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quinta-feira, 23 de setembro de 2010

SÃO PAULO LANÇA MANIFESTO PELA DEMOCRACIA

Lançado em SP manifesto pela democracia
Ato reuniu juristas e personalidades no Largo de São Francisco.Ação ocorre após presidente Lula afirmar que imprensa age como partido.
Público ouve a leitura de manifesto no Largo de São Francisco (Foto: Epitácio Pessoa/Agência Estado)
Juristas, atores e intelectuais se reuniram na tarde desta quarta-feira (22) em frente ao Largo de São Francisco, no Centro de São Paulo, para lançar um manifesto a favor da liberdade de imprensa e de expressão. O ato foi organizado após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmar que a imprensa age como um partido político.

No sábado (18), durante comício de Dilma Rousseff em Campinas (SP), Lula afirmou que, além dos tucanos, serão derrotados "alguns jornais e revistas que se comportam como se fossem partido político e não tem coragem de dizer que são partido político".

A Associação Nacional de Jornais (ANJ) divulgou nota em que classifica as declarações de Lula como "lamentáveis" e "preocupantes".

O ato desta quarta, iniciativa de intelectuais ligados à oposição, teve a presença do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Carlos Veloso e dos juristas Miguel Reale Júnior e Hélio Bicudo, além de outras personalidades.

É inconcebível que uma das mais importantes democracias do mundo seja assombrada por uma forma de autoritarismo hipócrita”, afirmou Bicudo a centenas de pessoas reunidas no local.

"Nossa democracia está apenas no papel, ela não é efetiva", completou Bicudo, vice-prefeito de São Paulo na gestão Marta Suplicy (PT, 2001-2004).


Segundo o jurista José Gregori, que foi ministro da Justiça no governo Fernando Henrique Cardoso, a ideia do evento surgiu de "um grupo de advogados, juristas e professores universitários que vinham se reunindo no sentido de ajudar a oposição a ter um programa específico no campo jurídico".

Para ele, a "gota d’água" para o ato foi a repetição de manifestações do presidente da República "querendo extirpar inimigos”. "Esse ato é, antes de tudo, para repor essa disputa nos trilhos democráticos."


Para Miguel Reale Júnior, que também foi ministro da Justiça de FHC, a democracia está "ameaçada" no país. “Basta entrar nos sites do PT para ver as ameaças que estão sendo feitas a jornalistas, para saber qual o órgão de imprensa que tem que ser empastelado primeiro. Ou seja, há um clima de radicalização.”

O jurista Hélio Bicudo é erguido para ler manifesto pela liberdade de imprensa ao público de manifestação nesta quarta (22) em São Paulo. (Foto: Epitácio Pessoa/Agência Estado)

Nossa democracia está apenas no papel, ela não é efetiva"
Hélio Bicudo


INTEGRA DO MANIFESTO

“MANIFESTO EM DEFESA DA DEMOCRACIA"

Em uma democracia, nenhum dos Poderes é soberano. Soberana é a Constituição, pois é ela quem dá corpo e alma à soberania do povo.
“Acima dos políticos estão as instituições, pilares do regime democrático. Hoje, no Brasil, inconformados com a democracia representativa se organizam no governo para solapar o regime democrático.
“É intolerável assistir ao uso de órgãos do Estado como extensão de um partido político, máquina de violação de sigilos e de agressão a direitos individuais.
“É inaceitável que militantes partidários tenham convertido os órgãos da administração direta, empresas estatais e fundos de pensão em centros de produção de dossiês contra adversários políticos.
“É lamentável que o Presidente esconda no governo que vemos o governo que não vemos, no qual as relações de compadrio e da fisiologia, quando não escandalosamente familiares, arbitram os altos interesses do país, negando-se a qualquer controle.
“É inconcebível que uma das mais importantes democracias do mundo seja assombrada por uma forma de autoritarismo hipócrita, que, na certeza da impunidade, já não se preocupa mais nem mesmo em valorizar a honestidade.
“É constrangedor que o Presidente da República não entenda que o seu cargo deve ser exercido em sua plenitude nas vinte e quatro horas do dia. Não há ‘depois do expediente’ para um Chefe de Estado. É constrangedor também que ele não tenha a compostura de separar o homem de Estado do homem de partido, pondo-se a aviltar os seus adversários políticos com linguagem inaceitável, incompatível com o decoro do cargo, numa manifestação escancarada de abuso de poder político e de uso da máquina oficial em favor de uma candidatura. Ele não vê no ‘outro’ um adversário que deve ser vencido segundo regras da Democracia, mas um inimigo que tem de ser eliminado.
“É aviltante que o governo estimule e financie a ação de grupos que pedem abertamente restrições à liberdade de imprensa, propondo mecanismos autoritários de submissão de jornalistas e de empresas de comunicação às determinações de um partido político e de seus interesses.
“É repugnante que essa mesma máquina oficial de publicidade tenha sido mobilizada para reescrever a História, procurando desmerecer o trabalho de brasileiros e brasileiras que construíram as bases da estabilidade econômica e política, com o fim da inflação, a democratização do crédito, a expansão da telefonia e outras transformações que tantos benefícios trouxeram ao nosso povo.
“É um insulto à República que o Poder Legislativo seja tratado como mera extensão do Executivo, explicitando o intento de encabrestar o Senado. É deplorável que o mesmo Presidente lamente publicamente o fato de ter de se submeter às decisões do Poder Judiciário.
“Cumpre-nos, pois, combater essa visão regressiva do processo político, que supõe que o poder conquistado nas urnas ou a popularidade de um líder lhe conferem licença para ignorar a Constituição e as leis. Propomos uma firme mobilização em favor de sua preservação, repudiando a ação daqueles que hoje usam de subterfúgios para solapá-las. É preciso brecar essa marcha para o autoritarismo.
“Brasileiros erguem sua voz em defesa da Constituição, das instituições e da legalidade.
“Não precisamos de soberanos com pretensões paternas, mas de democratas convictos.”

ENTENDA O PORQUE DESTE MANIFESTO

DIA 18 DE SETEMBRO

'Vamos derrotar tucanos e alguns jornais e revistas', diz Lula em ato
Em comício de Dilma, presidente investe contra 'alguns jornais e revistas'.Setores da imprensa 'não têm coragem de dizer que têm candidato', afirma.
Maria Angélica Oliveira Do G1, em Campinas (SP)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante comício de Dilma Rousseff em Campinas neste sábado (18)

(Foto: Vanessa Carvalho/News Free/Agência Estado)

Dois dias após a saída da ex-ministra da Casa Civil, Erenice Guerra, desgastada por denúncias de tráfico de influência reveladas pela imprensa, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez neste sábado (18), durante comício em Campinas (SP), críticas severas ao que classificou como "alguns jornais e revistas que se comportam como partido político".
Em palanque da campanha de Dilma Rousseff à Presidência, Lula recomendou que a candidata não "perca o bom humor" por denúncias.

"Se mantenham tranquilos, porque outra vez, Dilma, nós não vamos derrotar apenas os nossos adversários tucanos. Nós vamos derrotar alguns jornais e revistas que se comportam como se fossem partido político e não tem coragem de dizer que são partido político, que têm candidato e não têm coragem de dizer que têm candidato, que não são democratas e pensam que são", disse o presidente.

Lula fez referência jocosa à revista semanal "Veja", que publicou no dia 11 a primeira denúncia sobre suposto tráfico de influência na Casa Civil e voltou ao tema na edição deste sábado.

"Eu fico vendo algumas revistas que vão sair na semana, sobretudo uma que não sei o nome dela, parece 'óia', nordestino falaria 'ói' . Ela destila ódio e mentira", afirmou o presidente.

O advogado da "Veja" Alexandre Fidalgo afirmou que as declarações do presidente Lula devem ser comentadas pela assessoria de imprensa do Grupo Abril a partir de segunda-feira.

Estava com coceira na língua' para falar, diz Lula

Ao início do discurso, Lula disse que estava com “coceira na língua” para falar. “A Dilma pediu para me conter, o presidente do partido pediu pra me conter, mas não vou me conter”, afirmou, seguido por gritos de "fala" do público.

“Estou com muita dúvida em relação ao que falar. Eu preciso ser um homem contido porque sou presidente da República e pelo fato de ser presidente eu preciso medir minhas palavras para que os nossos adversários não inventem coisas a meu respeito”, disse.

Ao longo do discurso vieram as críticas a "determinados setores" da imprensa.

"Tem dia em que determinados setores da imprensa brasileira chegam a ser uma vergonha. Se o dono do jornal lesse o seu jornal ou o dono da revista lesse a sua revista, eles ficariam com vergonha do que estão escrevendo exatamente neste momento. Eles falam em democracia, mas a democracia que eles não se conformam é ver o crescimento da economia. O que eles não se conformam é que um metalúrgico fez mais universidades do que os presidentes elitistas desse país", disse.

Duro nas críticas à imprensa, Lula optou por ironias e provocações nas referências ao PSDB e à candidatura de José Serra à Presidência.

Afirmou que, após eventual vitória de Aloizio Mercadante (PT) para o governo paulista, criaria um "Bolsa Famíia para tucanos não passarem fome em São Paulo".

"Você sabe que tucano come até o próprio filhote, eles são danados. Ninguém tem o bico daquele tamanho para nada. Não há colher que encha aquele bico de comida, então tem que ser um pessoal falador, prometedor. O pessoal está prometendo ate aumentar o salário mínimo", disse Lula, em referência à proposta de Serra de elevar o mínimo a R$ 600.

'Farsa'

O presidente do PT, José Eduardo Dutra, abriu os discursos no comício fazendo duras críticas às denúncias de tráfico de influência na Casa Civil e afirmando que o caso trata-se de uma ‘farsa’ produzida para atingir a campanha.
Ele disse que ‘falsos democratas’ fazem uma campanha ‘insidiosa’ contra o PT e chamou a atenção para a reta final da campanha, apelando para a militância ‘avermelhar’ o país.Dutra atacou o empresário Rubnei Quícoli, autor de parte das denúncias que culminaram na queda da ministra Erenice Guerra na Casa Civil, citando processos a que ele respondeu na Justiça. "De repente um cabra que foi condenado por fabricar dinheiro falso abre a boca pra falar mal da Dilma e recebe todos os holofotes. É a farsa que estão tentando do construir", atacou, aos gritos, sem citar o nome de Quícoli.O presidente do PT disse que as denúncias viram manchetes de jornais e vão parar na propaganda eleitoral adversária. "Não adianta a farsa, não adianta armação, não adianta produzir manchete contra nós porque esse mesmo povo que elegeu o Lula vai eleger a primeira mulher presidente da República.""Dizem que o Lula gosta de palanque, mas eles tem saudade daquele tempo em que o Brasil tinha governantes que gostavam de governar em cima dos tanques", disse. "Queria fazer um apelo a militância do meu partido, nesses dias que faltam, vamos 'avermelhar' Campinas, vamos 'avermelhar' São Paulo, vamos 'avermelhar' o Brasil."

DIA 20 DE SETEMBRO

Associação Nacional de Jornais lamenta crítica de Lula à imprensa
ANJ divulgou nota na qual lembra que missão dos veículos é informar.No sábado (18), Lula criticou jornais e revistas que agem como partidos.

A Associação Nacional de Jornais (ANJ) divulgou nota na qual diz ser lamentável e preocupante as declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante comício em Campinas, no sábado (18). Lula disse que, além dos tucanos, serão derrotados "alguns jornais e revistas que se comportam como se fossem partido político e não tem coragem de dizer que são partido político."A entidade lembrou que, em 2006, Lula assinou a declaração de Chapultepec, um documento hemisférico de compromisso com a liberdade de imprensa, e que na ocasião ele fez elogios à mídia e seu papel na democracia.
A ANJ lembrou que o papel da imprensa é "o de levar à sociedade toda informação, opinião e crítica que contribua para as opções informadas dos cidadãos, mesmo aquelas que desagradem os governantes".
Confira a íntegra da nota oficial"É lamentável e preocupante que o Presidente da República se aproxime do final de seu segundo mandato manifestando desconhecimento em relação ao papel da imprensa nas sociedades democráticas. Mais uma vez, provavelmente levado pelo calor de um comício, o presidente Lula afirmou neste sábado, em Campinas, que “vamos derrotar alguns jornais e revistas que se comportam como partido político”, dizendo, em seguida, ainda referindo-se à imprensa, que “essa gente não me tolera”.É lamentável que o chefe de Estado tenha esquecido suas próprias palavras, pronunciadas no Palácio do Planalto, no dia 3 de maio de 2006, ao assinar a declaração de Chapultepec (um documento hemisférico de compromisso com a liberdade de imprensa). Na ocasião, ele declarou textualmente: “... eu devo à liberdade de imprensa do meu país o fato de termos conseguido, em 20 anos, chegar à Presidência da República do Brasil. Perdi três eleições. Eu duvido que tenha um empresário de imprensa que, em algum momento, tenha me visto fazer uma reclamação ou culpando alguém porque eu perdi as eleições.”
O papel da imprensa, convém recordar, é o de levar à sociedade toda informação, opinião e crítica que contribua para as opções informadas dos cidadãos, mesmo aquelas que desagradem os governantes. Convém lembrar também, que ele jamais criticou o trabalho jornalístico quando as informações tinham implicações negativas para seus opositores.Brasília, 18 de setembro de 2010Associação Nacional de Jornais"

DIA 21 DE SETEMBRO

Lula critica imprensa e diz que 'povo sabe' quando denúncia é mentira
‘Liberdade de imprensa não significa que pode inventar coisa’, afirmou.Presidente disse que já foi ‘vítima’ de denúncias em época de campanha.
Nathalia Passarinho Do G1, em Brasília


Presidente Lula durante percurso em tremna Ferrovia Norte-Sul (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou nesta terça-feira (21) a criticar a imprensa pela publicação de denúncias envolvendo membros do governo. Segundo Lula, a garantia de liberdade de imprensa não pode justificar a publicação de "mentiras".
“Acho que liberdade de imprensa é uma coisa sagrada. Agora, a liberdade de imprensa não significa que você pode inventar coisa o dia inteiro, significa que você deve orientar corretamente a opinião pública”, disse durante cerimônia de inauguração de trecho da ferrovia Norte-Sul, em Porto Nacional (TO).
Consultada pelo G1, a Associação Nacional de Jornais (ANJ) disse que mantém a posição manifestada na nota divulgada no último domingo (19), quando lamentou as declarações feitas pelo presidente em um comício realizado no dia anterior. Ao lado da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, Lula disse que, além dos tucanos, serão derrotados "alguns jornais e revistas que se comportam como se fossem partido político e não tem coragem de dizer que são partido político."
Em resposta à declaração, a ANJ disse, em nota, ser "lamentável e preocupante que o presidente da República se aproxime do final de seu segundo mandato manifestando desconhecimento em relação ao papel da imprensa nas sociedades democráticas."No discurso desta tarde tarde, Lula disse que alguns veículos de comunicação demonstram "ódio" e torcem para que ele fracasse. "Vocês estão acompanhando a imprensa, veem pela internet, assistem a televisão,ouvem rádio, e vocês veem, às vezes, chega quase a virar ódio, porque eles ficam torcendo para o Lula fracassar."
O presidente disse que já foi "vítima" de acusações em épocas de campanha. De acordo com ele, os brasileiros não são facilmente manipuláveis e sabem discernir quando as denúncias são verdadeiras.
“Chega na época da campanha, eu já fui vitima do que está acontecendo hoje. O que eles não percebem é que nós aprendemos. O povo de 2010 não é mais massa de manobra como era o povo de 30 anos atrás", disse. "Não podem colocar mais alguém para mentir e o povo acreditar. O povo sabe que quando escreve coisa errada é mentira, quando fala coisa errada é mentira, o povo sabe quando é mentira", afirmou.
Na semana passada Erenice Guerra deixou a chefia da Casa Civil depois de acusações de que o filho dela Israel Guerra teria negociado contratos de empresas privadas com órgãos públicos e estatais mediante pagamento de comissão. Outros dois funcionários da Casa Civil, supostamente envolvidos no esquema, também pediram demissão.

Fonte: Do G1 SP, com informações da TV Globo

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