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NOSSA SENHORA DE FÁTIMA

Esteja ao lado de Nossa Senhora de Fátima como nunca pode imaginar.

Visite a Capela das Aparições, ON LINE.
Participe das orações, do terço e das missas diárias.

Clique na imagem de Nossa Senhora e estará em frente à Capelinha do Santuário de Fátima.

CAPELA DE NOSSA SENHORA DA MEDALHA MILAGROSA

Uma Capela cheia de segredos !Você quer descobri-la conosco? Saiba, antes de tudo, que a Casa Mãe da Companhia das Filhas da Caridade era o antigo "Hotel de Châtillon". Este, foi concedido à Companhia, em 1813, por Napoleão Bonaparte, depois da tormenta da Revolução Francesa. Imediatamente, começa a construção da Capela.A 8 de agosto de 1813, realizou-se a bênção solene da Capela dedicada ao Sagrado Coração de Jesus. Em 1830, aconteceram então as aparições. Aumentou o numero de vocações.Foi necessário transformar a Capela, que passa então por várias modificações. Em 1930, por ocasião do centenário das apariçes, uma nova reforma nos mostra a Capela tal como a vemos hoje.Agora, a você a oportunidade de visitá-la!
http://www.chapellenotredamedelamedaillemiraculeuse.com

Visita a Capela da Medalha Milagrosa, localizada na Rue du Bac, 140 - Paris

Visita a Capela da Medalha Milagrosa, localizada na Rue du Bac, 140 - Paris
Clique sobre a foto para a visita guiada em 15 etapas

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Programa da visita do Papa a Fátima

Programa da visita do Papa a Fátima disponível para os peregrinos


FÁTIMA,

- Fátima vai acolher Bento XVI como peregrino de Nossa Senhora entre 12 e 14 de Maio.
O programa oficial com todas as atividades de Bento XVI em Portugal, e em Fátima, foi tornado público pelo Vaticano a 25 de Março.
No entanto, o Santuário anuncia agora no cartaz do mês de Maio, já disponível no site oficial do Santuário na Internet http://www.fatima.pt/portal/index.php?id=2712, todo o programa da Peregrinação, incluindo os momentos em que o Santo Padre estará presente.
Embora sem grandes alterações relativamente ao programa habitual proposto aos peregrinos para os dias da Peregrinação Aniversária de Maio, mas tendo em conta a presença do Papa, o Santuário procedeu a alguns pequenos ajustes nos horários das celebrações, em especial no dia 12.
Habitualmente, a 12 de Maio celebra-se, no Recinto, às 16:30, uma Missa, com a participação dos doentes, seguida de procissão Eucarística, e às 18:30 decorre, na Capelinha das Aparições, o início oficial da Peregrinação, com a saudação a Nossa Senhora e aos peregrinos.
No próximo mês de Maio, para a tarde do dia 12, está marcada, para as 16:00, uma procissão Eucarística, no Recinto, e, às 17:30, a chegada do Santo Padre à Capelinha das Aparições e o início oficial da Peregrinação Internacional Aniversária.


Fonte: ZENIT.org

terça-feira, 27 de abril de 2010

Programa de Direitos Humanos aborda temática que não lhe compete

Brasil: Programa de Direitos Humanos aborda temática que não lhe compete

Afirmação da Pastoral de Católicos na Política do Rio de Janeiro



RIO DE JANEIRO, terça-feira, 27 de abril de 2010

- A Pastoral de Católicos na Política da Arquidiocese do Rio de Janeiro afirma que o Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3), lançado recentemente pelo governo brasileiro, “aborda uma temática que não lhe compete”.
Uma temática “que não foi submetida a um debate nacional, inclusive desrespeitando a autonomia do Congresso Nacional, agredindo a Constituição Federal e a legislação em vigor”.
A afirmação da Pastoral foi expressa em nota, divulgada esse sábado, após um encontro no Rio de Janeiro, que contou com a presença do arcebispo, Dom Orani João Tempesta.
Segundo o grupo, o PNDH-3 suscita “graves preocupações”. “Não apenas pela questão do aborto, do casamento de homossexuais, das adoções de crianças por casais do mesmo sexo, pela proibição de símbolos religiosos nos lugares públicos, pela transformação do ensino religioso em história das religiões, pelo controle da imprensa, a lei da anistia, etc, mas, sobretudo, por uma visão reduzida da pessoa humana”.
“A questão em jogo é principalmente antropológica: que tipo de pessoa e de sociedade são propostos para o nosso País.”No Programa de Direitos Humanos “se apresenta uma antropologia reduzida que sufoca o horizonte da vida humana, limitando-o ao puro campo social”.
“Dimensões essenciais são negadas ou ignoradas: como a dignidade transcendente da pessoa humana e a sua liberdade; o valor da vida, da família e o significado pleno da educação e da convivência. A pessoa e os grupos sociais são vistos como uma engrenagem do Estado e totalmente dependentes de sua ideologia.”A nota da Pastoral de católicos na política destaca que “nesta 3ª edição do PNDH, estamos diante de uma cartilha de estilo radical-socialista. Trata-se de um projeto reduzido de humanidade destinado a mudar profundamente a nossa sociedade”.“O programa do Governo é um claro ato de autoritarismo que enquadra os direitos humanos num projeto ideológico, intolerante, que fez retroceder o país aos tempos de ditadura”, afirma o texto.“Diante desse instrumento de radicalização, somos todos interpelados face às ameaças que dele derivam à eficácia de valores vitais, como os da vida, da família, da pessoa, do trabalho, da liberdade e da Justiça.”
Os membros da Pastoral de católicos na política “posicionam-se fortemente contra tal programa e desejam ver bem discutidas estas propostas de modo a transformá-las, de ameaça que são, em um esforço útil a todo o Povo Brasileiro”.

Fonte: ZENIT.org

segunda-feira, 26 de abril de 2010

ORAÇÕES PELAS VOCAÇÕES SACERDOTAIS E RELIGIOSAS


BENTO XVI PEDE ORAÇÕES PELAS VOCAÇÕES SACERDOTAIS E RELIGIOSAS

Cidade do Vaticano,

- Bento XVI assomou ao meio-dia de ontem, domingo à janela de seus aposentos – que dá para a Praça São Pedro – para rezar com milhares de fiéis e peregrinos a oração do Regina Caeli.

Na alocução que precedeu a oração dominical, o Santo Padre recomendou a oração para suscitar novas vocações, e exortou os sacerdotes a viverem constantemente momentos de recolhimento diante do Tabernáculo.

Nas saudações aos diversos grupos presentes dirigiu uma saudação especial à Associação "Meter", na linha de frente na luta contra a pedofilia on line, agradecendo e encorajando aqueles que se prodigalizam no campo da educação e da prevenção aos abusos contra menores.

No domingo do "Bom Pastor", Dia mundial de oração pelas vocações, o Pontífice recordou Santa Mônica, que suplicando a Deus com humildade e insistência, obteve a graça de ver seu filho Agostinho tornar-se cristão".

Um exemplo para explicar que "a oração é a primeira forma de testemunho que suscita vocações"."

Portanto, convido os pais a rezarem a fim de que o coração dos filhos se abra à escuta do Bom Pastor, e todo pequeno germe de vocação... se torne árvore frondosa, repleta de frutos para o bem da Igreja e de toda a humanidade."Mas "como podemos ouvir a voz do Senhor?".

Na pregação dos Apóstolos e de seus sucessores", recordou o Papa, porque "nela ressoa a voz de Cristo, que chama à comunhão com Deus e à plenitude da vida".

"Somente o Bom Pastor custodia com imensa ternura o seu rebanho e o defende do mal, e somente n'Ele os fiéis podem ter absoluta confiança.

"Em seguida, Bento XVI fez uma exortação aos ministros ordenados para que, "estimulados pelo Ano Sacerdotal, se sintam comprometidos a um mais forte e incisivo testemunho evangélico no mundo de hoje".

"Recordem que o sacerdote continua na terra a obra da Redenção; saibam viver habitualmente momentos de recolhimento diante do Tabernáculo; saibam aderir totalmente à própria vocação e missão mediante uma ascese austera; façam-se disponíveis à escuta e ao perdão; formem de modo cristão o povo a eles confiados; cultivem com zelo a fraternidade sacerdotal."

Em seguida, o Papa fez um agradecimento pessoal "àqueles que com a oração e o afeto" apóiam o ministério do Sucessor de Pedro.

Após o Regina Caeli, o Pontífice recordou as beatificações, celebradas esta manhã em Roma e em Barcelona, de dois sacerdotes: Angelo Paoli, carmelita, apóstolo da caridade na Cidade Eterna, que viveu entre os Sécs. XVII e XVIII, exemplo admirável, em particular, para aqueles que pertencem a Institutos de vida consagrada – observou o Papa; e José Tous y Soler, fundador no Séc. XIX das Capuchinhas da Mãe do Divino Pastor, e que se distinguiu por "sua capacidade de suportar e compreender as faltas dos outros", uma referência para todos, particularmente para os que se consagraram "a viver a fidelidade a Cristo".

De fato, após a oração mariana, o Papa dirigiu uma saudação à Associação "Meter", que há 14 anos promove o Dia nacional italiano em favor das crianças vítimas da violência, da exploração e da indiferença: "Nesta ocasião quero, sobretudo, agradecer e encorajar aqueles que se dedicam à prevenção e à educação, em particular aos pais, aos professores e aos muitos sacerdotes, irmãs, catequistas e animadores que trabalharam com os jovens e adolescentes nas paróquias, nas escolas e nas associações."

Ainda no âmbito das saudações em várias línguas aos diversos grupos de fiéis e peregrinos presentes, o Santo Padre dirigiu algumas palavras também aos de língua portuguesa. Eis o que disse: "Dirijo agora a minha saudação amiga aos professores e alunos do Colégio de São Tomás, de Lisboa, e demais peregrinos de língua portuguesa: De visita a Roma, não quisestes faltar a este encontro com o Papa, que a todos encoraja na nobre missão de dar razões de vida e de esperança às novas gerações para uma sociedade mais humana e solidária.

Sobre vós, vossas famílias e os sonhos de bem que abrigais no coração, desça a minha Bênção Apostólica."

Fonte: RV

domingo, 25 de abril de 2010

O BOM PASTOR - REFLEXÃO

REFLEXÃO SOBRE A LITURGIA DESTE IV DOMINGO DO TEMPO PASCAL


Cidade do Vaticano, 25 abr (RV)

- Celebramos hoje, como em todo IV Domingo Pascal, o Dia do Bom Pastor!A dimensão dada ao título “pastor” neste domingo, não é a de um homem manso e carinhoso em relação a cada uma das ovelhas de seu rebanho, mas a de um enérgico pastor que toma conta e luta pelo rebanho.
A salvação das ovelhas está assegurada pela determinação do pastor que diz “ninguém vai arrancá-las de minha mão.” Nada que fizermos conseguirá nos separar de Deus! Essa é uma incomensurável boa nova! E o Senhor acrescenta: “ninguém pode arrebatá-las da mão do Pai.” Somos de Deus e pronto!
Cristo é o Pastor que deu vida pelo rebanho, formado por pessoas que praticam o bem, que dão a vida pelos irmãos, como Jesus. Só pode dar a vida quem crê na ressurreição, quem já vive como ressuscitado. Seu dom supera a morte!
Aí está o sinal da vocação, viver neste mundo sem deixar-se apegar ao mal, ouvindo o chamado para fazer o bem! “As minhas ovelhas escutam a minha voz”, a voz do bem, do ressuscitado, do livre!
Somo chamados ao rebanho de Cristo se nossa vida é fazer o bem! Jesus e o Pai constituem uma unidade: “Eu e o Pai somos um”. Criticar e rejeitar Jesus, é criticar e rejeitar o Pai. É necessário que nos tornemos um com Cristo. Nossos valores, nossos projetos, nossos desejos deverão ser os de Cristo. Recordemos nossas renúncias e nossa profissão de fé realizadas no batismo. Foi nossa rejeição ao pecado, à morte, e nosso sim a Deus, à Vida.
A força de Jesus é transmitida aos que recebem sua vida, o sopro de seu Espírito. Por isso o mundo não pode arrebatar aqueles que são de Jesus, que são do Pai.
Peçamos ao Pai do Senhor Jesus, o Bom Pastor, que nos fortifique, que nos solidifique na vocação à vida e na resposta dada através de nosso batismo. Digamos a oração da missa de hoje: “Deus eterno e todo-poderoso, conduzi-nos à comunhão das alegrias celestes, para que o rebanho possa atingir, apesar de sua fraqueza, a fortaleza do Pastor.”
Fonte: RV

PREPARATIVOS PARA A VISITA DO PAPA À PORTUGAL

PORTUGAL PREPARA A VISITA DO PAPA


.....................Basílica da Estrela - Lisboa - Portugal

Lisboa,

- Cerca de 200 mil exemplares de um "santinho" contendo uma oração pela visita de Bento XVI a Portugal serão distribuídos neste fim de semana nas paróquias da Diocese de Lisboa. A oração visa preparar espiritualmente os fiéis católicos para este acontecimento que vai levar o Papa à cidade de Lisboa, Fátima e Porto.O pequeno prospecto com a imagem oficial da visita do Santo Padre e a oração serão distribuídos nas diversas missas das cerca de 300 paróquias da diocese de Lisboa.Também neste fim de semana começa a circular nas paróquias do Patriarcado um folheto com informações e conselhos úteis para a participação na missa que Bento XVI celebrará no dia 11 de maio, às 18h15, no Terreiro do Paço.Através da Rádio Vaticano, nossos ouvintes poderão acompanhar os principais momentos da visita papal a Portugal entre os dias 11 e 14 de maio. (RD)

Fonte: RV

E A PORNOGRAFIA QUE PROMOVE A PEDOFILIA ?

Desprezo do cardeal Pell pela pornografia que promove a pedofilia
Lembra encontro do Papa com australianos vítimas de abuso sexual

SYDNEY,

- O arcebispo de Sydney, cardeal George Pell, sublinhou que a pedofilia permanece um problema, mas que devem também ser questionadas a assim chamada "liberação sexual" e difusão da pornografia.

As declarações foram feitas em um artigo publicado no domingo passado na página na web da arquidiocese de Sydney, na qual afirmou ainda que "o abuso sexual de crianças é um crime hediondo", e que saber "que sacerdotes católicos e membros de ordens religiosas estejam entre os piores abusadores enche todos os católicos de horror e indignação".

De qualquer forma, o purpurado disse que "este não é um problema apenas da Igreja", envolvendo diversos setores da sociedade.

"Constituem parte do problema também a implacável difusão da pornografia em certos setores culturais, bem como a pressão por uma ‘liberação sexual', quem no seu extremo pretende impor a aceitação da pedofilia como mais uma preferência sexual".

"Nas últimas semanas, o Papa Bento XVI tem submetido a um rigoroso exame a questão dos abusos sexuais cometidos por sacerdotes", constatou o cardeal.

"Tamanha atenção dos meios de comunicação pode ser abrasiva" - continuou - "mas na Austrália, todavia, estes têm desempenhado um papel significativo, ajudando a igreja a enfrentar o problema dos abusos a fazer justiça às vítimas".

O purpurado advertiu ainda que "alguns dos boatos recentes são imprecisos e parciais".

Ação decisiva

A história, acrescentou o cardeal, "mostra que o Papa Bento tem agido decisivamente e com determinação para assistir às vítimas e erradicar da Igreja os abusos sexuais".

O Papa, lembrou, "encontrou-se com vítimas de abusos na Austrália e nos EUA, pedindo-lhes desculpas publicamente".

"Como alto cardeal sob o Papa João Paulo II, deu-se conta de que os processos eclesiais eram inadequados e que os bispos haviam cometido erros demais no tratamento das denúncias de pedofilia", continuou.

"Com João Paulo II, foram acelerados os procedimentos de investigação das denúncias a para afastar do sacerdócio presbíteros abusadores".

"Quando ateus proeminentes pedem que o Papa seja preso e conduzido ao Tribunal Penal Internacional, é preciso que nos perguntemos se estes estão mais preocupados com a publicidade ou com os abusos de fato", assinalou o purpurado.

"Como sublinhou um ateu de origem britânica, é irônico ver alguns ateus dispostos a aplicar a própria inquisição".

"Richard Dawkins, um dos que estão atrás das pressões pela prisão do Papa, afirmou que educar uma criança na fé católica é mais danoso que o abuso sexual. Isto não sugere que se leve o abuso a sério", lamentou.

O cardeal conclui seu artigo destacando que "o papel do Papa Bento XVI na luta contra este mal deve ser reconhecida", para que "membros da comunidade em geral possam seguir seu exemplo".

Fonte: ZENIT.org

sábado, 24 de abril de 2010

RENÚNCIA DE BISPO DE BRUGES É ACEITA PELO PAPA

Papa aceita renúncia de bispo que cometeu pederastia
Dom Vangheluwe se retira da diocese belga de Bruges

..................................Bruges - canal

BRUXELAS,

- Bento XVI aceitou hoje a renúncia ao governo pastoral da diocese belga de Bruges apresentada por Dom Roger Joseph Vangheluwe (foto), quem, no passado, abusou sexualmente de um jovem.

O Centro Interdiocesano de Bruxelas acolheu hoje uma coletiva de imprensa para explicar as causas da renúncia deste bispo.

O porta-voz da diocese de Bruges, Peter Rossel, leu uma mensagem de desculpas do bispo Vangheluwe, na qual ele reconhece que "quando eu era ainda um simples sacerdote e durante certo tempo, no começo do meu episcopado, abusei sexualmente de um jovem do meu ambiente próximo".

"Nas últimas décadas, reconheci diversas vezes minha culpa, diante dele e de sua família, e pedi perdão - reconhece o prelado. Mas isso não o pacificou. Nem sequer eu estou em paz."

"A tempestade midiática das últimas semanas reforçou o trauma - continua. Não se pode continuar nesta situação."

"Lamento profundamente o que fiz e apresento minhas mais sinceras desculpas à vítima, à sua família, a toda a comunidade católica e à sociedade em geral", assegura o prelado, em sua mensagem.


"Apresentei ao Papa Bento XVI minha renúncia como bispo de Bruges e esta foi aceita hoje - explica. Por isso, estou me retirando."

Demissão indispensável

O arcebispo de Malinas-Bruxelas afirmou aos jornalistas que assistiam à coletiva de imprensa: "Estamos enfrentando uma situação particularmente grave".

"Pensamos antes de tudo na vítima e em sua família, da qual muitos membros conheceram hoje a tremenda notícia - declarou. Para a vítima, trata-se de um longo calvário, que certamente não acabou."

"Quanto ao bispo Roger Vangheluwe, ele tem direito, como pessoa, à conversão, confiando na misericórdia de Deus", acrescentou.

"No entanto, no que se refere à sua função, é indispensável que, por respeito à vítima e à sua família, e por respeito à verdade, ele seja demitido do seu cargo", afirmou.

"É isso que foi feito - explicou. O Papa aceitou imediatamente a renúncia do bispo de Bruges, que neste momento é divulgada em Roma."

Destacou que "a Igreja insiste em que nestes assuntos não deve haver distorções" e acrescentou: "Esperamos contribuir, dessa forma, para o restabelecimento da vítima".

"Somos conscientes da crise de confiança que este fato causará em muitas pessoas", declarou.

"No entanto - acrescentou - nós nos atrevemos a esperar que a sensatez prevaleça e que os bispos - e sobretudo os sacerdotes - deste país não sejam, em conjunto, indevidamente desacreditados."

"A grande maioria vive de forma coerente com sua vocação e com uma fidelidade pela qual lhes agradeço publicamente", recordou.

A situação não se acalmava

Também interveio na coletiva de imprensa o bispo representante da comissão para a gestão das queixas por abusos sexuais em uma relação pastoral, Dom Guy Harpigny.

Este prelado explicou que ficou sabendo da situação do bispo que renunciou apenas na terça-feira, 20 de abril, "por meio de uma mensagem de conhecidos da vítima, dirigida aos bispados".
Naquele momento, "nenhum dos membros da Conferência Episcopal da Bélgica estava a par desta situação", precisou.

"Eu só soube que, no começo do mês, o cardeal Danneels - já emérito - teve um encontro com a família, a pedido da família da vítima e na presença de Dom Vangheluwe", explicou.
E prosseguiu: "Ele ouviu e constatou que a situação não se acalmava e não poderia continuar assim".

Ao mesmo tempo, a vítima contatou a comissão representada por Dom Harpigny.

Antídoto

O presidente desta comissão, Peter Adriaenssens, também interveio no ato de hoje, tentando responder à pergunta "Como reparar um passado que se tornou pesado demais?".

Para o especialista, "a história da vítima de Dom Vangheluwe é um caso exemplar que demonstra que crescer com um passado muito pesado pode causar dano, em todos os sentidos".
"O abuso sexual é, em primeiro lugar, uma questão de abuso de poder", explicou, caracterizado pelo "segredo imposto à vítima e ao pequeno círculo fechado no qual se encontra".

Adriaenssens propôs um "antídoto": "Frente ao abuso de poder, é preciso restabelecer o equilíbrio das dignidades"; "frente ao peso do segredo, está o direito de reencontrar o livre uso da sua palavra"; e, "frente ao que chegou diante da vista, está a transparência de uma comunicação aberta".

Para ele, "estes são os 3 caminhos de cura que podem ser oferecidos hoje à vítima e à sua família".

E concluiu: "Esperamos que as medidas claras, que afetam hoje o autor destes atos, permitam que a vítima se sinta orgulhosa de pertencer à sociedade".

Fonte: ZENIT.org

sexta-feira, 23 de abril de 2010

IGREJA É MEMORIAL DE REFERÊNCIA E MORALIDADE

Mesmo ferida, Igreja é memorial de referências e moralidade
Arcebispo sublinha presença indispensável da Igreja na vida da sociedade


BELO HORIZONTE,

- O arcebispo de Belo Horizonte (Brasil), Dom Walmor Oliveira de Azevedo, afirma que a Igreja, mesmo ferida, “é um memorial de referências e moralidade, indispensável”.

Em artigo enviado a ZENIT nesta sexta-feira, Dom Walmor recorda o ensinamento do apóstolo Paulo de que a Igreja é um corpo. “Paulo acentua que cada membro é diferente e importante. Sua condição, se ferida, ecoa em toda a sua extensão, em razão da insubstituível articulação entre os membros desse mesmo corpo”.

“Quando o Papa Bento XVI fala de uma Igreja ferida, nessa primeira década do terceiro milênio, está reconhecendo que há membros feridos, com repercussão em todo o corpo que é a Igreja”, afirma o arcebispo.

Segundo Dom Walmor, “as chagas que atingem o corpo que é a Igreja se configuram de muitas maneiras. Toda quebra da unidade, injustiça, disputa, exploração, desrespeito e irreverências ferindo a nobreza da dignidade humana, compõem a lista que pode fazer da Igreja corpo ferido”.

“A pedofilia, crime hediondo, conduta abominável, é uma ferida que afeta todo o corpo. Agrava-se quando membros servidores consagrados desse corpo são os instrumentos desses acontecimentos nefastos.”

Para o arcebispo de Belo Horizonte, “esse primeiro decênio da vida da Igreja nesse terceiro milênio, preconizado como o da mística e da espiritualidade, desafia a Igreja Católica a voltar, ainda mais, a suas fontes”.

“A Igreja Católica tem fontes e elas estão retratadas em memórias ricas, consignadas em experiências, monumentos, serviços, tradição imaterial, cultura gerada nos braços dos valores evangélicos.”

“A Igreja - ainda quando ferida nesses, por esses ou naqueles membros, e também pelas injunções da história de cada tempo, com suas mudanças e descompassos - contabiliza experiências, serviços, pessoas, muitos sacerdotes, alimentando e garantindo sua presença indispensável na vida da sociedade, um tesouro inestimável”, afirma Dom Walmor.

Se o seu corpo é ferido – prossegue o arcebispo –, “tem em seu coração o amor de Deus revelado no seu Mestre e Senhor, Jesus Cristo, que lhe garante uma incontestável envergadura moral, credibilidade e força própria para renascer e continuar sua missão”.

“Mesmo ferida, a Igreja é um memorial de referências e moralidade, indispensável, como se comprova, para a vida de povos e culturas”, escreve o prelado.
(Alexandre Ribeiro)

Fonte: ZENIT.org

NOVO SITE DA IGREJA PARA OS JOVENS

ESTADOS UNIDOS: NOVO SITE DA IGREJA PARA OS JOVENS
Washington, 23 abr (RV)

– Chama-se “For-YourVocation.org” e será lançado no próximo domingo, dia 25 de abril, chamado do Bom Pastor no qual se celebra o Dia Mundial de Oração pelas Vocações. “ForYourVocation.org” é o endereço do novo site web que o episcopado norte-americano, através do secretariado para o clero, a vida consagrada e as vocações, está para colocar na rede.Com o objetivo de ajudar os jovens na busca do seu caminho vocacional e fornecer informações e materiais formativos aos pais, professores, catequistas e animadores vocacionais. Um modo para destacar a beleza de uma vida dedicada inteiramente a Deus. E responder assim também – destaca o comunicado da conferência episcopal norte-americana – ao convite de Bento XVI, que na mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais de 16 de maio solicita aos sacerdotes a não terem receio de utilizar os novos instrumentos do mundo digital. Também os usuários de “Facebook” e de outros network — destaca-se — poderão se tornar “Evangelizadores” para as vocações.O site – que a partir do segundo semestre será também disponível para os usuários de língua espanhola – tem dois principais objetivos: ajudar as pessoas, em particular os jovens, a escutar e a responder ao chamado de Deus ao sacerdócio e à vida consagrada; e sensibilizar a comunidade católica sobre a importância da oração e das atividades para as vocações. No site poderão ser encontrados também testemunhos de sacerdotes e de seus familiares. Em sintonia com o tema do Dia Mundial do próximo domingo que é precisamente “O testemunho suscita vocações”. (SP)
Fonte: RV

quinta-feira, 22 de abril de 2010

PAPA DIZ QUE PARTILHOU SOFRIMENTO COM VITÍMAS DE ABUSOS

Papa diz que partilhou sofrimento com vítimas de abuso
21 de abril de 2010 20h 41

Em sua audiência semanal no Palácio de São Pedro, o papa Bento XVI afirmou que a Igreja Católica "atua" em relação aos casos de pedofilia no clero e que se emocionou no encontro com vítimas de pedofilia em Malta.
"Compartilhei seu sofrimento, com emoção. Orei com eles, assegurando que a Igreja atua" para remediar esses crimes, disse o pontífice, lembrando o encontro no fim de semana.

Papa promete ação em casos de abusos sexuais contra crianças

Papa prometeu, em público, uma ação da Igreja nos casos de padres que cometeram abusos sexuais contra crianças.
Bento XVI falou na audiência pública desta quarta-feira na Praça de São Pedro.
Ele lembrou o encontro reservado com oito vítimas de padres pedófilos, domingo (18) na Ilha de Malta.
Na ocasião, o Papa já havia prometido medidas efetivas para evitar novos casos de abusos contra crianças.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

A IGRAJA É IMACULADA E INDEFECTIVEL


São Paulo, 19 de abril de 2010
Aniversário da eleição para a Cátedra de Pedro de
S.S. o Papa Bento XVI

A Igreja é imaculada e indefectível

Após cada campanha de ataques contra ela, a Igreja sempre aparece mais forte e esplendorosa do que antes

Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP

A saraivada de notícias que, nas últimas semanas, tenta macular a Igreja Católica, tomando por motivo abusos de crianças cometidos por parte de sacerdotes católicos, atinge um clímax inacreditável. Decididos a não deixar morrer a fogueira que acenderam, vários órgãos de comunicação social têm se dedicado a investigar o passado, à procura de novas alegações que envolvam o Vigário de Cristo na Terra, o Papa Bento XVI, no que, aliás, têm falhado rotundamente.

Que haja padres despreparados e indignos, ninguém o pode negar; que abusos horríveis foram cometidos, e certamente até em número superior ao registrado, é preciso reconhecer. Mas utilizar falhas gravíssimas, mas circunstanciais, relativas a uma minoria de clérigos, para enxovalhar toda a classe sacerdotal é uma injustiça. E usar isso como pretexto para tentar derrubar a Igreja é diabólico.

Aliás, quanto mais o espírito libertário, relativista e neopagão de nossa época se infiltra na Igreja, tanto mais é de temer que aconteçam crimes de pedofilia. Daí mesmo a necessidade de implantar nos seminários um sistema rigoroso de seleção, de modo a só admitir como candidato ao sacerdócio quem não tenha a propensão de pactuar com o mundo, mas queira ensinar a prática da doutrina católica em toda a sua pureza e dar o exemplo.

A atual campanha publicitária contra a Igreja faz-nos esquecer uma verdade da qual a história nos dá um inequívoco testemunho: foi a Igreja Católica que livrou o mundo da imoralidade, e é porque está rejeitando a Igreja que o mundo tem afundado novamente no lodo do qual foi resgatado.

O mundo do paganismo era um inferno

A maioria da população do Ocidente dá por certo que o mundo, em grau maior ou menor, sempre cultivou os valores aos quais estamos acostumados. Esses valores, sacrossantos até cerca de 50 anos atrás, em certa medida ainda resistem à decadência acelerada deste início de milênio:

família tradicional, proteção da inocência infantil, senso do pudor, modos educados, trajes decentes, honorabilidade, respeito mútuo, espírito de caridade, dignidade humana, solidariedade, etc.

Mas não foi sempre assim. Antes de Nosso Senhor Jesus Cristo pregar entre os homens a Boa Nova do Evangelho, o mundo estava mergulhado numa prolongada e terrível noite, em que reinavam a devassidão moral, o egoísmo, a crueldade, a desumanidade e a opressão, conforme a história nos ensina 1.

Dessa situação não se pode concluir que todos os romanos, gregos e "bárbaros" fossem devassos. Havia minorias inconformes com aquela situação e preparadas para receber a pregação evangélica com a avidez de náufragos que encontram a tábua de salvação. Daí a rápida expansão da Igreja Católica pelo mundo romano e, finalmente, a conversão do Império no ano 313 da era cristã.

Religiões degradantes

Tudo quanto a parte sã da opinião pública do Ocidente ainda olha com horror hoje em dia, era, no mundo dominado pelo paganismo, moeda corrente e normal. Basta-nos recordar o que a mitologia greco-romana diz a respeito dos vários deuses de seu panteão.

Formavam eles um temível bando de depravados: adúlteros, violentos, impudentes, mentirosos, ladrões, opressores, assassinos, parricidas, matricidas, fratricidas, cruéis, egoístas, traidores, preguiçosos, falsos, desonrados, incestuosos, fornicadores, perversos e pedófilos. Zeus (o Júpiter dos romanos), a divindade máxima desse covil, era não só um brutamontes, que praticara canibalismo devorando uma de suas filhas e assassinara outros parentes próximos, mas também um adúltero incontrolável, que fizera muitas vítimas entre "deusas" casadas e solteiras, violentara suas irmãs e noras, estuprara sua própria filha e até sua mãe e que, além disso, mantinha como amante um menino que raptara 2.

Os relatos dessas infâmias estavam nos textos apresentados às crianças nas escolas daquele tempo, para instruí-las na gramática, na retórica, na poesia, como assinalaram em sua época os apologistas cristãos.

A religião pagã exercia, pois, um maléfico domínio sobre a sociedade, propondo, como exemplos a serem imitados, as iniquidades dos deuses. De outro lado, a sociedade influenciava a religião, de modo que os mitos refletiam os costumes então em voga.

Imoralidade, crueldade, opressão

Naquele ambiente pagão, a situação da mulher era terrível. Em geral quase sem direitos, ela era praticamente considerada como uma escrava do marido, isso quando tinha o privilégio de ser casada.

1 É preciso excetuar o povo judeu. Entretanto, mesmo algumas práticas do Povo Eleito foram, por Nosso Senhor Jesus Cristo suavizadas, ou posteriormente modificadas.
2 Cf. por ex. ARISTIDES, Apologeticum (escrito entre 123 e 127 d.C.); JUSTINUS, Apologia Prima (entre 153 e155 d.C.); ARNOBIUS, Disputationum Adversus Gentes (entre 304 e 312 d.C.).

As próprias religiões, mesmo as mais elevadas, conduziam as mulheres — como, naturalmente, também os homens — a grandes depravações. A dos caldeus, por exemplo, era sinistra e corruptora, com práticas lúbricas nos templos. A religião fenícia também estimulava a degradação da mulher.

Heródoto é um dos que nos fornece informações sobre a "prostituição sagrada" praticada nos templos da Babilônia, Assíria, Grécia, Síria, Chipre e em outros lugares3. Com frequência, as "sacerdotisas" ingressavam nos templos quando muito jovens, entregues pelos próprios pais.

O famoso "Código de Hamurábi", promulgado por este rei de Babilônia (cerca de 1793 a 1750 a.C.), reserva alguns tópicos para regulamentar essa prática 4.

O culto de Cibele e Átis, surgido na Frígia, de onde passou para a Grécia e Roma, levava a práticas escabrosas em público. Como Átis se mutilara, perdendo sua masculinidade, seus festejos incluíam a automutilação de muitos homens, realizada em meio de uma multidão que, alucinada, dançava e uivava, enquanto se executava uma música, com o ensurdecedor ruído das flautas, címbalos e tambores 5.

A Grécia contava com numerosos templos dedicados a Vênus, mas nenhum consagrado ao amor legítimo entre esposos. Em Atenas e outras cidades realizava-se, uma vez por ano, uma procissão na qual era levada uma enorme escultura fálica. Homens e mulheres percorriam as ruas cantando, pulando e dançando em torno desse ídolo.

Opressão da mulher

A honorabilidade feminina era ainda ferida pelo costume da poligamia, generalizado em muitas regiões, embora houvesse locais onde vigorava a poliandria6. Igualmente degradante era o incesto, especialmente comum na Pérsia7, mas também na Grécia8.
Na Índia, dentre as cruéis práticas milenares do paganismo, o costume exigia que a viúva fosse queimada junto com o cadáver do marido 9.

O Código de Hamurábi está repleto de normas que espelham o estado de opressão da mulher nas civilizações antigas, a qual muitas vezes era punida com a morte, a escravidão ou o repúdio10.
Mesmo em Roma e na Grécia, as leis antigas eram iníquas com relação à mulher 11, e até pes

3 HERODOTUS. Book 1, "Clio", n. 181; n. 199. In Kitson, J., Herodotus Website, www.herodotuswebsite.co.uk, 2003.
4 The Code of Hammurabi, King of Babylon, About 2250 BCE, tradução para o inglês por Robert Francis Harper, Chicago, University of Chicago Press, 1904, nº 181, 182.
5 MARTINDALE, C. "A religião dos romanos", in Christus – História das religiões. São Paulo, Saraiva, 1956, v. II, p. 560-561.
6 PSEUDO-CLEMENTE. The Recognitions, c. 24.
7 Ibid., c. 27.
8 COULANGES, Fustel de. La Cité Antique. Paris: Flammarion, 1984. p. 78, 81, 82.
9 PSEUDO-CLEMENTE, op. cit., c. 25.
10 The Code of Hammurabi, op. cit., n. 110, 132, 141, 143.
11 COULANGES, op. cit., p. 78.

pessoas como o austero Catão favoreciam graves injustiças a esse propósito 12. No caso de Atenas, para obviar de algum modo a parcialidade no tratamento dado às filhas, a lei incorria em uma aberração ainda maior, ao incentivar o incesto para resolver problemas de herança 13, chegando a impor a destruição de dois lares já constituídos, se preciso fosse 14.

Em Roma, na época em que a Boa Nova de Jesus Cristo já estava sendo pregada, a instituição da família encontrava-se em profunda crise. O aborto e o abandono das crianças assumiam proporções espantosas. A natalidade decrescia. Os homens ricos preferiam manter-se solteiros e cercar-se de inúmeras escravas, a se sujeitar aos incômodos do casamento 15.

A situação das crianças ante o Estado todo-poderoso

Na Grécia e em Roma não havia a liberdade individual que seus admiradores fazem acreditar: o cidadão vivia em função do Estado. Em sua República, o próprio Platão preconizava um Estado todo-poderoso, e mesmo Aristóteles o considerava como ideal supremo 16.

A família greco-romana também era totalitária sob certos aspectos. Assim, o Direito Romano dava um poder ditatorial ao pater familias17. Na Grécia vigoravam leis semelhantes. O pai tinha o direito de rejeitar seu filho recém-nascido, ou vendê-lo como escravo 18. Também podia condenar à pena de morte a esposa, um filho, uma filha, ou qualquer outro morador de sua casa, executando-se sem demora a sentença; as autoridades do Estado não interferiam 19.

Em Esparta, comenta Coulanges, "o Estado tinha o direito de não tolerar que seus cidadãos fossem disformes ou mal constituídos. Por isso ele ordenava ao pai ao qual nascesse um filho nessa situação, que o fizesse morrer" 20. Segundo o mesmo autor, essa lei se encontrava igualmente nos antigos códigos de Roma. Até Aristóteles e Platão incluíram, em suas propostas de legislação, essa prática.

Em Cartago e na Fenícia, crianças eram oferecidas em sacrifício aos ídolos; em Roma e na Grécia eram elas utilizadas em ritos de adivinhação21. Em vários lugares, crianças e adolescentes podiam ser punidos com a morte por um delito cometido pelo pai 22.

12 Ibid., p. 81.
13 Ibid., p. 81-82.
14 Ibid., p. 82.
15 DANIEL-ROPS, [Henri Pétiot]. A Igreja dos Apóstolos e dos Mártires. São Paulo, Quadrante, 1988. p. 126-130
16 KOLOGRIVOF, Ivan (dir). Ensaio de suma católica contra os sem-Deus. Rio de Janeiro: José Olympio, 1939. p. 380-381.
17 JOLOWICZ, Herbert Felix; NICHOLAS, Barry. Historical introduction to the study of Roman Law. London: Syndics of the Cambridge University Press, 1972, p. 119; COULANGES, op. cit. p. 99.
18 JOLOWICZ, NICHOLAS, op. cit., p. 114; COULANGES, op. cit., p. 100-101. Ver tb. The Code of Hammurabi, op. cit., n. 117.
19 JOLOWICZ, NICHOLAS, op. cit., p. 119; COULANGES, op. cit., p. 102.
20 COULANGES, op. cit., p. 266.
21 JUSTINUS, Apologia Prima, c. 18: PG 6, 370.
22 DANIEL-ROPS, op. cit., p. 162; The Code of Hammurabi, op. cit., n. 210, 230.


O Estado, ao mesmo tempo em que dava ao pai um poder ilimitado dentro de casa, cerceava-o tiranicamente na educação dos filhos. Entre os gregos, o Estado era o mestre absoluto da educação, e Platão o justifica, pois, diz ele, "os pais não devem ter a liberdade de enviar ou de não enviar seus filhos aos mestres que a cidade escolher, porque as crianças são menos de seus pais do que da cidade" 23. O Estado considerava como pertencente a si o corpo e a alma de cada cidadão, e assumia a criança quando esta completasse 7 anos de idade 24.

Impiedosa e difundida escravidão

A escravidão era uma instituição tão corrente no mundo antigo que os escravos costumavam constituir a maioria da população. Em Roma, no tempo de Augusto, mais de um terço da população era constituído por eles25.
O dono de um escravo tinha sobre ele direito completo. Um escravo não era um homem propriamente dito; era uma coisa, res mancipi26. O dono tinha não só o direito de coabitar com a mulher do escravo sem cometer adultério, mas também de dispor dos filhos dele, e se o ferisse ou matasse, não cometia delito27.
Na lei romana havia incisos relativos aos escravos que davam ocasião a grandes crueldades. No tempo de Nero, por exemplo, um alto magistrado foi assassinado por um dos seus escravos. "O Senado, após longa discussão, decidiu aplicar a todos os servos da casa a velha lei que condenava ao suplício da cruz todos os escravos que não tivessem sabido proteger seu senhor. Diante dessa sentença terrível, houve tais protestos populares que os 400 condenados tiveram de ser executados sob a guarda do exército" 28.
Sempre houve um ou outro proprietário de escravos que os tratava com humanidade ou — mais raramente — com respeito, mas seria grande ingenuidade pensar ser essa a atitude habitual.
Selvageria sangrenta
Na Antiguidade os morticínios eram vistos com indiferença, como um acontecimento natural na vida dos povos. O massacre da população de uma cidade não causava a menor surpresa, nem indignação.
A tendência para sacrifícios sangrentos estava ligada a vários ritos do paganismo. Na Grécia a velha religião considerava conveniente oferecer holocaustos humanos para o apaziguamento dos deuses. Esses sacrifícios, comuns entre os gregos das épocas remotas, abrandaram-se mais tarde,

23 COULANGES, op. cit., p. 267.
24 COULANGES, Ibid.; MARROU, Henri Irénée. A history of education in antiquity. Madison: University of Wisconsin Press, 1982, p. 20, 23, 31.
25 DANIEL-ROPS, op. cit., p. 128.
26 JOLOWICZ, NICHOLAS, op. cit., p. 133-138, 277.
27 WEISS, Juan-Bautista. Historia Universal. V. 3. Barcelona: Tipografia La Educación, 1928, p. 390-391.
28 DANIEL-ROPS, op. cit., p. 132.

mas não desapareceram completamente. No século II da Era Cristã ainda se sacrificavam vidas humanas na Arcádia, em honra a Zeus Liceu 29.
Em Roma, o espetáculo mais apreciado pelo povo era o de homens morrendo, e as lutas de gladiadores constituíam ocasiões para impiedosos morticínios. "Pela manhã, diz Sêneca, jogam-se homens aos leões e ursos; depois do meio-dia, são jogados [ao arbítrio] dos espectadores.
O fim para todos os lutadores há de ser a morte, e põem-se mãos à obra com ferro e fogo, até que a arena fique vazia" 30. Nessas "sessões" iniciadas ao meio-dia, os condenados à morte deviam se executar mutuamente até o último. Tanto esse costume como a refeição das feras com carne humana nos ajudam a "compreender essa volúpia de ferocidade a que os romanos darão vazão nas perseguições anticristãs", observa Daniel-Rops, e conclui: "Por muito revoltantes que nos pareçam, essas cenas, de que também os cristãos serão vítimas, eram normais em Roma. E raros, muito raros, eram os assistentes que exteriorizavam a sua desaprovação" 31.

Panem et circenses ficou conhecida como a fórmula ideal para manter a multidão aquietada, atendendo-se também ao seu crescente gosto pelo sangue. Foi, igualmente, uma das causas da deterioração de Roma.

A chaga da pedofilia

Aquilo que a imprensa de hoje denomina de pedofilia era largamente praticado no mundo antigo, ao amparo da lei, por influência das religiões pagãs.

Na Grécia, ocorria como prática legal a corrupção sexual de meninos, mais propriamente chamada de pederastia 32. Todo homem adulto que não fosse escravo tinha o direito de praticá-la. Tal era o costume também na Pérsia e em outros lugares, onde se mantém através dos séculos. Roma acabou sendo contaminada pelo mal grego, a ponto de vários imperadores procurarem por amantes adolescentes 33.

Meninos considerados belos, se fossem feitos prisioneiros de guerra, ou raptados, ou vendidos pelos pais, eram mutilados a fim de alimentar todo um tráfico de eunucos 34. Não escapavam nem mesmo os filhos da nobreza 35.

Na Grécia — Atenas, especialmente —, as vítimas da pederastia não eram apenas os prisioneiros de guerra, os raptados e os escravos. Qualquer menino podia se tornar alvo dos desejos infames de homens adultos. E o costume era que cedesse. Se um pai, dotado de um resto de sensibilidade moral, desejasse poupar essa tragédia aos filhos, tinha de agir antes de ela acontecer,

29 HUBY, J., "A religião dos gregos", in Christus – História das Religiões. São Paulo, Saraiva, 1956, vol. II, p. 514.
30 WEISS, op. cit., p. 658-659.
31 DANIEL-ROPS, op. cit., p. 162.
32 DEMAUSE, Lloyd. Foundations of Psychohistory. New York: Creative Roots, 1982, p 50-53. Conforme mostra o autor, Roma não ficou livre desse problema.
33 É o caso por ex. de Adriano, cujo apego doentio por um menino é romanceado por Marguerite Yourcenar em "Mémoires d’Hadrien".
34 HERODOTUS, op. cit. Book 3, "Thalia", n. 92; Book 8, "Urania", n. 105.
35 Ibid., Book 3, "Thalia", n. 48; Book 6, "Erato", n. 32.

empregando escravos que, como falcões, vigiassem os meninos36. Mas, diz Ésquines, muitos pais desejavam ter belos filhos, sabendo que estes se tornariam alvo de predadores 37.
As escolas — as tão elogiadas Academias — eram locais onde os estudantes, de até 12 anos de idade ou mesmo mais jovens 38, ficavam à mercê dos mestres 39. As leis atenienses chegavam ao absurdo de proteger e incentivar essa prática, inclusive regulando o flerte e o "namoro" entre homens e meninos 40.

Gregos famosos no mundo da literatura, das artes, da filosofia e da política, praticaram e louvaram a pederastia, como Sólon, Ésquilo, Sófocles, Xenofonte, Tucídides, Ésquines e Aristófanes 41.

A filosofia grega chegou a debater essa prática, sem nunca condená-la por completo. Mesmo Sócrates, Platão e Aristóteles não ficaram isentos desse mal 42. Em Charmides, Platão se refere ao adolescente que portava esse nome, como se fosse um enamorado louvando sua amada, falando de suas atrações e das emoções que produzia.
No Simposium, o personagem Fedro se enche de lirismo ao descrever um exército feliz e exitoso inteiramente composto de homens-amantes e meninos-amados 43. Contudo, finalmente atraído por ideias mais elevadas, Platão evoluiu de sua aprovação condicional da pederastia nos seus primeiros diálogos para a condenação formal desse vício no seu trabalho final, Leis. Entretanto, suas tentativas, como as de alguns estoicos, de propor uma pederastia "casta" foram recebidas com sarcasmo pelo povo e ficaram sem resultado. Com efeito, o "amor platônico" é muito difícil de ser praticado, pois em matéria de castidade o homem não consegue ficar permanentemente no meio termo 44.

Os gregos chegaram a considerar o relacionamento natural entre homem e mulher como inferior ao relacionamento entre homem e menino. Numa sociedade na qual esse tipo de comportamento influenciava até o ideal do Estado, a mulher tinha de ser desprezada45, relegada ao papel de mera reprodutora.

Uma obra histórico-filosófica como Erastos, do século II ou III d.C., por muitos atribuída a Luciano de Samósata, traz um diálogo entre dois gregos que discutem seriamente qual amor seria superior... Igualmente, no décimo Diálogo dos Cortesãos, Luciano aborda esse tema.
Plutarco, em Erotikos, analisa, com toda a seriedade, qual a atração — por mulheres ou por meninos — é a mais interessante para um homem adulto. Felizmente, ao contrário de Erastos, conclui que o ideal é realmente o casamento monogâmico.

36 AFARY, Janet; ANDERSON, Kevin B. Foucault and The Iranian Revolution. Chicago: The University of Chicago Press, 2005. p. 148.
37 WOHL, Victoria. Love Among The Ruins: The Erotics of Democracy in Classical Athens. Princeton: Princeton University Press, 2002, p. 6.
38 DEMAUSE, op. cit., p 51. O autor cita Plutarco, que se refere à existência do mesmo mal também em Roma.
39 WOHL, op. cit., p. 150; AFARY, ANDERSON, op. cit., p. 148; MARROU, op. cit., p. 26-37.
40 WOHL, op. cit., p. 226; AFARY, ANDERSON, op. cit., p. 148-149; MARROU, op. cit., p. 31.
41 WOHL, op. cit., p. 87, 226 et passim; AFARY, ANDERSON, op. cit., p. 4, 148. MARROU (op. cit., p. 366), elogia o silêncio de Homero sobre a pederastia, o que constitui uma exceção honrosa entre os escritores de então. Ao que parece, ele "decidiu ignorar uma bem conhecida instituição de sua época".
42 MARROU, op. cit., p. 33.
43 WOHL, op. cit., p. 4.
44 MARROU, op. cit., p. 366.
45 WOHL, op. cit., p. 8, 48; AFARY, ANDERSON, op. cit., p. 144, 145, 150, 151.

Em Roma, também as meninas podiam ser vítimas de abuso sexual. É o que se deduz das palavras de São Justino, em sua Apologia, nas quais vitupera o costume de crianças rejeitadas — meninos e meninas — serem criadas para a prostituição: "E assim como os antigos criavam rebanhos de bois, bodes, carneiros ou cavalos, assim vós agora criais crianças destinadas a esse vergonhoso uso; e para esse uso impuro, uma multidão de mulheres e hermafroditas, e aqueles que cometem iniquidades que nem podem ser mencionadas, se espalham por toda a nação. [...] E há aqueles que prostituem até mesmo seus próprios filhos e mulheres; alguns são abertamente mutilados para serem usados na sodomia" 46.

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Esse é o mundo quando nele não está presente a santa Igreja de Deus. O quadro aqui apresentado, embora não esteja completo, é suficientemente trágico para expor as mazelas da Antiguidade pagã e nos dar uma ideia do choque ocorrido no tempo em que a mensagem do Evangelho começou a exaltar valores opostos, ordenados e santos.

O choque dos valores do Evangelho com os contravalores mundanos

A mensagem de Jesus Cristo veio desequilibrar o carcomido mundo antigo. Ela censurava a libertinagem e a crueldade, e exaltava a liberdade para praticar o bem, a castidade, a virgindade, a inocência, a fidelidade conjugal, o amor aos inimigos, a caridade, a abnegação, a bondade para com os mais fracos, a dignidade de todos os seres humanos, criados à imagem e semelhança de Deus.

Um horror especial ao pecado da pedofilia foi instilado nas almas por nosso Divino Mestre, com palavras de uma extrema severidade: "Se alguém fizer cair em pecado um destes pequenos que creem em mim, melhor fora que lhe atassem ao pescoço a mó de um moinho e o lançassem no fundo do mar" (Mt 18,6).

Ante a sublimidade do Evangelho, o paganismo não conseguiria ficar indiferente. Só lhe restavam duas reações: ou encantar-se e submeter-se ao suave jugo de Deus, ou odiar e perseguir. Não poucos se converteram. Muitos, porém, aferraram-se ao lodo, e seu ódio levou ao martírio milhões de cristãos.

Todavia, o sangue dos mártires começou a ser semente de novos cristãos, segundo a célebre afirmação de Tertuliano47. O espetáculo de homens e mulheres, idosos e idosas, adultos no auge da saúde, jovens vigorosos, virgens, crianças — todos confessando a fé em Jesus Cristo e caminhando resolutos em direção à morte —, arrancava admiração de muitos espectadores, acarretando conversões cada vez mais numerosas.

O paganismo necessitou, pois, lançar mão de outra arma, para tentar reverter o jogo: a difamação e a calúnia. Como observam os Apologistas cristãos daqueles primeiros séculos, os pagãos passaram a acusar os cristãos exatamente dos delitos que o paganismo cometia.

46 JUSTINUS, op. cit, 27: PG 6, 370. Ver tb. DEMAUSE, op. cit., p. 52-53.
47 Apologia, 50,13.


É digno de nota que uma das acusações era a da pedofilia, agravada com incesto48. São Justino comenta: "As coisas que vós fazeis abertamente e com aplauso, [...] dessas mesmas coisas vós nos acusais" 49. E Arnóbio lança ao rosto dos pagãos: "Quão vergonhoso, quão petulante é censurar, em outro, aquilo que o acusador vê que ele mesmo pratica — aproveitar a ocasião para ultrajar e acusar outros de coisas que podem ser retorquidas contra ele mesmo!" 50.
Ou seja, aqueles pagãos faziam como o ladrão que, ao roubar, grita: "Pega ladrão!"

Uma civilização governada pelo Evangelho

A Igreja Católica acabou por vencer, em virtude da força intrínseca do bem. E aos poucos, auxiliada pela graça divina que nunca falha, ela tomou os greco-latinos decadentes e os bárbaros germanos, converteu-os, educou-os e inspirou a edificação de uma brilhante civilização cujo ápice, nunca antes alcançado, ocorreu nos séculos XII e XIII.

Nessa época, segundo diz o Papa Leão XIII, "a filosofia do Evangelho governava os Estados". Então, "a influência da sabedoria cristã e a sua virtude divina penetravam as leis, as instituições, os costumes dos povos, todas as categorias e todas as relações da sociedade civil". Da relação harmoniosa entre o poder religioso e o temporal, "a sociedade civil deu frutos superiores a toda a expectativa, cuja memória subsiste e subsistirá, consignada como está em inúmeros documentos que artifício algum dos adversários poderá corromper ou obscurecer" 51.

Foi nesse tempo que a Igreja desenvolveu a escolástica, edificou as catedrais góticas (com seus vitrais e monumentos), criou as universidades e os hospitais, impulsionou as ciências e o progresso técnico, aperfeiçoou as relações internacionais entre os estados, aboliu a escravidão, fez avançar o progresso social, elevou a condição da mulher, de tal modo que, no século XIV, a Europa havia ultrapassado de muito todos os outros continentes.

Conforme ressalta um estudioso do progresso técnico medieval, naquela época, "pela primeira vez na história se construiu uma civilização complexa que não mais se sustentava nas costas suarentas de escravos ou de servos, mas principalmente na energia não humana" 52.

Quanto mais avançam os estudos históricos e científicos sobre esta matéria, tanto mais vai ficando demonstrada esta verdade, jogando por terra o mito de que a Idade Média foi uma era de atraso e de opressão. A literatura especializada a tal respeito vai se multiplicando 53.

48 MINUCIUS FELIX, Octavius, c. 9; LECLERCQ, Henri, P. Verbete: "Accusation Contre les Chrétiens", in Dictionnaire d’Archéologie Chrétienne et de Liturgie. V. 1, 1e partie. Paris: Letouzey et Ané, 1924. Cols. 274, 275.
49 JUSTINUS, op.cit., c. 27.
50 ARNOBIUS, op. cit., l. 2., n. 70.
51 LEÃO XIII. Encíclica Immortale Dei. 1/11/1885, n. 28.
52 WHITE, Lynn. Medieval Religion and Technology. Berkeley and Los Angeles: University of Los Angeles Press, 1978, p. 22.
53 Ver, p.exe., WOODS, Thomas E. How The Catholic Church Built Western Civilization. Washington, DC: Regnery, 2005; STARK, Rodney. The Victory of Reason. How Christianity Led to Freedom, Capitalism, and Western Sciences. New York: Random House, 2005; PERNOUD, Régine. Pour en finir avec le Moyen Âge. Paris: Seuil, 1977; SWEENEY, Jon M. Beauty Awakening Belief. London: Society for

Por que acusar só a Igreja?

Entretanto, sempre houve minorias inconformes com o domínio da virtude, da verdade e do bem, de modo que, periodicamente, a Igreja se vê vítima de novas investidas.

Um dos procedimentos preferidos continua a ser o de acusar a Igreja precisamente dos delitos que o próprio mundo não se envergonha de cometer. Quais são os maiores destruidores da inocência infantil hoje em dia? Quem promove uma pornografia irrefreável, que não respeita nem idade, nem dignidade, e que incita a todo tipo de crime sexual? Quais os que, de todos os modos, pressionam as escolas para iniciarem as crianças em práticas imorais? Quem impulsiona as mudanças das leis de maneira a abolir a influência cristã e a substituí-la pela do velho paganismo? Eis questões que pedem respostas; eis um tema muito apropriado para um futuro estudo.

Consideremos a acusação de pedofilia. Como afirmam os especialistas, baseados nas pesquisas até agora realizadas, a maior parte desses crimes são cometidos especialmente na própria casa da família, e os abusadores são principalmente os padrastos, seguidos — ó tristeza! — pelos pais, por outros parentes e pelos namorados das parentas das vítimas54. Curiosamente, nunca se
Promoting Christian Knowledge, 2009; JAKI, Stanley L. Patterns or Principles and Other Essays. Wilmington: Intercollegiate Studies Institute, 1995; JONES, Terry. Medieval Lives. London: BBC Books, 2004; GRANT, Edward. God and Reason in The Middle Ages. Cambridge: Cambridge University Press, 2001; LINDBERG, David C. (editor). Science in the Middle Ages. Chicago: University of Chicago Press, 1980.
54 A literatura a esse respeito é abundante. Ver, por ex., CARROLL, Janell L.; WOLPE, Paul Root. Sexuality and Gender in Society. New York: HarperCollins College Publishers, 1996: "Com efeito, ter um padrasto é um dos mais potentes prognósticos de abuso sexual" (p. 553). FINKELHOR, David. "Child Sexual Abuse", in ROSENBERG, Mark L.; FENLEY, Mary Ann (editors). Violence in America. A Public Health Approach. Oxford, New York: Oxford University Press, 1991: "Diversos fatores têm se revelado consistentemente associados com um maior risco de abuso: (1) quando a criança vive sem um dos parentes biológicos, (2) quando a mãe não está sempre ao alcance da criança, em virtude de emprego fora de casa, ou por causa de invalidez ou doença, (3) quando a criança relata que o casamento de seus pais é infeliz ou marcado por conflito, (4) quando a criança informa que tem um relacionamento pobre com seus pais ou é sujeita a castigos ou abuso infantil, (5) quando a criança diz ter um padrasto" (p. 85). Segundo vários estudos, as meninas que vivem com padrasto compõem o grupo de mais alto risco. Por tal razão, Finkelhor, uma conceituada autoridade nesta matéria, pensa que as famílias nas quais há padrasto deveriam ser foco de políticas para prevenir abusos (FINKELHOR, David; and associates. A Sourcebook on Child Sexual Abuse. Newbury Park, CA: Sage Publications, 1986, p. 77-79). No mesmo sentido, a Rádio Vaticano, na edição de 5/4/2010 do Radiogiornale, expressando estranheza pela campanha paradoxal contra a Igreja, lembra que, segundo os dados oficiais, os principais culpados do abuso sexual de crianças não são padres. É o que demonstra um relatório do governo americano, de 2008, segundo o qual "mais de 64% dos abusos são perpetrados por pais, parentes ou outras pessoas que vivem na mesma casa, portanto, no âmbito das relações familiares. Nas escolas do país, quase 10% dos jovens sofrem abusos. No que toca aos sacerdotes católicos envolvidos, estima-se que sejam menos de 0,03%". Estudos recentes realizados em outros países indicam que os dados referentes aos Estados Unidos se repetem, com ligeiras variações, em todo o Ocidente. Uma estatística publicada no "Portal da Criança", da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Humano (SEDH/PB) do Estado da Paraíba, mostra que 90% dos casos de pedofilia ocorrem dentro de casa, sendo que as maiores incidências ocorrem na seguinte ordem: pai, padrasto, irmão, tio, avós, padrinhos e vizinhos (http://crianca.pb.gov.br/contador/?p=479). A revista Veja (18/3/2010, p. 112) informa que, na classe média brasileira, em 37% dos casos de pedofilia, o abusador é o padrasto, e em 34% é o próprio pai. Além disso, nas classes C e D, 74% das vítimas são filhos de pais separados.

viu algum adversário da Igreja pedir um estudo sério sobre a relação entre a desagregação da família, causa principal da existência de milhões de padrastos, e os crimes de pedofilia, nem exigir uma investigação sobre os perigos de se levar, para dentro de casa, namorados, quando ali residem menores.

Apenas de passagem, note-se que a massa dos pedófilos é constituída por homens casados. Também é de notar que todas as religiões têm membros seus envolvidos em casos de pedofilia, e algumas em proporções gigantescas.

Por que, então, levantar uma campanha internacional somente contra a Igreja Católica?

Prova inequívoca da santidade da Igreja

Ressaltemos mais uma vez: foi a Igreja Católica que, sempre fiel aos ensinamentos de seu Fundador, fez cessar no Ocidente a prática da pedofilia e inspirou horror a ela.

Portanto, quem ataca a Igreja a esse propósito está utilizando, contra ela, um valor a ela pertencente, e está implicitamente reconhecendo que ela é inatacável a partir dos contravalores do mundo.

Ou seja, os próprios adversários estão fornecendo a prova de que a Igreja Católica Apostólica Romana é substancialmente santa.

A Igreja Católica censura o mundo, porque este é corrompido. Ela requer um alto padrão de comportamento, casto e puro. E a feroz e cerrada investida dos inimigos injustamente consiste em procurar acusá-la de não praticar a moral que ela mesma implantou na sociedade. A isto se reduz a atual campanha publicitária, no tocante à pedofilia.

Mas como fazer para atingir a Igreja pelas faltas de uma minoria de seus membros? Um dos estudos mais autorizados sobre o problema da pedofilia, de Philip Jenkins, analisa as técnicas jornalísticas usadas para enfatizar, não os delitos de indivíduos que por acaso são padres, mas o contexto institucional como dando origem ao comportamento deles 55. Utilizam-se títulos sugestivos, jogos de palavras, termos bem estudados, como, por exemplo, dar a um livro o chamativo nome de: "E não nos deixeis cair em tentação". Por sua vez, programas de televisão sobre os casos de pedofilia colocam, como fundo de quadro, cerimônias litúrgicas, música gregoriana, sacerdotes de batina, de modo a ficar estigmatizada a Igreja como um todo e a se fazer uma associação visual entre aquilo que é distintamente católico com o estereótipo de padres lascivos e cínicos 56.

Ora, médicos, professores, enfermeiros e outros profissionais aparecem em alto número entre os perpetradores de crimes de pedofilia 57, mas quem vai chegar ao absurdo de acusar todos os membros dessas categorias e a denegrir uma classe inteira pelos crimes de uma minoria?

No entanto, assim se procede no caso dos sacerdotes católicos. O choque que o delito sexual de um padre causa na opinião pública — choque justificado, porque a Igreja Católica é a única insti

55 JENKINS, Philip. Pedophiles and Priests: Anatomy of a Contemporary Crisis. Oxford, New York: Oxford University Press, 1996, p. 55.
56 Ibid., p. 56.
57 Ibid., p. 126-128.

tuição da qual se espera que seus membros sejam de uma pureza sem mancha, bem como que seus sacerdotes sejam santos — os adversários sabem explorar.

A santidade substancial da Igreja

Resta perguntar como pode a Igreja manter-se santa ante as evidências de que alguns padres cometem esses graves delitos.

Na realidade, o argumento mais forte contra a Igreja Católica sempre foi a vida dos maus católicos. Contudo, não nos pode surpreender que na Igreja de Cristo haja membros indignos. O próprio Jesus comparou sua Igreja à rede que apanha maus e bons peixes (cf Mt 13, 47-50); ao campo onde o joio cresce entre o trigo (cf Mt 13, 24-30); à festa de casamento, para a qual um dos convivas se apresenta sem a veste nupcial (cf Mt 22, 11-14) 58.

Não obstante, a Igreja será sempre sem mancha, como ressalta São Paulo: "Cristo amou a Igreja e se entregou por ela, para santificá-la, purificando-a pela água do batismo com a palavra, para apresentá-la a si mesmo toda gloriosa, sem mácula, sem ruga, sem qualquer outro defeito semelhante, mas santa e irrepreensível" (Ef 5, 25-27).

Não acontece o mesmo com as outras instituições terrenas. Sendo meramente humanas, as falhas de seus integrantes podem desdourá-las. A Igreja é a única que tem uma dimensão divina. Por isso, apesar das faltas de sua dimensão humana, sua substância permanece sempre pura. Ela é santa, porque santo é seu Fundador: é a imaculada Esposa de Cristo. Só os homens da Igreja são pecadores, mas a Santa Madre Igreja não pode pecar.

Ela "é santa", ressalta Paulo VI, "não obstante compreender no seu seio pecadores, porque ela não possui em si outra vida senão a da graça: é vivendo da sua vida que os seus membros se santificam; e é subtraindo-se à sua vida que eles caem em pecado e nas desordens que impedem a irradiação da sua santidade" 59. Portanto, para qualquer membro da Igreja, incluindo os pertencentes ao clero, aplica-se esta regra: eles somente caem quando diminuem seu amor à Igreja e relaxam em seu compromisso para com ela.

"Nessa perspectiva", diz-nos o Cardeal Biffi, Arcebispo emérito de Bologna, "torna-se claro que toda nossa culpa — pequena ou grande — não constitui apenas infidelidade ao amor que nos liga ao Pai, menoscabo pela obra redentora de Cristo, resistência à ação santificante do Espírito Santo; é ademais ultraje e sofrimento infligidos à Igreja. Toda incoerência com nosso batismo é sempre ingratidão para com aquela que, no batismo, nos gerou, é atentado contra sua beleza de Esposa do Senhor; beleza que, aos olhos humanos, fica ofuscada por nosso ato reprovável. [...] Mas nós, pelo menos, embora pequemos quase como eles, habituamo-nos a pedir perdão diariamente a essa nossa Mãe caríssima por tudo o que nos ocorre de pensar, dizer e fazer com ânimo não integralmente ‘eclesial’" 60.

Os pecadores não pertencem à Igreja por seus pecados, diz o Cardeal Journet, "mas por aqui

58 TRESE, Leo J. A fé explicada. São Paulo: Quadrante, 2007. p. 147-148.
59 PAULO VI. Sollemnis Professio Fidei, 19: AAS 60 (1968) 440.
60 BIFFI, Cardinale Giacomo. Meditazione Gesú di Nazareth, la fortuna di appartenergli. Giubileo Diocesano dei Catechisti, Cattedrale di San Pietro, Bologna, 29/10/2000.

lo que ainda há neles de dons de Deus, pelos caracteres sacramentais, a fé, a esperança teologal, suas orações, seus remorsos. Eles estão como que vinculados aos justos. Encontram-se na Igreja provisoriamente para serem um dia, ou definitivamente reintegrados, ou separados dela. Estão na Igreja não de uma maneira salvífica, mas como paralisados naquilo que diz respeito às suas atividades mais altas e decisivas" 61.

Claro está que a Igreja "não expele os pecadores de seu próprio seio, mas só seu pecado; continua a mantê-los em si na esperança de poder convertê-los. Luta neles contra o pecado que cometeram" 62.

Ressaltando a santidade da Igreja, que não se mancha nunca pelos pecados de seus filhos, o Cardeal Journet chama a atenção para sua íntima relação com cada uma das três Pessoas da Santíssima Trindade: desde toda eternidade, a Igreja Católica é conhecida e querida pelo Pai. É fundada por seu Filho, que veio para nos remir pela cruz. E é vivificada pelo Espírito Santo, que veio para estabelecer, nela, sua morada. "A Igreja inteira aparece, assim, como o povo reunido à imagem da unidade do Pai e do Filho e do Espírito Santo, de unitate Patris et Filii et Spiritus Sancti plebs adunata" 63.

A relação da Mãe de Deus com a Santa Igreja é outro fator de santidade. O conhecimento da verdadeira doutrina sobre Maria será sempre uma chave para compreender o mistério de Cristo e o da Igreja. A santidade de Nossa Senhora se reflete na Igreja, sua virgindade, sua pureza, sua disponibilidade em relação à vontade de Deus. Também os anjos do céu e os bem-aventurados conservam a Igreja na santidade, enobrecendo o culto que ela presta a Deus 64.

Todas as obras da Igreja têm por finalidade a santificação dos homens em Cristo e a glorificação de Deus65. Entretanto, ela não poderia realizar essa finalidade se não fosse santa. Assim, mesmo que nesta terra seja governada e composta por pecadores, ela é indefectivelmente santa, conforme provam os frutos abundantes de santificação que tem produzido66. Um possante sinal dessa santidade é a observância voluntária dos conselhos evangélicos, pelo qual centenas de milhares de homens e mulheres renunciam a tudo o que poderiam ter de legítimo nesta vida — família, posses, liberdade de decidir o que fazer — para imitar totalmente a Cristo Jesus 67.

A Igreja tem a coragem de exigir de todos os seus filhos o combate contra o pecado. Muitas almas dizem "sim" a esse apelo, porém, em geral, o bem que praticam fica escondido. O mal, neste mundo, conta com uma publicidade bastante maior, pois sua petulância solicita a atenção de todos. Seja como for, homens e mulheres de extraordinária santidade nunca faltaram à Igreja68, e é como instrumento de santificação que ela passa por uma contínua renovação 69.

61 JOURNET, Charles. Il mistero della Chiesa secondo il Concilio Vaticano II. Brescia: Queriniana, 1967, p. 84-85.
62 Ibid., p. 85.
63 Ibid., p. 31. Ver tb. CONCILIO VATICANO II, Lumen Gentium, n.4.
64 JOURNET, op. cit., p. 91-95.
65 CONCÍLIO VATICANO II. Sacrossantum Concilium, n. 10.
66 ARANGÜENA, José Ramón Pérez. A Igreja. Iniciação à eclesiologia. Lisboa: Diel, 2002. p. 110.
67 JOURNET, op. cit., p. 89.
68 KEMPF, Constantino. A santidade da Igreja no século XIX. Porto Alegre: Barcellos, Bertaso & Cia., 1936. p. 11-12.
69 CONCÍLIO VATICANO II. Lumen Gentium, n. 15.


Constitui, pois, um grande equívoco propor modificações na estrutura eclesial. "Quando o valor do compromisso sacerdotal é questionado como entrega total a Deus através do celibato apostólico e como disponibilidade total para servir às almas", assinalava Bento XVI em sua vinda ao Brasil, "dando-se preferência às questões ideológicas e políticas, inclusive partidárias, a estrutura da consagração total a Deus começa a perder o seu significado mais profundo. Como não sentir tristeza em nossa alma?" 70

Um pastor solícito para com seu rebanho

Alguns jornais têm tentado implicar o Papa Bento XVI na ocultação de crimes, no tempo em que ele era prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, e certas vozes estridentes chegam ao ponto de propor sua prisão.

A nosso ver, esse é o maior erro do adversário na atual campanha contra a Igreja. Sua insolência é o que mais tem causado geral indignação, contribuindo até mesmo para despertar e afervorar os católicos adormecidos.

A injustiça dos acusadores ainda se mostra mais flagrante quando, indo-se aos fatos, constata-se que foi Bento XVI, já quando era Cardeal, quem mais agiu para erradicar o problema, zelo esse que se acentuou ao ocupar a Cátedra de Pedro.

É emblemática a Carta Pastoral que, pouco antes da Páscoa, ele enviou aos católicos irlandeses, para ser lida em todos os púlpitos do país. Num gesto sem precedentes, o Santo Padre pedia perdão diretamente às vítimas e às suas famílias, expressando sua profunda desolação pelos "atos pecaminosos e criminosos" dos abusadores.
Dirigindo-se aos bispos, ressaltava os "graves erros de juízo" e a "falta de governo" por parte da Hierarquia. Por fim, sublinhava que a Igreja se pôs a trabalhar com afinco para corrigir e remediar o mal que foi feito.

Ressalte-se igualmente que, em maio de 2001, o então Cardeal Ratzinger enviou uma carta aos bispos, ordenando que lhe encaminhassem todas as acusações, contra clérigos, fossem velhas ou novas. Com essa iniciativa, a Santa Sé chamava a si a investigação dos abusos e a punição dos culpados. A partir daí, vários acusados tiveram de enfrentar um processo canônico completo, muitos foram demitidos do estado clerical, ou então demitiram-se voluntariamente, enquanto outros sofreram punições administrativas e disciplinares, incluindo a proibição de celebrar missa.
Contrariamente ao que certas fontes têm propalado, a referida carta não proibia a ninguém de comunicar-se com a polícia para denunciar eventuais abusos.
Na verdade, os Bispos pelo mundo afora — como nos Estados Unidos, Inglaterra e Canadá — já vinham adotando o procedimento de comunicar-se com as autoridades policiais, tão logo houvesse a confirmação de algum caso.

De outro lado, o Vaticano tem editado normas que tornam rigorosa a seleção dos candidatos ao seminário. Ademais, vem levando a cabo iniciativas como o Ano Sacerdotal, ainda em curso, e o Congresso Teológico Internacional, realizado em Roma no último mês de março, visando à renovação do clero e à remoção de conceitos errôneos sobre o sacerdócio, causados por uma "hermenêutica da descontinuidade e da ruptura"71 em face do Concílio Vaticano II.

70 BENTO XVI. Discurso. Encontro com os Bispos do Brasil, Catedral da Sé, São Paulo, 11/5/2007.
71 BENTO XVI, Discurso à Cúria Romana, 22/12/2005.

Esperamos que essas brisas de renovação tragam um pouco de consolo para as vítimas dos horríveis delitos cometidos por homens que, como representantes de Deus, deveriam ser os primeiros protetores das crianças e dos jovens. Delas nos condoemos e compartilhamos seus sofrimentos e suas desilusões, oferecendo por eles nossas orações. Aliás, a tragédia que os envolveu nos leva, uma vez mais, a recordar com dor aquelas incontáveis crianças que, na Antiguidade, foram vítimas do cruel paganismo.

De cada perseguição, a Igreja sai fortalecida

Haja o que houver, contemplando a sua própria história, a Igreja Católica pode dizer com Cícero: "Alios vidi ventos, alias prospexi animo procellas" 72.

Como das investidas anteriores, ela sairá ainda mais forte da atual refrega. Incontáveis reações pelo mundo afora já antecipam tal desfecho.
Na Irlanda e na Espanha, as igrejas se encheram, durante a Semana Santa, como há muitos anos não ocorria. Nos Estados Unidos, na Inglaterra e em outros países do Ocidente, o número de conversões aumentou. Vários jornalistas, muitos dos quais não católicos, tomaram a defesa da Igreja. Será preciso lembrar que as perseguições são indispensáveis para o alcandoramento da Esposa de Cristo? E também para a sua renovação? Com efeito diz São Paulo: "Nam oportet et hereses esse ut et qui probati sunt manifesti fiant in vobis" ("É necessário que entre vós haja heresias para que possam manifestar-se os que são realmente virtuosos". 1 Cor 11,19).

Para destacar a perenidade da Igreja Católica Apostólica Romana, Santo Agostinho nos deixou esta sábia reflexão: "A Igreja vacilará, se vacilar seu fundamento. Mas pode Cristo vacilar? Visto que Cristo não vacila, a Igreja permanecerá intacta até o fim dos tempos" 73.

Lembremo-nos de que "Deus é o Senhor do mundo e da história" 74.
Foi Ele mesmo quem decretou que "as portas do Inferno" não prevaleceriam contra a sua Igreja (Mt 16,18).
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Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP, é Cônego Honorário da Basílica Papal de Santa Maria Maior, de Roma, Protonotário Apostólico Supranumerário, Doutor em Direito Canônico pelo Angelicum, Mestre em Psicologia da Educação pela Universidade Católica da Colômbia, Doutor Honoris Causa pelo Centro Universitário Ítalo-Brasileiro, Membro da Sociedade Internacional São Tomás de Aquino (SITA) e da Pontifícia Academia da Imaculada, Fundador e Superior Geral de três entidades de Direito Pontifício: Associação Internacional de Fiéis Arautos do Evangelho, Sociedade Clerical de Vida Apostólica Virgo Flos Carmeli e Sociedade de Vida Apostólica Regina Virginum.

72 "Vi outros ventos e enfrentei sem temor outras tempestades" (In L. Calpurnium Pisonem, oratio, 9).
73 Enarrationes in Psalmos, 103,2,5; PL, 37, 1353.
74 Catecismo da Igreja Católica, n. 314.

terça-feira, 20 de abril de 2010

CARDEAL ŠPIDLÍK: UM HOMEM LIVRE QUE VIVEU COM TODO CORAÇÃO AMIZADE COM CRISTO

PAPA NAS EXÉQUIAS DO CARDEAL ŠPIDLÍK: UM HOMEM LIVRE QUE VIVEU COM TODO CORAÇÃO AMIZADE COM CRISTO

Cidade do Vaticano, 20 abr (RV) - Uma vida inteira vivida segundo o mandamento do amor: Bento XVI traçou com essas palavras o caminho terreno do Cardeal Tomáš Špidlík, cujas exéquias foram celebradas na manhã desta terça-feira na Basílica Vaticana.
Ao término da missa celebrada pelo Decano do Colégio cardinalício, Cardeal Angelo Sodano, o Papa pronunciou a homilia e presidiu os ritos exequiais da Última Encomendação e despedida. O Santo Padre ressaltou a semelhança entre o purpurado tcheco falecido sexta-feira passada, dia 16, e João Paulo II.

"Durante toda a vida busquei a face de Jesus, e agora me encontro feliz e sereno porque estou para encontrá-lo": essas palavras foram uma das últimas pronunciadas pelo Cardeal Špidlík, recordou Bento XVI, acrescentando que esse é um pensamento "simples" e "maravilhoso".

O Papa ressaltou a correspondência entre o desejo do homem de ver a face do Senhor, e de Jesus que pede ao Pai que faça de modo que os homens estejam com ele.

Trata-se de "uma espécie de abraço seguro, forte e doce" rumo à vida eterna – frisou o Pontífice:"Penso que os grandes homens de fé vivem imersos nesta graça, têm o dom de perceber esta verdade com particular intensidade, e assim podem atravessar também duras provações, como as atravessou Pe.

Tomás Špidlík, sem perder a confiança e, aliás, conservando um forte sentido do humorismo, que é certamente um sinal de inteligência, mas também de liberdade interior.

"Nesse aspecto, "era evidente a semelhança" entre o Cardeal Tomáš Špidlík e Karol Wojtyla: "Ambos tinham um forte sentido do humorismo, mesmo tendo tido na juventude episódios pessoais difíceis e em alguns aspectos semelhantes. A Providência os fez encontrar-se e colaborar para o bem da Igreja, especialmente para que ela aprenda a respirar plenamente "com os seus dois pulmões", como amava dizer o Papa eslavo."

"Essa liberdade de espírito tem o seu fundamento objetivo na Ressurreição de Cristo", observou o Santo Padre. E reiterou que "a esperança e a alegria de Jesus Ressuscitado são também a esperança e a alegria de seus amigos, graças à ação do Espírito Santo": "É o que demonstrava habitualmente Padre Špidlík com o seu modo de viver, e esse seu testemunho se tornava sempre mais eloquente com o passar dos anos, porque, apesar da idade avançada e dos inevitáveis achaques, o seu espírito permanecia viçoso e juvenil. O que é isso a não ser amizade com o Senhor Ressuscitado?"

"Ex toto corde", "Com todo o coração".

Em seguida, o Papa dirigiu seu pensamento ao lema presente no brasão do Cardeal Špidlík:"Escolhendo esse lema, o nosso venerado Irmão, por assim dizer, colocava a sua vida no mandamento do amor, a inscrevia totalmente no primado de Deus e da caridade."

"O homem que acolhe plenamente, ex toto corde, o amor de Deus, acolhe a luz e a vida, e torna-se, por sua vez, luz e vida na humanidade e no universo" – disse ainda. "Mas quem é esse homem? Quem é esse coração do mundo a não ser Jesus Cristo?" "Ele é a Luz e a Vida" – ressaltou Bento XVI.

O Santo Padre recordou que o Cardeal Špidlík era membro da Companhia de Jesus, "isto é, um filho espiritual de Santo Ignácio, o Santo que coloca no centro da fé e da espiritualidade a contemplação de Deus no mistério de Cristo".

Nesse símbolo do coração, "Oriente e Ocidente se encontram" – acrescentou.

O Pontífice concluiu a homilia com uma invocação à Virgem Maria, a fim de que o purpurado possa, finalmente, ver a Face do Senhor: "A Virgem Mãe de Deus acompanhe a alma do nosso venerado Irmão no abraço da Santíssima Trindade, onde "com todo o coração" louvará eternamente o seu infinito Amor." (RL)

Fonte: RV

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Cardeal Špidlík, perito em espiritualidade cristã oriental

Leonardo MeiraDa Redação, com Bollettino della Sala Stampa della Santa Sede (tradução de CN Notícias) e agências krajane.radio.cz

O Cardeal Tomáš Špidlík, falecido aos 90 anos
O Cardeal jesuíta Tomáš Špidlík faleceu na tarde desta sexta-feira, 16, aos 90 anos.Bento XVI enviou um telegrama de condolências ao Propósito Geral da Companhia de Jesus, padre Adolfo Nicolás Pachón, destacando "a sólida fé, a paterna afabilidade e o intenso trabalho cultural e eclesial, especialmente aquele grande conhecimento da espiritualidade cristã oriental" manifestados na vida do Cardeal.


As Exéquias do jesuíta acontecem no Altar da Cátedra da Basílica Vaticana, na terça-feira, 20, a partir das 11h30min (em Roma - 6h30min no horário de Brasília), segundo informou o Departamento de Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice.A Santa Missa será presidida pelo Decano do Colégio Cardinalício, Cardeal Angelo Sodano, e concelebrada com os Senhores Cardeais. No final da celebração, Bento XVI destinará Sua palavra aos presentes e presidirá o rito da Ultima Commendatio e da Valedictio.Saiba maisŠpidlík nasceu na Tchecoslováquia (atual República Tcheca) em 17 de dezembro de 1919 e foi criado Cardeal por João Paulo II em 2003. Embora não tivesse direito a voto (por ter mais de 80 anos), sua elevação à dignidade cardinalícia foi um reconhecimento a seu amplo trabalho de escritos teológicos.O Cardeal também atuou na Rádio Vaticano; seus programas eram transmitidos para além da Cortina de Ferro (em referência ao período em que o Leste Europeu foi tomado por regimes comunistas) e foram uma preciosa ajuda para a liberdade, em risco de ser lenta mas inexoravelmente sufocada.Em 1955, ele defendeu sua tese de doutorado no Pontifício Instituto Oriental de Roma, marco do início de sua trajetória universitária como professor de Patrística e Teologia Espiritual Oriental em várias universidades, tanto em Roma como ao redor do mundo, tornando-se um dos maiores especialistas na espiritualidade do Cristianismo Oriental.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

DEPOSITAR NOSSA CONFIANÇA SOMENTE EM DEUS

PAPA EM MALTA: DEPOSITAR NOSSA CONFIANÇA SOMENTE EM DEUS


Floriana, domingo, 18 abr (RV) -


"Em todos os momentos da nossa vida, dependemos totalmente de Deus." Palavras pronunciadas esta manhã, por Bento XVI, na homilia da missa celebrada na Praça dos Celeiros, na cidade de Floriana, Malta, país onde se encontra desde a tarde de ontem, em sua 14ª viagem internacional.Diante de 50 mil fiéis, o Papa falou das tradições maltesas e citou os muitos viajantes que passaram por Malta, entre os quais São Paulo, e o caloroso acolhimento dos habitantes da Ilha, que, assim como o Apóstolo, Bento XVI pôde experimentar pessoalmente. "A riqueza e a variedade da cultura maltesa são um sinal que o seu povo recebeu muito do intercâmbio de dons e hospitalidade com os viajantes provenientes do mar. E é significativo que vocês souberam exercitar o discernimento para melhor individuar o que eles tinham para oferecer" – afirmou Bento XVI, exortando a população a continuar a fazer o mesmo. Nem tudo o que o mundo propõe hoje merece ser acolhido, advertiu o pontífice. Muitas vozes procuram nos convencer a deixar de lado a nossa fé em Deus e na sua Igreja e de escolher, nós mesmos, os valores e as crenças com as quais viver. Quando isso acontece, acrescentou, devemos nos recordar do episódio do Evangelho de hoje, quando os discípulos, todos pescadores experientes, não consequem pescar sequer um peixe – situação que muda com a presença de Jesus."Meus queridos irmãos e irmãs, se depositamos a nossa confiança no Senhor e seguimos os seus ensinamentos, colheremos sempre inúmeros frutos."A seguir, comentando a primeira leitura da Missa, ou seja, a narração do naufrágio de Paulo na costa de Malta, o Papa destacou a exortação do Apóstolo, quando pede aos tripulantes que depositem sua confiança somente em Deus, em meio às ondas agitadas do mar. A respeito, o Santo Padre afirmou:"Também nós devemos depositar a nossa confiança somente n'Ele. Tentou-se pensar que a tecnologia avançada de hoje possa responder a todos os nossos desejos e nos salvar dos perigos que nos assediam. Mas não é assim. Em todos os momentos da nossa vida, dependemos totalmente de Deus, no qual vivemos, nos movemos e temos a nossa existência." Mais do que qualquer carga que possamos levar conosco – acrescentou –, é a nossa relação com o Senhor que fornece a chave da nossa felicidade e da nossa realização humana. E Ele nos chama a uma relação de amor. Na pergunta que Jesus dirige a Pedro na margem do lago: "Simão, tu me amas?", e na resposta afirmativa de Pedro, se sintetiza o fundamento de todo ministério pastoral na Igreja. "É o nosso amor pelo Senhor que deve plasmar todos os aspectos da nossa pregação e ensinamento, da celebração dos sacramentos, e o nosso cuidado pelo povo de Deus. É o nosso amor pelo Senhor que nos leva a amar aqueles que Ele ama, e a aceitar com alegria a tarefa de comunicar o seu amor àqueles que servimos." Dirigindo-se aos malteses, o Papa pede que eles preservem a fé e os valores que lhes foram transmitidos pelo Apóstolo São Paulo, repassando a seus filhos e aos imigrantes e visitantes: "Recordem-se que o intercâmbio de bens entre essas ilhas e o resto do mundo é um processo com dois caminhos. Aquilo que recebem, analisem com cuidado, e o que vocês possuem de valor, saibam compartilhar com os demais".Por fim, Bento XVI dirigiu uma palavra especial aos sacerdotes, recordando que sua missão é verdadeiramente um serviço à alegria, à alegria de Deus que quer entrar no mundo. (BF)


Fonte: RV

domingo, 18 de abril de 2010

CINCO ANOS DE PONTIFICADO DO PAPA BENTO XVI

RELEMBRANDO OS CINCO ANOS DE PONTIFICADO




O Senhor nos ajudará e Maria, sua Mãe, estará conosco

Queridos irmãos e irmãs, após o grande Papa João Paulo II, os Senhores Cardeais elegeram-me, a mim, um humilde e simples operário da Vinha do Senhor. Consola-me saber que Deus sabe trabalhar e agir também com instrumentos insuficientes. E antes de tudo, conto com vossas orações. Na alegria do Senhorressuscitado, confiantes em seu permanente auxílio, devemos seguir adiante. O Senhornos ajudará e Maria, sua Mãe, estará conosco."

(Palavras de Bento XVI ao dar a primeira bênção aos seus filhos de todo o orbe)

HABEMUS PAPAM!

Bento XVI sucede a João Paulo II na Cátedra de Pedro
"Meu real programa de governo é não fazer minha própria vontade, não seguir minhas próprias idéias, mas ouvir, junto com toda a Igreja, a palavra e a vontade do Senhor, para ser guiado por Ele, de modo que Ele mesmo guie a Igreja nesta hora de nossa História". Assim se exprimiu o Santo Padre Bento XVI na homilia da Missa inaugural de seu pontificado, na Praça de São Pedro.
José Messias Lins Brandão

Bastariam estas sábias palavras do novo Papa para mostrar o acerto dos Cardeais que o elegeram para Supremo Pastor do rebanho de Cristo.

Como se comentou naqueles breves dias em que a Cátedra de Pedro permaneceu sem ocupante, os Cardeais ficaram impressionados pelo modo de o então Cardeal Ratzinger conduzir os assuntos eclesiásticos. E o Sacro Colégio soube ser rápido e vigilante, não deixando o timão da barca de Pedro sem piloto. Ainda ressoavam pelo orbe terrestre as palavras "morreu o Papa", quando passamos a ouvir os ecos da proclamação "Habemus Papam!"
No amor a Cristo está a força do Papa

A atitude do então Cardeal Ratzinger durante a Missa dos funerais de João Paulo II, no dia 8 de abril, causou uma primeira impressão favorável não só entre os Cardeais, mas também entre todos aqueles que o viram, ou presentes na Praça de São Pedro, ou colados às telas de televisão em todos os recantos da terra. Vislumbrava-se uma certa aura em torno dele, como vários comentaristas assinalaram na ocasião. Talvez fosse já um sopro do Espírito Santo para mostrar ao mundo quem seria o próximo Papa.

Especialmente notadas foram as palavras de sua homilia, na qual, referindo- se ao chamado de Cristo a João Paulo II, mostrou como, para ele, no cerne do Papado está uma renúncia radical e um amor sem limites a Cristo, cabeça da Igreja:
"‘Segue-me!' Em outubro de 1978, o Cardeal Wojtyla ouviu de novo a voz do Senhor. Renova-se o diálogo com Pedro, narrado no Evangelho desta celebração: ‘Simão, Filho de João, tu Me amas? Apascenta as minhas ovelhas!' À pergunta do Senhor: ‘Karol, tu Me amas?', o Arcebispo de Cracóvia respondeu do fundo do seu coração: ‘Senhor, tu sabes tudo, sabes que te amo'. O amor de Cristo foi a força dominante do nosso amado Santo Padre; quem o viu rezar, quem o ouviu pregar, bem o sabe. E assim, graças a este profundo enraizamento em Cristo, pôde carregar um peso que vai além das forças meramente humanas: ser pastor do rebanho de Cristo, da sua Igreja universal."

Devemos ter uma fé adulta

Entretanto, segundo grande parte dos analistas, o que parece ter decidido a eleição de Bento XVI foi sua homilia na Missa do dia 18, na abertura do Conclave, quando ele tratou com coragem e discernimento dos males que a Igreja tem de enfrentar em nosso tempo.
Comentando a carta de São Paulo aos Efésios, o então Cardeal Ratzinger afirmou ver "a maturação da fé e o conhecimento do Filho de Deus como condição e conteúdo da unidade no Corpo de Cristo".

No que consiste essa maturação da fé? Que jornada devemos encetar em direção à "maturidade de Cristo"? Devemos ser adultos na fé, foi a resposta do futuro Papa.

Não podemos permanecer menores de idade, tendo uma fé apenas infantil. E no que consiste ter uma fé infantil? - perguntou ele. E, tomando as palavras de São Paulo, respondeu que ter uma fé infantil significa "ser batidos pelas ondas e levados por qualquer vento de doutrina" (Ef 4,14).
"Uma descrição muito atual!" - exclamou Joseph Ratzinger.

Continuando sua penetrante e ponderada análise do grande problema de nossos dias, ele afirmou sem rodeios: "Quantos ventos de doutrina conhecemos nas últimas décadas, quantas correntes ideológicas, quantos caminhos de pensamento! O pequeno barco do pensamento de muitos cristãos tem sido com freqüência - batido por essas ondas - jogado de um extremo ao outro: do marxismo ao liberalismo, e até à libertinagem; do coletivismo ao radical individualismo; do ateísmo a um vago misticismo religioso; do agnosticismo ao sincretismo, e assim por diante.

A cada dia surgem novas seitas, e o que São Paulo diz sobre o engano humano e a astúcia que procura seduzir o povo para o erro (cf. Ef 4,14) torna-se realidade".

Ditadura do relativismo

Indo ainda mais a fundo no seu diagnóstico sobre os males de nosso tempo, Joseph Ratzinger apontou, quiçá, o supremo embuste do mundo presente: "Hoje em dia, ter uma fé baseada no Credo da Igreja é freqüentemente rotulado de fundamentalismo, ao passo que o relativismo, quer dizer, deixar- se levar para cá e para lá, e levar-se por qualquer vento de doutrina, parece ser a única atitude à altura dos tempos modernos".

E o futuro Papa denunciou então o grande perigo para a Igreja: "Estamos construindo uma ditadura do relativismo que não reconhece nada como definitivo e cujo último objetivo consiste unicamente no próprio ego e nos próprios desejos".

No fim de sua homilia, podia ele afirmar sem hesitação, e sem receio de ser contestado:
"Uma fé adulta não é uma fé que segue as tendências da moda e a última novidade; uma fé madura está profundamente enraizada na amizade com Cristo. Esta amizade é que nos abre para tudo o que é bom e nos dá um critério pelo qual podemos distinguir entre o verdadeiro e o falso, entre o engano e a verdade."

Um só rebanho e um só Pastor

Na primeira mensagem após sua eleição, ao fim da Missa do dia 20, na Capela Sistina, o Santo Padre Bento XVI mostrou como, desde que ficou público o súbito agravamento da saúde de João Paulo II, vivemos "um tempo extraordinário de graça", que podia-se observar na "onda de fé, de amor e de espiritual solidariedade, que teve o ponto mais alto nas suas solenes exéquias".

O novo Papa constatava, assim, essa alvissareira novidade que assinalamos em nosso Editorial: graças excepcionais derramadas em abundância sobre o mundo. E ele continuava a falar desse fenômeno, dizendo: "Os funerais de João Paulo II foram uma experiência verdadeiramente extraordinária na qual se sentiu de certa forma o poder de Deus que, através da sua Igreja, deseja formar, de todos os povos, uma grande família, mediante a força unificadora da Verdade e do Amor".

Expressando-se desse modo, Bento XVI estava indicando uma das tarefas que considera prioritárias para seu pontificado: conseguir refazer aquela união entre os cristãos que existiu um dia, trazendo para o rebanho da Igreja de Cristo todas as ovelhas que dela devem fazer parte.
Retomou ele o tema na homilia do dia 24, quando comentou o simbolismo do pallium, feito de lã de cordeiro. Lembrou a parábola da ovelha desgarrada, socorrida pela solicitude do pastor, que vai ao seu encalço mesmo à custa de muito sofrimento.

Bento XVI exprimiu seu desejo de seguir nas vias do Bom Pastor, pedindo- nos: "Rezem por mim, para que eu possa aprender a amar cada vez mais o Senhor. Rezem por mim, para que eu aprenda a amar esse rebanho cada vez mais, em outras palavras, vós, a Santa Igreja, cada um de vós e todos vós juntos. Rezem por mim para que eu não fuja de medo dos lobos".

Em seguida traçou em poucas palavras, com clareza, o programa de um ecumenismo autêntico e bem definido para seu pontificado, ao repetir com Jesus: "Tenho outras ovelhas que não são deste rebanho; devo também trazêlas, e elas ouvirão a minha voz; e haverá um só rebanho e um só pastor" (Jo 10,16).

Fazer resplandecer aos olhos do mundo a luz de Cristo

Muito comovido, na homilia da Missa de 20 de abril, Bento XVI referiu- se àquele episódio no qual Jesus constituiu o Papado: "Nestas horas penso de novo em tudo o que aconteceu na região de Cesaréia de Filipe, há dois mil anos. Parece que ouço as palavras de Pedro: Tu és Cristo, o Filho de Deus vivo, e a solene afirmação do Senhor: Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja (...) dar-te-ei as chaves do Reino do Céu".

Podemos medir o que ia na alma do Santo Padre, percorrendo suas vibrantes palavras na mesma homilia: "Tu és o Cristo! Tu és Pedro! Pareceme reviver a mesma cena evangélica; eu, Sucessor de Pedro, repito com estremecimento as palavras vibrantes do pescador da Galiléia e ouço novamente com íntima emoção a promessa tranqüilizante do divino Mestre. Se é enorme o peso da responsabilidade que recai sobre os meus pobres ombros, é certamente desmedido o poder divino com o qual posso contar".

E o Santo Padre, numa demonstração de inteira e serena consciência de sua missão universal, sabendo que os olhos de bilhões de pessoas no mundo inteiro se voltam agora para ele, expressou- se sem ambigüidade: "O Senhor quis-me para seu Vigário, quis-me pedra sobre a qual todos possam apoiarse com segurança. Peço-Lhe que auxilie a pobreza das minhas forças, para que eu seja corajoso e fiel Pastor do seu rebanho, sempre dócil às inspirações do seu Espírito".

O Papa Bento XVI tinha ainda frescas na memória as imagens daquela imponente manifestação quando da morte e dos funerais de João Paulo II, e recordou como "em volta dos seus despojos mortais, colocados na terra nua, reuniram- se os Chefes das Nações, pessoas de todas as camadas sociais, e sobretudo jovens, num inesquecível abraço de afeto e de admiração".
E sua conclusão - da qual todo católico participa de alma inteira -, em termos densos de esperança e de certeza na força da Santa Igreja Católica, foi expressa do seguinte modo: "Pareceu a muitos que aquela intensa participação, amplificada até os confins do planeta pelos meios de comunicação social, fosse como um pedido de ajuda dirigido ao Papa pela humanidade de hoje que, perturbada por incertezas e temores, se interroga sobre o seu futuro".

E eis que vemos o Santo Padre, como o Bom Pastor, disposto a sacrificar- se e a ajudar todas as suas ovelhas, desgarradas ou fiéis, de modo a que possam atravessar as borrascas que marcam o início do terceiro milênio. Ciente do que o mundo inteiro espera dele, e, mais do que tudo, do que Cristo espera dele, Bento XVI, na mesma Missa do dia 20, condensou em poucas linhas o cerne de seu programa:

"A Igreja de hoje deve reavivar em si mesma a consciência da tarefa de repropor ao mundo a voz d'Aquele que disse: Eu sou a luz do mundo. Quem Me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida. Ao empreender o seu ministério, o novo Papa sabe que a sua tarefa é fazer resplandecer aos olhos dos homens e das mulheres de hoje a luz de Cristo: não a sua própria, mas a verdadeira luz de Cristo".

Primeira Mensagem de Bento XVI

Iniciando sua sublime missão, o novo Papa enviou ao mundo sua primeira mensagem por ocasião da Missa concelebrada com os Cardeais que, na véspera, o haviam escolhido para o Sumo Pontificado.

A todos vós, graça e paz em abundância! Neste momento, convivem em meu espírito dois sentimentos contrastantes. De um lado, o de inadequação e de humana perturbação pela responsabilidade que ontem me foi confiada, enquanto Sucessor do Apóstolo Pedro nesta Sé de Roma, em relação à Igreja universal. De outro lado, sinto em mim uma profunda gratidão para com Deus que - como nos faz cantar a liturgia - não abandona seu rebanho, mas o conduz através dos tempos, sob a orientação daqueles que Ele mesmo elegeu como vigários do seu Filho e constituiu pastores.

Caríssimos, este íntimo reconhecimento por um dom da divina misericórdia prevalece, apesar de tudo, no meu coração. E considero este fato como uma graça especial oferecida pelo meu venerado predecessor, João Paulo II. Parece-me sentir sua mão forte a apertar a minha; parece-me ver seus olhos sorridentes e ouvir suas palavras, dirigidas particularmente a mim neste momento: "Não tenhas medo!"

A força unificadora da Verdade e do Amor

A morte do Santo Padre João Paulo II e os dias que se lhe seguiram foram para a Igreja e para o mundo inteiro um tempo extraordinário de graça. A grande dor pelo seu falecimento e o sentimento de perda que deixou em todos foram atenuados pela ação de Cristo ressuscitado, que se manifestou durante tantos dias na onda de fé, amor e solidariedade espiritual, culminada nas suas exéquias solenes.

Podemos dizer que os funerais de João Paulo II constituíram uma experiência verdadeiramente extraordinária, na qual se percebeu, de algum modo, o poder de Deus que, por meio de sua Igreja, quer fazer de todos os povos uma grande família pela força unificadora da Verdade e do Amor (cf.Lumen gentium, 1). Na hora da morte, conformado ao seu Mestre e Senhor, João Paulo II coroou o seu longo e fecundo Pontificado, confirmando na fé o povo cristão, congregando-o em torno de si e fazendo sentir mais unida toda a família humana. Como não sentir- nos sustentados por esse testemunho? Como não perceber o encorajamento que vem desse acontecimento da graça?

Nessa pedra todos podem se apoiar com segurança

Surpreendendo todas as minhas previsões, a divina Providência, pelo voto dos venerados Padres Cardeais, chamou-me a suceder a este grande Papa. Recordo neste momento o que aconteceu na região de Cesaréia de Filipe, há dois mil anos. Parece-me ouvir as palavras de Pedro: "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo", e a solene afirmação do Senhor: "Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja (...) Dar-te-ei as chaves do Reino dos Céus" (Mt 16, 16-19).

Tu és o Cristo! Tu és Pedro! Parece- me reviver a própria cena evangélica. Eu, Sucessor de Pedro, repito com estremecimento as vibrantes palavras do pescador da Galiléia e ouço de novo, com íntima emoção, a promessa reconfortante do divino Mestre. Se é enorme o peso da responsabilidade posta sobre os meus ombros, é certamente desmedida a força divina com a qual posso contar: "Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja"
Escolhendo-me como Bispo de Roma, o Senhor quis fazer de mim seu Vigário, "pedra" sobre a qual todos podem se apoiar com segurança. Peço- lhe que supra a pobreza das minhas forças, para que eu seja Pastor fiel e corajoso do seu rebanho, sempre dócil às inspirações do seu Espírito.

Preparo-me para empreender este peculiar ministério, o ministério petrino a serviço da Igreja universal, com humilde abandono nas mãos da Providência de Deus. Em primeiro lugar, é a Cristo que renovo minha total e confiante adesão: "In Te, Domine, speravi; non confundar in aeternum!"

Comunhão colegial a serviço da unidade na Fé

A vós, Senhores Cardeais, com espírito agradecido pela confiança a mim demonstrada, peço que me sustenteis com a oração e com a constante, ativa e sábia colaboração. Peço também a todos os Irmãos no Episcopado que estejam a meu lado com a oração e com o conselho, para que possa ser verdadeiramente o Servus servorum Dei. Assim como Pedro e os outros Apóstolos constituíram por desejo do Senhor um único Colégio apostólico, do mesmo modo o Sucessor de Pedro e os Bispos, sucessores dos Apóstolos - segundo frisou com força o Concílio - devem estar estreitamente unidos entre si (cf.Lumen gentium, 22).

Esta comunhão colegial, apesar da diversidade de papéis e funções do Romano Pontífice e dos Bispos, está a serviço da Igreja e da unidade na fé, da qual depende em grande medida a eficácia da ação evangelizadora no mundo contemporâneo. Nesse caminho, portanto, sobre o qual avançaram os meus venerados Predecessores, também eu me proponho prosseguir, preocupado unicamente em proclamar ao mundo inteiro a presença viva de Cristo.

Concílio Vaticano II

Tenho diante de mim, de forma particular, o testemunho do Papa João Paulo II. Ele deixa uma Igreja mais corajosa, mais livre, mais jovem. Uma Igreja que, segundo o seu ensinamento e exemplo, olha com serenidade para o passado e não tem medo do futuro.

Com o Grande Jubileu ela entrou no novo milênio trazendo nas mãos o Evangelho, aplicado no mundo atual através da releitura autorizada do II Concílio do Vaticano. Justamente o Papa João Paulo II indicou o Concílio como "bússola" pela qual orientar- se no vasto oceano do terceiro milênio (cf. Novo millennio ineunte, 57- 58). Também no seu testamento espiritual, ele anotava: "Estou convencido de que ainda por muito tempo será dado às novas gerações descobrir as riquezas que este Concílio do século XX nos deixou" (17/3/2000).

Também eu, ao assumir o serviço que é próprio do Sucessor de Pedro, quero afirmar com força a vontade decidida de prosseguir no compromisso da atuação do Concílio do Vaticano, sobre o trilho dos meus Predecessores e em fiel continuidade com a bimilenária tradição da Igreja.
Terá lugar neste ano o 40º aniversário da conclusão das sessões conciliares (8 de dezembro de 1965). Com o passar dos anos, os Documentos conciliares não perderam a sua atualidade; os seus ensinamentos revelam-se particularmente pertinentes em relação às novas instâncias da Igreja e da atual sociedade globalizada.

Eucaristia, coração do novo pontificado

De maneira muito significativa, o meu Pontificado inicia-se quando a Igreja está vivendo o Ano especial dedicado à Eucaristia. Como não ver nessa coincidência providencial um elemento que deve caracterizar o ministério ao qual fui chamado? A Eucaristia, coração da vida cristã e fonte da missão evangelizadora da Igreja, não pode deixar de constituir o centro permanente e a fonte do serviço petrino que me foi confiado.

A Eucaristia torna constantemente presente o Cristo ressuscitado, que continua a dar-se a nós, chamandonos a participar na mesa do seu Corpo e do seu Sangue. Da plena comunhão com Ele nascem todos os outros elementos da vida da Igreja, em primeiro lugar a comunhão entre todos os fiéis, o compromisso de anunciar e de testemunhar o Evangelho, o ardor da caridade para com todos, especialmente os pobres e pequenos.

Neste ano, portanto, deverá ser celebrada com particular realce a Solenidade de Corpus Christi.
A Eucaristia estará, igualmente, no centro da Jornada Mundial da Juventude, no mês de agosto, em Colônia, e da Assembléia Ordinária do Sínodo dos Bispos, que se reunirá em outubro em torno do tema: "A Eucaristia, fonte e ápice da vida e da missão da Igreja".
Peço a todos intensificar nos próximos meses o amor e a devoção a Jesus Eucaristia, e exprimir de modo corajoso e claro a fé na presença real do Senhor, sobretudo mediante a solenidade e a correção das celebrações.

Peço-o de modo especial aos sacerdotes, nos quais penso neste momento com grande afeto. O Sacerdócio ministerial nasceu no Cenáculo, juntamente com a Eucaristia, como tantas vezes sublinhou o meu venerado Predecessor João Paulo II. "A vida sacerdotal deve ter a título especial uma ‘forma eucarística'", escreveu na sua última Carta de Quinta-Feira Santa (nº 1).

Para este fim contribui, acima de tudo, a devota celebração quotidiana da santa Missa, centro da vida e da missão de cada sacerdote.

Alimentados e sustentados pela Eucaristia, os católicos não podem deixar de sentir-se estimulados a tender para aquela plena unidade que Cristo desejou ardentemente no Cenáculo. Deste supremo anelo do Divino Mestre, o Sucessor de Pedro sabe que deve encarregar- se de um modo muito particular. A ele foi, de fato, confiada a missão de confirmar os irmãos (cf. Lc 22, 32).

Pressuposto do progresso nas vias do ecumenismo

Com plena consciência, portanto - ao iniciar seu ministério na Igreja de Roma que Pedro regou com seu sangue - o novo Papa assume como compromisso primário o de trabalhar sem poupar energias para reconstituir a plena e visível unidade de todos os seguidores de Cristo.
Esta é sua ambição, este é seu rigoroso dever. Está ele consciente de que para isso não bastarão as manifestações de bons sentimentos. São necessários gestos concretos, gestos que penetrem nas almas e comovam as consciências, solicitando todos àquela conversão interior que é o pressuposto de qualquer progresso nas vias do ecumenismo.

O diálogo teológico é necessário, o aprofundamento das motivações históricas de escolhas acontecidas no passado é, contudo, indispensável. Mas o que urge é aquela "purificação da memória", tantas vezes evocada por João Paulo II, a única que poderá dispor os espíritos a acolher a plena verdade de Cristo.

É diante dele, supremo Juiz de cada ser vivo, que cada um de nós deve se colocar, na consciência de ter um dia de dar-Lhe contas de tudo aquilo que fez ou não fez em vista do grande bem da plena e visível unidade de todos os seus discípulos.

O atual Sucessor de Pedro deixase pessoalmente interpelar por esta questão e está disposto a fazer tudo o que estiver em seu poder para promover a causa fundamental do ecumenismo. Nos passos dos seus Predecessores, ele está plenamente determinado a cultivar qualquer iniciativa que possa parecer oportuna para promover os contactos e o encontro com os representantes das diversas Igrejas e Comunidades eclesiais. A eles, também, envia nesta ocasião a mais cordial saudação em Cristo, único Senhor de todos.

Missão do Papa: fazer resplandecer a Luz de Cristo

Recordo neste momento a inesquecível experiência vivida por todos nós por ocasião da morte e das exéquias de João Paulo II.

Em torno dos seus restos mortais, depositados na terra nua, recolheramse chefes de Estados, pessoas de todos as classes sociais e especialmente os jovens, num inesquecível abraço de afeto e admiração. O mundo inteiro olhou para ele com confiança. Pareceu a muitos que aquela intensa participação, amplificada até os confins do planeta pelos meios de comunicação social, exprimia um pedido de ajuda dirigido ao Papa feito, pela humanidade hodierna que, perturbada por incertezas e temores, se interroga sobre o seu futuro.

A Igreja de hoje deve reavivar em si mesma a consciência da missão de propor ao mundo, novamente, a voz daquele que disse: "Eu sou a luz do mundo, quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida" (Jo 8,12). Ao assumir seu ministério, o novo Papa sabe que sua missão é a de fazer resplandecer diante dos homens e mulheres de hoje a luz de Cristo: não sua própria luz, mas a de Cristo.

Com esta consciência, dirijo-me a todos, mesmo aos que seguem outras religiões ou que simplesmente procuram uma resposta às perguntas fundamentais da existência e ainda não a encontraram. A todos me dirijo com simplicidade e afeto, para assegurar que a Igreja quer continuar a tecer com eles um diálogo aberto e sincero, à procura do verdadeiro bem do homem e da sociedade.

Paz e desenvolvimento social

Peço a Deus a unidade e a paz para a família humana e declaro a disponibilidade de todos os católicos em cooperar para um autêntico desenvolvimento social, que respeite a dignidade de cada ser humano.

Não pouparemos esforços e dedicação para prosseguir o promissor diálogo começado pelos meus venerados Predecessores com as diversas civilizações, para que da compreensão recíproca nasçam as condições de um futuro melhor para todos.

Os jovens, porvir da Igreja e da humanidade

Penso em particular nos jovens. A eles, interlocutores privilegiados do Papa João Paulo II, vai o meu abraço afetuoso à espera de, se Deus quiser, encontrá-los em Colônia por ocasião da próxima Jornada Mundial da Juventude. Convosco - caros jovens, futuro e esperança da Igreja e da humanidade - continuarei a dialogar, auscultando vossas expectativas no intuito de vos ajudar a encontrar, numa profundidade cada vez maior, o Cristo vivo, o eternamente jovem.

Mane nobiscum, Domine! Fica conosco Senhor!

Esta invocação é o tema dominante da Carta Apostólica de João Paulo II para o Ano da Eucaristia e é a oração que brota espontaneamente do meu coração, enquanto me preparo para iniciar o ministério a que Cristo me chamou.

Como Pedro, também eu renovo- Lhe a promessa incondicional de fidelidade. Só a Ele pretendo servir, dedicando- me totalmente ao serviço da sua Igreja.
"Invoco a maternal intercessão de Maria"

Para sustentar esta promessa, invoco a maternal intercessão de Maria Santíssima, em cujas mãos ponho o presente e o futuro da minha pessoa e da Igreja. Intervenham com sua intercessão também os Santos Apóstolos Pedro e Paulo, e todos os Santos.

EXCERTOS DA HOMILIA NA MISSA "PRO ELIGENDO PONTIFICE"

Um Pastor segundo o coração de Cristo

Na Missa de abertura do Conclave, em 18 de abril, o Decano do Sacro Colégio pronunciou sua derradeira homilia na qualidade de Cardeal. Nela pediu ao Senhor com grande empenho "um Pastor segundo o seu coração, que nos leve ao conhecimento de Cristo, ao seu amor, à verdadeira alegria".

Nesta hora de grande responsabilidade, escutemos com particular atenção o que nos diz o Senhor com suas próprias palavras.

A misericórdia não supõe a banalização do mal

A primeira leitura oferece um retrato profético da figura do Messias. Escutemos, com alegria, o anúncio do ano da misericórdia: a misericórdia divina põe um limite ao mal - disse-nos o Santo Padre.

A misericórdia de Cristo não é uma graça que se pode comprar por baixo preço, não supõe a banalização do mal. Cristo carrega no seu Corpo e na sua Alma todo o peso do mal, toda a sua força destruidora. Ele queima e transforma o mal no sofrimento, no fogo do seu amor sofredor.

A ditadura do relativismo

Não devemos permanecer crianças na fé, em estado de minoridade. E em que consiste ser crianças na fé? Responde São Paulo: significa ser "batidos pelas ondas e levados ao sabor de qualquer vento de doutrina..." (Ef 4, 14).

Uma descrição muito atual!

Quantos ventos de doutrina conhecemos nestes últimos decênios, quantas correntes ideológicas, quantos modos de pensamento!... A pequena barca do pensamento de muitos cristãos foi não raro, agitada por essas ondas, lançada dum extremo ao outro: do marxismo ao liberalismo, até o ponto de chegar à libertinagem; do coletivismo ao individualismo radical; do ateísmo a um vago misticismo religioso; do agnosticismo ao sincretismo, e por aí adiante.

Todos os dias nascem novas seitas e cumpre-se assim o que São Paulo disse sobre o engano dos homens, sobre a astúcia que tende a induzir ao erro (cf. Ef 4, 14). Ter uma fé clara, segundo o Credo da Igreja, é freqüentemente catalogado como fundamentalismo, ao passo que o relativismo - isto é, o deixar-se levar "ao sabor de qualquer vento de doutrina" - aparece como a única atitude à altura dos tempos atuais. Vai-se constituindo uma ditadura do relativismo que não reconhece nada como definitivo e que usa como critério último apenas o próprio "eu" e os seus apetites.

Não é "adulta" uma fé que segue as ondas da moda e a última novidade; adulta e madura é antes uma fé profundamente enraizada na amizade com Cristo. É esta amizade que se abre a tudo aquilo que é bom e nos dá o critério para discernir entre o verdadeiro e o falso, entre engano e verdade.

"Devemos dar um fruto que permaneça"

O outro elemento do Evangelho que queria acenar é o discurso de Jesus sobre o dar fruto: "Fui Eu que vos escolhi e vos destinei para que vades e deis fruto e o vosso fruto permaneça" (Jo 15, 16). Devemos animar-nos nesta santa inquietação: a inquietação de levar a todos o dom da fé, da amizade com Cristo. Recebemos a fé para a dar a outros, somos sacerdotes para servir outros. E devemos dar um fruto que permaneça.

O fruto que permanece é aquilo que semeamos nas almas humanas - o amor, o conhecimento, o gesto capaz de tocar o coração, a palavra que abre a alma à alegria do Senhor.

Nesta hora, sobretudo, rezemos com insistência ao Senhor, para que depois do grande dom do Papa João Paulo II, nos dê novamente um Pastor segundo o seu coração, um Pastor que nos leve ao conhecimento de Cristo, ao seu amor, à verdadeira alegria.

Amém

(Revista Arautos do Evangelho, Maio/2005, n. 41, p. 12 à 19)

BIOGRAFIA DE SUA SANTIDADE BENTO XVI

O Cardeal Joseph Ratzinger, Papa Bento XVI, nasceu em Marktl am Inn, diocese de Passau (Alemanha), no dia 16 de Abril de 1927 (Sábado Santo), e foi baptizado no mesmo dia. O seu pai, comissário da polícia, provinha duma antiga família de agricultores da Baixa Baviera, de modestas condições económicas. A sua mãe era filha de artesãos de Rimsting, no lago de Chiem, e antes de casar trabalhara como cozinheira em vários hotéis.

Passou a sua infância e adolescência em Traunstein, uma pequena localidade perto da fronteira com a Áustria, a trinta quilómetros de Salisburgo. Foi neste ambiente, por ele próprio definido «mozarteano», que recebeu a sua formação cristã, humana e cultural.

O período da sua juventude não foi fácil. A fé e a educação da sua família prepararam-no para enfrentar a dura experiência daqueles tempos, em que o regime nazista mantinha um clima de grande hostilidade contra a Igreja Católica. O jovem Joseph viu os nazistas açoitarem o pároco antes da celebração da Santa Missa.
Precisamente nesta complexa situação, descobriu a beleza e a verdade da fé em Cristo; fundamental para ele foi a conduta da sua família, que sempre deu um claro testemunho de bondade e esperança, radicada numa conscienciosa pertença à Igreja.

Nos últimos meses da II Guerra Mundial, foi arrolado nos serviços auxiliares anti-aéreos.

Recebeu a Ordenação Sacerdotal em 29 de Junho de 1951.

Um ano depois, começou a sua actividade de professor na Escola Superior de Freising.
No ano de 1953, doutorou-se em teologia com a tese «Povo e Casa de Deus na doutrina da Igreja de Santo Agostinho». Passados quatro anos, sob a direcção do conhecido professor de teologia fundamental Gottlieb Söhngen, conseguiu a habilitação para a docência com uma dissertação sobre «A teologia da história em São Boaventura».

Depois de desempenhar o cargo de professor de teologia dogmática e fundamental na Escola Superior de Filosofia e Teologia de Freising, continuou a docência em Bonn, de 1959 a 1963; em Münster, de 1963 a 1966; e em Tubinga, de 1966 a 1969. A partir deste ano de 1969, passou a ser catedrático de dogmática e história do dogma na Universidade de Ratisbona, onde ocupou também o cargo de Vice-Reitor da Universidade.

De 1962 a 1965, prestou um notável contributo ao Concílio Vaticano II como «perito»; viera como consultor teológico do Cardeal Joseph Frings, Arcebispo de Colónia.

A sua intensa actividade científica levou-o a desempenhar importantes cargos ao serviço da Conferência Episcopal Alemã e na Comissão Teológica Internacional.

Em 25 de Março de 1977, o Papa Paulo VI nomeou-o Arcebispo de München e Freising. A 28 de Maio seguinte, recebeu a sagração episcopal. Foi o primeiro sacerdote diocesano, depois de oitenta anos, que assumiu o governo pastoral da grande arquidiocese bávara. Escolheu como lema episcopal: «Colaborador da verdade»; assim o explicou ele mesmo: «Parecia-me, por um lado, encontrar nele a ligação entre a tarefa anterior de professor e a minha nova missão; o que estava em jogo, e continua a estar - embora com modalidades diferentes -, é seguir a verdade, estar ao seu serviço. E, por outro, escolhi este lema porque, no mundo actual, omite-se quase totalmente o tema da verdade, parecendo algo demasiado grande para o homem; e, todavia, tudo se desmorona se falta a verdade».

Paulo VI criou-o Cardeal, do título presbiteral de "Santa Maria da Consolação no Tiburtino", no Consistório de 27 de Junho desse mesmo ano.

Em 1978, participou no Conclave, celebrado de 25 a 26 de Agosto, que elegeu João Paulo I; este nomeou-o seu Enviado especial ao III Congresso Mariológico Internacional que teve lugar em Guayaquil (Equador) de 16 a 24 de Setembro. No mês de Outubro desse mesmo ano, participou também no Conclave que elegeu João Paulo II.

Foi Relator na V Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos realizada em 1980, que tinha como tema «Missão da família cristã no mundo contemporâneo», e Presidente Delegado da VI Assembleia Geral Ordinária, celebrada em 1983, sobre «A reconciliação e a penitência na missão da Igreja».

João Paulo II nomeou-o Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé e Presidente da Pontifícia Comissão Bíblica e da Comissão Teológica Internacional, em 25 de Novembro de 1981. No dia 15 de Fevereiro de 1982, renunciou ao governo pastoral da arquidiocese de München e Freising. O Papa elevou-o à Ordem dos Bispos, atribuindo-lhe a sede suburbicária de Velletri-Segni, em 5 de Abril de 1993.

Foi Presidente da Comissão encarregada da preparação do Catecismo da Igreja Católica, a qual, após seis anos de trabalho (1986-1992), apresentou ao Santo Padre o novo Catecismo.
A 6 de Novembro de 1998, o Santo Padre aprovou a eleição do Cardeal Ratzinger para Vice-Decano do Colégio Cardinalício, realizada pelos Cardeais da Ordem dos Bispos. E, no dia 30 de Novembro de 2002, aprovou a sua eleição para Decano; com este cargo, foi-lhe atribuída também a sede suburbicária de Óstia.

Em 1999, foi como Enviado especial do Papa às celebrações pelo XII centenário da criação da diocese de Paderborn, Alemanha, que tiveram lugar a 3 de Janeiro.

Desde 13 de Novembro de 2000, era Membro honorário da Academia Pontifícia das Ciências.
Na Cúria Romana, foi Membro do Conselho da Secretaria de Estado para as Relações com os Estados; das Congregações para as Igrejas Orientais, para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, para os Bispos, para a Evangelização dos Povos, para a Educação Católica, para o Clero, e para as Causas dos Santos; dos Conselhos Pontifícios para a Promoção da Unidade dos Cristãos, e para a Cultura; do Tribunal Supremo da Signatura Apostólica; e das Comissões Pontifícias para a América Latina, «Ecclesia Dei», para a Interpretação Autêntica do Código de Direito Canónico, e para a revisão do Código de Direito Canónico Oriental.

Entre as suas numerosas publicações, ocupam lugar de destaque o livro «Introdução ao Cristianismo», uma compilação de lições universitárias publicadas em 1968 sobre a profissão de fé apostólica, e o livro «Dogma e Revelação» (1973), uma antologia de ensaios, homilias e meditações, dedicadas à pastoral.

Grande ressonância teve a conferência que pronunciou perante a Academia Católica Bávara sobre o tema «Por que continuo ainda na Igreja?»; com a sua habitual clareza, afirmou então: «Só na Igreja é possível ser cristão, não ao lado da Igreja».

No decurso dos anos, continuou abundante a série das suas publicações, constituindo um ponto de referência para muitas pessoas, especialmente para os que queriam entrar em profundidade no estudo da teologia. Em 1985 publicou o livro-entrevista «Relatório sobre a Fé» e, em 1996, «O sal da terra». E, por ocasião do seu septuagésimo aniversário, publicou o livro «Na escola da verdade», onde aparecem ilustrados vários aspectos da sua personalidade e da sua obra por diversos autores.

Recebeu numerosos doutoramentos «honoris causa»: pelo College of St. Thomas em St. Paul (Minnesota, Estados Unidos), em 1984; pela Universidade Católica de Eichstätt, em 1987; pela Universidade Católica de Lima, em 1986; pela Universidade Católica de Lublin, em 1988; pela Universidade de Navarra (Pamplona, Espanha), em 1998; pela Livre Universidade Maria Santíssima Assunta (LUMSA, Roma), em 1999; pela Faculdade de Teologia da Universidade de Wroclaw (Polónia) no ano 2000.