos deslocados da nossa realidade. Uma vez verificadas as opções fundamentais das origens, trata-se de ver como elas estão concretizadas na nossa vida. Faz-se necessária uma leitura do presente à luz das opções das origens. Daí o questionamento: Elas continuam sendo as nossas opções fundamentais e inalienáveis?A leitura do presente à luz das origens (ou no confronto com as opções das origens) exige três atitudes complementares:

a) Humildade. Esta atitude nos levará a constatar que estamos mais distantes do que próximos das opções das origens. Permitir-nos-á identificar os desvios da Ordem ao longo desses 800 anos e que teimamos em manter com as mais belas justificativas. Se no início ela se caracterizava por uma “novitas”, por sua pujança progressista, por sua coragem de ser “de fronteira”, hoje ela é uma Ordem eminentemente conservadora, especialmente no que diz respeito à sua tarefa dentro da Igreja. Com uma Igreja burocraticamente imóvel, ela se fez igualmente imóvel e não tem a coragem de propor a mobilidade que a caracterizava nas origens. A uma Igreja que insiste em uma organização paroquial antiquada e anacrônica, baseada na centralidade do pároco, uma evangelização itinerante, como a das nossas origens, poderia ser uma proposta alternativa de evangelização. Mas a Ordem prefere conservar a mesma imobilidade.

A perda da mobilidade traz inevitavelmente como consequência a criação de estruturas pesadas: propriedades, casas grandes, equipamentos “indispensáveis” de evangelização, empresas, tudo de acordo com as exigências do mundo moderno, tudo em nome da evangelização. O que nos distancia sempre mais dos pobres. E embora a Ordem faça belos discursos sobre a opção pelos pobres, ela não tem coragem de partilhar a sorte, a vida, a mobilidade e a insegurança dos pobres. E é conveniente que nos lembremos de que quanto mais nos afastamos dos pobres, mais nos afastamos de nossas origens, visto que Francisco queria a presença dos frades preferentemente no meio dos pobres. Sem dúvida que muitos frades pessoalmente estão buscando recuperar os valores das origens, mas institucionalmente, como Ordem, estamos num conservadorismo que não tem outra consequência que a de asfixiar a vida franciscana.

O confronto com as origens permitir-nos-á verificar também o grau da nossa fidelidade a elas. Nem tudo é desvio. Certamente existe algo da nossa identidade das origens que ainda nos torna frades menores e nos faz ser conhecidos como tais. E da mesma maneira que somos convidados humildemente a retificar os desvios, semelhantemente somos convidados a intensificar criticamente (com discernimento) as nossas fidelidades.

b) Criatividade. A humildade em reconhecer nossos desvios históricos não deveria apenas levar-nos a bater no peito por nossas faltas, numa lamentação inócua, mas principalmente dispor-nos a tomadas de atitudes positivas. Trata-se de perguntar-nos: como concretizar hoje e daqui para frente as opções de origem? Como reencarnar na diversidade da vida de hoje as nossas opções fundamentais que nos caracterizam como frades menores?

Longe de nós a tentação de copiar anacronicamente as práticas do século XIII! Atitude essencial seria a de repropor-nos o carisma com criatividade. Isto implicaria na busca de novas formas de presença e de atuação na Igreja e no mundo (novas práticas); implicaria em termos coragem de abandonar inúmeras estruturas que nos amarram e encontrar novas formas de mobilidade que deveria ser, como nas origens, uma marca própria do frade menor; implicaria igualmente em propormos alternativas não somente para a Ordem, mas para a Igreja, em sua tarefa evangelizadora; implicaria em retomarmos “as fronteiras” da evangelização, isto é, os lugares de perigo e de risco, bem como os lugares de ponta nas grandes questões e debates da humanidade. Pois o conservadorismo não faz parte do estilo de Francisco de Assis; por conseguinte, não deveria fazer parte do estilo dos frades menores. Devemos recriar (ou encarnar) o carisma em novas práxis, sempre, como foi dito acima, na fidelidade às opções irrenunciáveis das nossas origens, pelo que agradecemos a Deus. Somente assim seremos capazes de manter acesa a “novitas” do carisma franciscano. Caso contrário, seremos uma Ordem velha, não pela idade de seus membros, mas pela falta da novidade evangélica.

Uma coisa deve ficar muito clara: Não está em questão a bondade ou a validade do que fazemos. Tudo o que fazemos em nível de trabalhos paroquiais, em nível de promoção humana e em inúmeros níveis é e poderá ser muito bom e válido. A questão pode ser impostada nestes termos: É necessário ser frade menor para fazer o que fazemos? A nossa vida e a nossa atividade evangelizadora estão na linha da fidelidade às nossas opções de origem?

c) Re-opção. Para que a criatividade não se disperse numa busca aleatória, é necessário que ela esteja fundada, movida e orientada por uma re-opção. Isto equivale a dizer que no fundo da busca de novas formas de encarnar hoje o carisma é imperativa a retomada das opções de origem. Caso contrário, haveria uma alienação da proposta original, e a criatividade seria confundida com busca de singularidades.

A proposta de uma re-opção não é uma proposta de reforma em seu sentido histórico. A Ordem teve inúmeras reformas ao longo de sua história. Todas elas pecaram por certo observantismo reducionista, isto é, se propuseram observar a proposta original, só que em um ou dois aspectos, deixando fora do seu projeto reformista elementos essenciais das opções da origem; um observantismo que beirava ao fundamentalismo, no qual primava a observância literal da Regra; um observantismo que privilegiava o rigorismo ascético sobre qualquer outra dimensão do carisma; um observantismo que acabou se tornando chave de interpretação não só da regra, mas também da própria existência humana.Re-opção significa assumir as opções fundamentais das origens em sua globalidade, sem reducionismos e sem os outros “ismos” interpretativos que as desvirtuam, as desfiguram, as mutilam.Evitamos propositalmente o termo “refundação”, amplamente utilizado nas reflexões da vida consagrada há uma década aproximadamente. De fato, não refundamos nada, pois a Ordem que temos já foi fundada, e ninguém funda a mesma coisa de novo. A preferência pelo termo “re-opção” deve-se ao fato de este engajar a nossa vontade num processo de retomada do caminho, de conversão. Sem a vontade não se dá um passo sequer neste processo. E é a vontade que precisa ser ativada para que a Ordem retome seu caminho.

3. Inaugurar o futuro já

O futuro não existe como realidade, mas apenas como possibilidade. Só podemos falar de esperança ou de confiança em um futuro a partir do que concretizamos no presente. É a nossa atitude no presente que vai fornecer as bases do futuro. Portanto, o futuro se começa a construir hoje.

Muitas vezes, a reflexão sobre a virtude teologal da esperança a coloca relacionada ao “depois”, ao “além”, ao “ainda não”, desvinculando-a de nossa existência concreta. Mas ela deve estar presente no “agora”, no “aqui”, no “já”. Esperança não é esperar acontecer, mas fazer acontecer. Por exemplo, só podemos ter esperança de que uma semente dê fruto, se a plantarmos. Plantando-a, criamos condições de existência do fruto. Caso contrário, não há sequer como falar de esperança. É a esperança do fruto que nos move a plantar a semente. A esperança é, então, o dinamismo que move a ação presente que, por sua vez, possibilita o desabrochar do futuro. Portanto, a esperança é força propulsora da própria ação do presente.Deste modo, só podemos falar de esperança e de confiança no futuro da Ordem, se fizermos a nossa re-opção no presente, se retomarmos agora as opções que constituem a nossa identidade como frades menores. À medida que concretizarmos no presente as opções de origem, criaremos as condições para uma vida franciscana mais autêntica tanto agora como para o futuro.

Evidentemente não se constrói uma casa com um estalar de dedos. Requerem-se paciência e perseverança. Mas é no pouco que construímos a cada dia com esperança que podemos falar e desejar um futuro melhor. Importante é dar os primeiros passos, mesmo que pequenos. Urge começar, como dizia Francisco: “Comecemos, irmãos, porque até agora apenas pouco ou em nada progredimos”.Não há outro caminho: ou plantamos agora ou não podemos sequer ter esperança de colher no futuro.

Conclusão

Esta reflexão pode ter causado certo mal-estar, pois, ao mostrar que a Ordem passou por sérios desvios de suas opções fundamentais e tem longo e árduo caminho a percorrer na busca de suas origens, nos incomoda, nos provoca a sair da nossa acomodação, nos sacode do nosso auto-contentamento, nos põe em movimento de conversão. Mal-estar é sinal de que percebemos a necessidade de conversão. Lamentável seria se achássemos que não precisamos de conversão. Por isso, o mal-estar é extremamente benéfico.

Semelhantemente, uma celebração, que não reconhecesse os erros cometidos e o caminho a percorrer, cairia inevitavelmente no triunfalismo e na auto-incensação. E nada pior do que o contentamento consigo mesmo para impedir qualquer progresso.

A graça que Deus concedeu a Francisco e aos companheiros nas origens não nos será negada hoje. Importante, porém, é fazer com que essa graça não seja vã e que produza seus frutos. E para produzir frutos, é necessário que retomemos com paixão as nossas origens, na esperança de que do que plantarmos agora colheremos melhores frutos no futuro.


Fonte: Franciscanos (matéria e foto)

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