Fundador da Companhia de Jesus
(Ordem dos Jesuítas)
Inácio, filho de nobre família da província de Guipuzcoa, na Espanha, nasceu em 1491 (ou 1496) no vale do Orola, pouco distante de Azpeitia, no Castelo Loyola o qual, em sua forma característica e, em estado de completa conservação, constitui a parte interior do atual convento. De porte elegante, adestrado em todos os exercícios eqüestres, era Inácio em sua mocidade, o tipo acabado do cavaleiro fidalgo espanhol, valente, espirituoso, dado ao jogo, à poesia, às aventuras de armas e de amor.
Jovem militar, estava em serviço de Juan Velásquez, tesoureiro-mor da corte real da Espanha; tomou parte na campanha contra Francisco I, da França, o qual cuidando dos interesses dos herdeiros de João d’Albret de Navarra, de mão armada invadira território espanhol. No combate de defesa da cidade de Pamplona contra os franceses, em 20 de maio de1521, uma bala de canhão atingiu-lhe a tíbia da perna direita. No longo tratamento, a que teve de se sujeitar, levado pela leitura da Paixão de Cristo e da vida dos santos, começou a fazer sérias comparações entre a vida dedicada ao mundo e o serviço de Deus e movido pela graça, chegou a tomar a firme resolução de trocar a carreira militar por uma vida toda de Deus. No santuário de Nossa Senhora de Montserrat deu o passo decisivo, disse adeus ao mundo, pendurou sua espada no altar e desapareceu para a sociedade. Desde então, foi levar uma vida austera de eremita e mendigo, com todas as práticas da mais severa penitência, e isto não tanto na intenção de reparar as suas faltas, mas, e principalmente, no nobre intuito de a exemplo dos santos, para a Deus, seu supremo Senhor, dar prova da sua irrestrita vassalagem e dedicação e nela constantemente se exercitar. Na solidão de Manresa, em meio das privações, ânsias, angústias, consolações e arrebatamentos da vida eremita mostra que já era espiritual, em 1522 traçou as linhas gerais do seu célebre livro de exercícios, reflexo direto das suas experiências na vida interior, protótipo da sua fundação monástica, livro que em seguida se tornou verdadeiro código da ascese cristã em todo o mundo.
No ano de 1523 o amor ao divino Salvador, cujos mistérios principalmente o ocuparam em Manresa, bem como o desejo de sumir do mundo e se exercitar na confiança em Deus fê-lo resolver-se a uma peregrinação a Jerusalém . De volta para a Espanha, contando já trinta anos de idade, com admirável firmeza, imperturbável constância, sofrendo grandes privações e perseguições, entregou-se ao estudo das línguas clássicas, da filosofia e teologia em Saragoça, Alcalá, Salamanca e Paris. Foi em Paris, onde se lhe associaram os primeiros seis companheiros, que sob sua direção fizeram os exercícios espirituais, e com ele lançaram o fundamento da Companhia de Jesus, em 15 de agosto de 1534. Por um santo voto se obrigaram a uma peregrinação aos Santos Lugares da Palestina. Motivos imperiosos tornaram impraticável a romaria e assim, em 1538 todos se reuniram em Roma, onde foi elaborado o primeiro plano das Constituições. Em 1540, aos 27 de setembro, a Regra teve sua primeira aprovação pelo Papa Paulo II, e Inácio, foi eleito general da Companhia de Jesus (1541). Estabelecida que se achava a Ordem, a vida de Inácio entrou em uma nova fase. Superior geral de uma nova família de religiosos, sua tarefa era velar pela fiel observância da regra, e trabalhar pelo aperfeiçoamento das constituições. Enquanto seus religiosos, animados do seu espírito, trabalharam pela expansão do reino de Deus na Itália, na França, na Espanha, na Alemanha, na Polônia, na Índia e na África, ele deixou-se ficar em Roma, dando forma mais perfeita à regra, e dedicando-se à formação espiritual dos jovens candidatos e futuros superiores. Ao mesmo tempo se manteve sempre em contato com as fundações, dirigiu-se pela sua vigilância, pela correspondência e oração, conservando em tudo e sempre bem vivo o interesse pela prosperidade da Igreja Universal. Em Roma fundou estabelecimentos pela conversão dos judeus, orfanatos, casas de refúgio para donzelas desamparadas, e o Colégio germânico. Muito de perto acompanhou um empreendimento dos príncipes cristãos contra os turcos, e muito trabalhou pelo sucesso do Concílio de Trento.
Sua obra principal foi à fundação da Companhia de Jesus. Esta Ordem, no conceito de Inácio devia realizar a mais estreita união à pessoa de Cristo, à sua missão e ao seu modo de vida para assim reproduzir a imagem perfeita do Salvador e do seu espírito. O supremo ideal do Homem-Deus era sempre a glória de Deus na felicidade e na salvação da humanidade pela fundação de um grande reino de Deus, no qual todos os homens, a ele ligados, pudessem achar sua salvação. Este reino é a Igreja. Ela é a obra de Cristo, na sua Igreja ele depositou sua doutrina, os meios de salvação e seu poder administrativo. A Igreja foi fundada para os homens e sobre os homens. Implantar a doutrina de Cristo nos corações, estabelecer o seu reinado nas almas pela imitação perfeita do divino salvador, eis o ideal que Inácio se propôs: eis a finalidade e a missão que Inácio deu à sua Ordem. Os meios para obter tão elevado fim haviam de ser os mesmos que Cristo empregou quanto à sua própria pessoa, como sejam a pobreza, o desprendimento, trabalho e sofrimento e os outros, aplicáveis ao próximo: a pregação, a recepção dos sacramentos, o ensino; em uma palavra todos os recursos de que o sacerdócio católico dispõe para engrandecer o reino de Cristo nas almas dos fiéis. Como se vê, larguíssima é a base sobre a qual descansa a estrutura da Ordem de Inácio. É uma Ordem apostólica, que outra finalidade não conhece senão trabalhar pelo reino de Deus, sempre em íntima união ao Supremo Chefe da Igreja, a cujas ordens vota irrestrita obediência. É uma Ordem de Clérigos Regulares, cuja missão consiste principalmente no desempenho do ministério sacerdotal. As constituições concedem-lhes um raio mais amplo de atividade, mais desembaraço de ação. Nas constituições não figura a recitação em comum do ofício divino; os religiosos da Companhia não são presos a uma cura d’almas local ou a quaisquer ocupações secundárias cerceantes. À sua Ordem Sant’Inácio deu o nome venerabilíssimo de Jesus.
Entre os trabalhos silenciosos e múltiplos, na orientação da Companhia veio visitá-lo a morte. Informado do seu próximo passamento, nada disse. Só pediu a bênção apostólica e morreu quase sem testemunhas, tendo sobre os lábios o nome de Jesus. Sua morte ocorreu em 31 de julho de 1556. Canonizado foi pelo Papa Gregório XV aos 12 de março de 1622.
Porém, das virtudes que caracterizam a santidade de Inácio, se destacam estas três: a prudência, a humildade e a firmeza na execução dos planos uma vez concebidos.
De tudo que de Inácio se sabe, dos seus escritos, no seu modo de agir, ressalta em primeiro lugar seu tino prático no governo das coisas, seu talento extraordinário de organização, a superioridade de espírito e seu poder sugestivo. A primeira comunidade por ele formada compunha-se de talentos de escol e de caracteres firmes e decididos. Todos se sujeitavam, à soberania espiritual do seu mestre, não porque este fosse um fantasista de atração irresistível; - Inácio não era nada menos que um visionário fanático – mas por reconhecerem a sua superioridade intelectual, sua prudência e vasta experiência em cousas espirituais. Viam nele, e como tal o veneravam, o Santo, o homem de Deus favorecido por luzes sobrenaturais, o homem que se governava pelo princípio: não querer acomodar os homens e as cousas a si, mas se acomodar a eles.
As suas aspirações não se estendiam a coisas inacessíveis. Preferia sempre o seguro ao incerto, o interesse comum ao bem particular. O testemunho mais brilhante da sua prudência sobrenatural como da sua superioridade espiritual são as constituições da sua Ordem, obra sua exclusiva e autenticamente pessoal. Elas perfeitamente se adaptaram a todas necessidades da Igreja, do tempo e do mundo; dão largas à magnanimidade humana influenciada pela graça sem prejudicar o bem-estar individual; tomam em conta todas as dificuldades e perigos, e os meios do progresso espiritual acham-se admiravelmente organizados. São uma verdadeira obra prima de prudência legisladora e clarividência de espírito; a expressão de uma lógica natural e inflexível, em perfeita coordenação ao fim colimado. O Papa Paulo III, dando-lhe a primeira aprovação, chamou a regra inaciana obra do “dedo de Deus”, isto é, do Espírito Santo.
Sem humildade são quiméricas a verdadeira grandeza espiritual e santidade. A humildade, é, pois, outro traço característico no perfil de Santo Inácio. Que era obra de Deus a fundação da Companhia, de cuja organização ele servira de instrumento, era sua convicção íntima. Se é que isto enchia de alegria, se os progressos da sua Ordem lhe proporcionavam grande contentamento, nem por isso tolerava que deste se fizesse alarde, e não permitia que se fizesse comparações de outras Ordens com a Companhia, diminuindo o valor daquelas. Sua é a afirmação de que havia muitos anos não ter experimentado tentação contra a humildade. De favores extraordinários celestiais que teve, nenhum conhecimento deu aos seus Religiosos; todas as anotações relativas a essas graças, ele as fez desaparecer, fora alguns papéizinhos que lhe escaparam. Com relutância aceitou o cargo de Superior Geral, e por diversas vezes pediu, dele fosse desobrigado.
A terceira virtude que em Santo Inácio observamos e admiramos é a sua firmeza na execução dos planos uma vez concebidos e traçados. Como verdadeiro arauto da glória de Deus, não conhecia dificuldade e empecilhos; quando se tratava dos interesses do seu Supremo Senhor, da Igreja ou do bem das almas. Obstáculos, decepções, perigos e perseguições como era natural, que não lhe faltassem, eram por Inácio considerados meios para alcançar seus fins. Em causas de suma importância não se desdenhava de esperar quatorze horas na ante-sala de um Grande. Pouco antes da sua morte escapou-lhe a confissão de não poder se lembrar de nos últimos trinta anos ter perdido ocasião, de fazer alguma cousa no serviço de Deus. Inseparavelmente unida a esta sua firmeza e energia se achava uma confiança inabalável na Divina Providência.
Certamente a atividade e o modo de exercer o seu apostolado nada de agradável continha para os inimigos de Deus e de sua Igreja. É bem explicável, pois, a malquerença, a antipatia que em determinados círculos se formou contra Inácio e a Companhia por ele, fundada. Em o Santo fundador dos Jesuítas não há nada de fanático, de sorumbático; pelo contrário: Inácio era de uma amabilidade cativante e de uma serenidade encantadora. Era bondoso, atencioso, meigo e paternal no tratamento dos seus companheiros, carinhoso e compassivo para com os doentes e padecentes; de uma delicadeza extraordinária para os que se lhe abriam em suas tentações, lutas e dificuldades; de uma paciência e generosidade admiráveis para com os seus perseguidores, e de uma gratidão edificante e comovedora aos benfeitores.
Fonte e coroa destas virtudes foram seu imenso respeito e amor a Deus e à pessoa do divino Salvador. “Divina Majestade” é a intitulação predileta que dá a Deus. Inácio era conhecido como padre, que quando falava de Deus, sempre elevava o olhar ao céu. A audição de um canto, a invocação do nome de Jesus, o aspecto de uma flor, a contemplação do céu estrelado comoviam-no até às lágrimas e transportavam-no em êxtase. Tão freqüentes e tão abundantes lhe eram torrentes de lágrimas, que chegaram a comprometer a vista, circunstância que motivou a dispensa que obteve da recitação do breviário. Centenas de vezes se encontra nas suas prescrições de superior e jaculatória: “Tudo pela maior glória de Deus”.
Era esta a grande mas também a única idéia de Santo Inácio, que ele queria ver viva em todos os seus Religiosos. O que deles exige, não são orações em demasia, nem mortificações exteriores exageradas, mas tanto mais trabalho, trabalho onímodo, incessante, trabalho até o esgotamento, até à morte. Trabalhar em todas as zonas, em todos os setores da vida sacerdotal, pela maior honra de Deus e pela salvação das almas é o espírito distintivo e a força motriz da sua Ordem. A obediência é subordinada a este espírito, e como segura reguladora se efetua na vida ativa da Companhia.
“Ide, incendiai o mundo no amor de Deus e das almas”, era a palavra, que dirigia aos missionários na sua despedida.
Estes poucos traços da vida do fundador da Companhia de Jesus dão-nos uma idéia do seu caráter, da mentalidade e Santidade do grande homem o qual, dono de tão eminentes virtudes, se impõe à nossa admiração com o direito, que como Santo lhe assiste, a nossa irrestrita e sincera veneração.
Incalculáveis são os serviços que Santo Inácio e sua fundação à Igreja Católica tem prestado numa época, em que a sociedade do século 16, em detrimento da Religião, do Estado e da humanidade entendeu de romper com a ideologia católica e, deixando-se levar pelos ditames de irrefreado egoísmo e de um prurido incontido de liberdade em todos os ramos da vida humana, da religião, da política, da ciência, rumava para funestos fins. Penosamente, apoiada por poucos elementos dedicados e bons, a Igreja ressalvava os valores verdadeiros e intangíveis da humanidade. Um destes elementos era Santo Inácio. Ele e sua Ordem valiosamente concorreram pela salvação desses grandes valores da humanidade, da religião, da moralidade, das ciências e artes.
Santo Inácio honrou a nossa santa religião. Nesta religião se formou, se santificou. À Santa Igreja deu uma Ordem, verdadeira milícia de Cristo, exército de propaganda da santa fé. Com esta sua Ordem veio a ser para Cristo e sua Igreja o conquistador de vastos domínios em todos os continentes do orbe, ficando assim compensada de alguma triste apostasia dos países nórdicos europeus.
Santo Inácio tornou-se assim grande benfeitor da humanidade. Muitas nações devem a ele e aos religiosos da Companhia de Jesus sua integridade religiosa no meio dos estragos da revolução protestante, ou então, como o Brasil, a sua formação desde o princípio, genuinamente católica.
A Companhia de Jesus é uma das Ordens mais numerosas da Igreja Católica, com diversos de seus membros beatificados, outros tantos bem-aventurados e, entre estes e aqueles, 134 mártires.
Reflexões:
Na vida de Santo Inácio há muita coisa que nos pode servir de estímulo e de edificação. Vejamos alguns pontos apenas:
1. A conversão e santificação de Santo Inácio foi resultado da leitura de livros religiosos. Grande é o bem que um bom livro produz, como incalculáveis são as conseqüências da leitura de um livro mau. A perdição de muita gente teve início com a leitura de uma obra perversa. Muitos outros se conservaram bons ou voltaram ao bom caminho devido à influência benéfica da boa leitura que fizeram. Daí tira a conclusão e formula teus propósitos.
2. Só um interesse inspirou a vida de Santo Inácio: o da glória de Deus e da salvação das almas. A este interesse sacrificou e subordinou tudo. É próprio dos Santos fazer sempre e em tudo o que Deus quer, pospondo-lhe os interesses próprios. Fazer só o indispensavelmente necessário, com algum cuidado de evitar o pecado mortal, é característico dos tíbios. É mais perfeito procurar sempre o agrado de Deus e dirigir todos os atos à glória de Deus e à salvação da alma.
3. Santo Inácio era chamado o homem que está sempre em colóquio com Deus e vê o céu aberto. É claro: Do que o coração está cheio, a boca transborda. Os olhos procuram o que mais lhes agrada. De que natureza são tuas conversas ? Qual é o objeto de teu amor, de tuas aspirações ? Que é, a que mais se prendem teus pensamentos ?
4. A Santo Inácio eram muito correntes as palavras: “Vence-te a ti próprio !” A vida do Servo de Deus, desde o tempo da conversão, foi a fiel interpretação deste lema. Vencendo-se a si, tornou-se um grande Santo. O “vencer-se a si próprio” deve ser o programa de todos que pretendem chegar à perfeição. O mundo é um vale de lágrimas e misérias, porque o primeiro homem não se soube vencer. O inferno está cheio de homens que lá estão, porque não se souberam vencer. O céu regurgita de Santos, que devem a glória ao combate contínuo, que sustentaram contra a natureza. – “Vence-te a ti próprio” e terás garantida a tua salvação. “Não há outro caminho para a santidade senão o da abnegação e da mortificação. Anima-te, pois ! Começa resolutamente ! Uma única mortificação, feita com decisão, é mais agradável a Deus que praticar muitas boas obras”.
Fonte: Páginas Oriente/Santos
Inácio, filho de nobre família da província de Guipuzcoa, na Espanha, nasceu em 1491 (ou 1496) no vale do Orola, pouco distante de Azpeitia, no Castelo Loyola o qual, em sua forma característica e, em estado de completa conservação, constitui a parte interior do atual convento. De porte elegante, adestrado em todos os exercícios eqüestres, era Inácio em sua mocidade, o tipo acabado do cavaleiro fidalgo espanhol, valente, espirituoso, dado ao jogo, à poesia, às aventuras de armas e de amor.
Jovem militar, estava em serviço de Juan Velásquez, tesoureiro-mor da corte real da Espanha; tomou parte na campanha contra Francisco I, da França, o qual cuidando dos interesses dos herdeiros de João d’Albret de Navarra, de mão armada invadira território espanhol. No combate de defesa da cidade de Pamplona contra os franceses, em 20 de maio de1521, uma bala de canhão atingiu-lhe a tíbia da perna direita. No longo tratamento, a que teve de se sujeitar, levado pela leitura da Paixão de Cristo e da vida dos santos, começou a fazer sérias comparações entre a vida dedicada ao mundo e o serviço de Deus e movido pela graça, chegou a tomar a firme resolução de trocar a carreira militar por uma vida toda de Deus. No santuário de Nossa Senhora de Montserrat deu o passo decisivo, disse adeus ao mundo, pendurou sua espada no altar e desapareceu para a sociedade. Desde então, foi levar uma vida austera de eremita e mendigo, com todas as práticas da mais severa penitência, e isto não tanto na intenção de reparar as suas faltas, mas, e principalmente, no nobre intuito de a exemplo dos santos, para a Deus, seu supremo Senhor, dar prova da sua irrestrita vassalagem e dedicação e nela constantemente se exercitar. Na solidão de Manresa, em meio das privações, ânsias, angústias, consolações e arrebatamentos da vida eremita mostra que já era espiritual, em 1522 traçou as linhas gerais do seu célebre livro de exercícios, reflexo direto das suas experiências na vida interior, protótipo da sua fundação monástica, livro que em seguida se tornou verdadeiro código da ascese cristã em todo o mundo.
No ano de 1523 o amor ao divino Salvador, cujos mistérios principalmente o ocuparam em Manresa, bem como o desejo de sumir do mundo e se exercitar na confiança em Deus fê-lo resolver-se a uma peregrinação a Jerusalém . De volta para a Espanha, contando já trinta anos de idade, com admirável firmeza, imperturbável constância, sofrendo grandes privações e perseguições, entregou-se ao estudo das línguas clássicas, da filosofia e teologia em Saragoça, Alcalá, Salamanca e Paris. Foi em Paris, onde se lhe associaram os primeiros seis companheiros, que sob sua direção fizeram os exercícios espirituais, e com ele lançaram o fundamento da Companhia de Jesus, em 15 de agosto de 1534. Por um santo voto se obrigaram a uma peregrinação aos Santos Lugares da Palestina. Motivos imperiosos tornaram impraticável a romaria e assim, em 1538 todos se reuniram em Roma, onde foi elaborado o primeiro plano das Constituições. Em 1540, aos 27 de setembro, a Regra teve sua primeira aprovação pelo Papa Paulo II, e Inácio, foi eleito general da Companhia de Jesus (1541). Estabelecida que se achava a Ordem, a vida de Inácio entrou em uma nova fase. Superior geral de uma nova família de religiosos, sua tarefa era velar pela fiel observância da regra, e trabalhar pelo aperfeiçoamento das constituições. Enquanto seus religiosos, animados do seu espírito, trabalharam pela expansão do reino de Deus na Itália, na França, na Espanha, na Alemanha, na Polônia, na Índia e na África, ele deixou-se ficar em Roma, dando forma mais perfeita à regra, e dedicando-se à formação espiritual dos jovens candidatos e futuros superiores. Ao mesmo tempo se manteve sempre em contato com as fundações, dirigiu-se pela sua vigilância, pela correspondência e oração, conservando em tudo e sempre bem vivo o interesse pela prosperidade da Igreja Universal. Em Roma fundou estabelecimentos pela conversão dos judeus, orfanatos, casas de refúgio para donzelas desamparadas, e o Colégio germânico. Muito de perto acompanhou um empreendimento dos príncipes cristãos contra os turcos, e muito trabalhou pelo sucesso do Concílio de Trento.
Sua obra principal foi à fundação da Companhia de Jesus. Esta Ordem, no conceito de Inácio devia realizar a mais estreita união à pessoa de Cristo, à sua missão e ao seu modo de vida para assim reproduzir a imagem perfeita do Salvador e do seu espírito. O supremo ideal do Homem-Deus era sempre a glória de Deus na felicidade e na salvação da humanidade pela fundação de um grande reino de Deus, no qual todos os homens, a ele ligados, pudessem achar sua salvação. Este reino é a Igreja. Ela é a obra de Cristo, na sua Igreja ele depositou sua doutrina, os meios de salvação e seu poder administrativo. A Igreja foi fundada para os homens e sobre os homens. Implantar a doutrina de Cristo nos corações, estabelecer o seu reinado nas almas pela imitação perfeita do divino salvador, eis o ideal que Inácio se propôs: eis a finalidade e a missão que Inácio deu à sua Ordem. Os meios para obter tão elevado fim haviam de ser os mesmos que Cristo empregou quanto à sua própria pessoa, como sejam a pobreza, o desprendimento, trabalho e sofrimento e os outros, aplicáveis ao próximo: a pregação, a recepção dos sacramentos, o ensino; em uma palavra todos os recursos de que o sacerdócio católico dispõe para engrandecer o reino de Cristo nas almas dos fiéis. Como se vê, larguíssima é a base sobre a qual descansa a estrutura da Ordem de Inácio. É uma Ordem apostólica, que outra finalidade não conhece senão trabalhar pelo reino de Deus, sempre em íntima união ao Supremo Chefe da Igreja, a cujas ordens vota irrestrita obediência. É uma Ordem de Clérigos Regulares, cuja missão consiste principalmente no desempenho do ministério sacerdotal. As constituições concedem-lhes um raio mais amplo de atividade, mais desembaraço de ação. Nas constituições não figura a recitação em comum do ofício divino; os religiosos da Companhia não são presos a uma cura d’almas local ou a quaisquer ocupações secundárias cerceantes. À sua Ordem Sant’Inácio deu o nome venerabilíssimo de Jesus.
Entre os trabalhos silenciosos e múltiplos, na orientação da Companhia veio visitá-lo a morte. Informado do seu próximo passamento, nada disse. Só pediu a bênção apostólica e morreu quase sem testemunhas, tendo sobre os lábios o nome de Jesus. Sua morte ocorreu em 31 de julho de 1556. Canonizado foi pelo Papa Gregório XV aos 12 de março de 1622.
Porém, das virtudes que caracterizam a santidade de Inácio, se destacam estas três: a prudência, a humildade e a firmeza na execução dos planos uma vez concebidos.
De tudo que de Inácio se sabe, dos seus escritos, no seu modo de agir, ressalta em primeiro lugar seu tino prático no governo das coisas, seu talento extraordinário de organização, a superioridade de espírito e seu poder sugestivo. A primeira comunidade por ele formada compunha-se de talentos de escol e de caracteres firmes e decididos. Todos se sujeitavam, à soberania espiritual do seu mestre, não porque este fosse um fantasista de atração irresistível; - Inácio não era nada menos que um visionário fanático – mas por reconhecerem a sua superioridade intelectual, sua prudência e vasta experiência em cousas espirituais. Viam nele, e como tal o veneravam, o Santo, o homem de Deus favorecido por luzes sobrenaturais, o homem que se governava pelo princípio: não querer acomodar os homens e as cousas a si, mas se acomodar a eles.
As suas aspirações não se estendiam a coisas inacessíveis. Preferia sempre o seguro ao incerto, o interesse comum ao bem particular. O testemunho mais brilhante da sua prudência sobrenatural como da sua superioridade espiritual são as constituições da sua Ordem, obra sua exclusiva e autenticamente pessoal. Elas perfeitamente se adaptaram a todas necessidades da Igreja, do tempo e do mundo; dão largas à magnanimidade humana influenciada pela graça sem prejudicar o bem-estar individual; tomam em conta todas as dificuldades e perigos, e os meios do progresso espiritual acham-se admiravelmente organizados. São uma verdadeira obra prima de prudência legisladora e clarividência de espírito; a expressão de uma lógica natural e inflexível, em perfeita coordenação ao fim colimado. O Papa Paulo III, dando-lhe a primeira aprovação, chamou a regra inaciana obra do “dedo de Deus”, isto é, do Espírito Santo.
Sem humildade são quiméricas a verdadeira grandeza espiritual e santidade. A humildade, é, pois, outro traço característico no perfil de Santo Inácio. Que era obra de Deus a fundação da Companhia, de cuja organização ele servira de instrumento, era sua convicção íntima. Se é que isto enchia de alegria, se os progressos da sua Ordem lhe proporcionavam grande contentamento, nem por isso tolerava que deste se fizesse alarde, e não permitia que se fizesse comparações de outras Ordens com a Companhia, diminuindo o valor daquelas. Sua é a afirmação de que havia muitos anos não ter experimentado tentação contra a humildade. De favores extraordinários celestiais que teve, nenhum conhecimento deu aos seus Religiosos; todas as anotações relativas a essas graças, ele as fez desaparecer, fora alguns papéizinhos que lhe escaparam. Com relutância aceitou o cargo de Superior Geral, e por diversas vezes pediu, dele fosse desobrigado.
A terceira virtude que em Santo Inácio observamos e admiramos é a sua firmeza na execução dos planos uma vez concebidos e traçados. Como verdadeiro arauto da glória de Deus, não conhecia dificuldade e empecilhos; quando se tratava dos interesses do seu Supremo Senhor, da Igreja ou do bem das almas. Obstáculos, decepções, perigos e perseguições como era natural, que não lhe faltassem, eram por Inácio considerados meios para alcançar seus fins. Em causas de suma importância não se desdenhava de esperar quatorze horas na ante-sala de um Grande. Pouco antes da sua morte escapou-lhe a confissão de não poder se lembrar de nos últimos trinta anos ter perdido ocasião, de fazer alguma cousa no serviço de Deus. Inseparavelmente unida a esta sua firmeza e energia se achava uma confiança inabalável na Divina Providência.
Certamente a atividade e o modo de exercer o seu apostolado nada de agradável continha para os inimigos de Deus e de sua Igreja. É bem explicável, pois, a malquerença, a antipatia que em determinados círculos se formou contra Inácio e a Companhia por ele, fundada. Em o Santo fundador dos Jesuítas não há nada de fanático, de sorumbático; pelo contrário: Inácio era de uma amabilidade cativante e de uma serenidade encantadora. Era bondoso, atencioso, meigo e paternal no tratamento dos seus companheiros, carinhoso e compassivo para com os doentes e padecentes; de uma delicadeza extraordinária para os que se lhe abriam em suas tentações, lutas e dificuldades; de uma paciência e generosidade admiráveis para com os seus perseguidores, e de uma gratidão edificante e comovedora aos benfeitores.
Fonte e coroa destas virtudes foram seu imenso respeito e amor a Deus e à pessoa do divino Salvador. “Divina Majestade” é a intitulação predileta que dá a Deus. Inácio era conhecido como padre, que quando falava de Deus, sempre elevava o olhar ao céu. A audição de um canto, a invocação do nome de Jesus, o aspecto de uma flor, a contemplação do céu estrelado comoviam-no até às lágrimas e transportavam-no em êxtase. Tão freqüentes e tão abundantes lhe eram torrentes de lágrimas, que chegaram a comprometer a vista, circunstância que motivou a dispensa que obteve da recitação do breviário. Centenas de vezes se encontra nas suas prescrições de superior e jaculatória: “Tudo pela maior glória de Deus”.
Era esta a grande mas também a única idéia de Santo Inácio, que ele queria ver viva em todos os seus Religiosos. O que deles exige, não são orações em demasia, nem mortificações exteriores exageradas, mas tanto mais trabalho, trabalho onímodo, incessante, trabalho até o esgotamento, até à morte. Trabalhar em todas as zonas, em todos os setores da vida sacerdotal, pela maior honra de Deus e pela salvação das almas é o espírito distintivo e a força motriz da sua Ordem. A obediência é subordinada a este espírito, e como segura reguladora se efetua na vida ativa da Companhia.
“Ide, incendiai o mundo no amor de Deus e das almas”, era a palavra, que dirigia aos missionários na sua despedida.
Estes poucos traços da vida do fundador da Companhia de Jesus dão-nos uma idéia do seu caráter, da mentalidade e Santidade do grande homem o qual, dono de tão eminentes virtudes, se impõe à nossa admiração com o direito, que como Santo lhe assiste, a nossa irrestrita e sincera veneração.
Incalculáveis são os serviços que Santo Inácio e sua fundação à Igreja Católica tem prestado numa época, em que a sociedade do século 16, em detrimento da Religião, do Estado e da humanidade entendeu de romper com a ideologia católica e, deixando-se levar pelos ditames de irrefreado egoísmo e de um prurido incontido de liberdade em todos os ramos da vida humana, da religião, da política, da ciência, rumava para funestos fins. Penosamente, apoiada por poucos elementos dedicados e bons, a Igreja ressalvava os valores verdadeiros e intangíveis da humanidade. Um destes elementos era Santo Inácio. Ele e sua Ordem valiosamente concorreram pela salvação desses grandes valores da humanidade, da religião, da moralidade, das ciências e artes.
Santo Inácio honrou a nossa santa religião. Nesta religião se formou, se santificou. À Santa Igreja deu uma Ordem, verdadeira milícia de Cristo, exército de propaganda da santa fé. Com esta sua Ordem veio a ser para Cristo e sua Igreja o conquistador de vastos domínios em todos os continentes do orbe, ficando assim compensada de alguma triste apostasia dos países nórdicos europeus.
Santo Inácio tornou-se assim grande benfeitor da humanidade. Muitas nações devem a ele e aos religiosos da Companhia de Jesus sua integridade religiosa no meio dos estragos da revolução protestante, ou então, como o Brasil, a sua formação desde o princípio, genuinamente católica.
A Companhia de Jesus é uma das Ordens mais numerosas da Igreja Católica, com diversos de seus membros beatificados, outros tantos bem-aventurados e, entre estes e aqueles, 134 mártires.
Reflexões:
Na vida de Santo Inácio há muita coisa que nos pode servir de estímulo e de edificação. Vejamos alguns pontos apenas:
1. A conversão e santificação de Santo Inácio foi resultado da leitura de livros religiosos. Grande é o bem que um bom livro produz, como incalculáveis são as conseqüências da leitura de um livro mau. A perdição de muita gente teve início com a leitura de uma obra perversa. Muitos outros se conservaram bons ou voltaram ao bom caminho devido à influência benéfica da boa leitura que fizeram. Daí tira a conclusão e formula teus propósitos.
2. Só um interesse inspirou a vida de Santo Inácio: o da glória de Deus e da salvação das almas. A este interesse sacrificou e subordinou tudo. É próprio dos Santos fazer sempre e em tudo o que Deus quer, pospondo-lhe os interesses próprios. Fazer só o indispensavelmente necessário, com algum cuidado de evitar o pecado mortal, é característico dos tíbios. É mais perfeito procurar sempre o agrado de Deus e dirigir todos os atos à glória de Deus e à salvação da alma.
3. Santo Inácio era chamado o homem que está sempre em colóquio com Deus e vê o céu aberto. É claro: Do que o coração está cheio, a boca transborda. Os olhos procuram o que mais lhes agrada. De que natureza são tuas conversas ? Qual é o objeto de teu amor, de tuas aspirações ? Que é, a que mais se prendem teus pensamentos ?
4. A Santo Inácio eram muito correntes as palavras: “Vence-te a ti próprio !” A vida do Servo de Deus, desde o tempo da conversão, foi a fiel interpretação deste lema. Vencendo-se a si, tornou-se um grande Santo. O “vencer-se a si próprio” deve ser o programa de todos que pretendem chegar à perfeição. O mundo é um vale de lágrimas e misérias, porque o primeiro homem não se soube vencer. O inferno está cheio de homens que lá estão, porque não se souberam vencer. O céu regurgita de Santos, que devem a glória ao combate contínuo, que sustentaram contra a natureza. – “Vence-te a ti próprio” e terás garantida a tua salvação. “Não há outro caminho para a santidade senão o da abnegação e da mortificação. Anima-te, pois ! Começa resolutamente ! Uma única mortificação, feita com decisão, é mais agradável a Deus que praticar muitas boas obras”.
Fonte: Páginas Oriente/Santos
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