Francisco aparece como modelo de contemplação, à qual são chamados todos os cristãos, ao menos remotamente e de modo suficiente.
Dentre os três pastorinhos, Francisco parece ser aquele que mais profundamente captou o sobre¬natural de Fátima.
A vida do Francisco contempla¬tivo é apelo de almas contemplativas, almas que se deixem enamorar de Deus e mergulhem profunda¬mente no seu mistério, almas que façam do silêncio o espaço vital das suas comunicações com Deus. Por elas, Deus torna-se presente no meio dos homens. Bem necessárias são essas almas, para que o deserto de Deus se torne oásis.
O Francisco chama por elas. Era um encanto vê-lo sentado nos penedos mais altos a tocar o pífaro e a cantar: “Amo a Deus no Céu. Amo-o também na terra, amo o campo, as flores. Amo as ovelhas na serra”.
Na natureza sabia descobrir o rasto de Deus; por isso contemplava extasiado o lindo nascer e pôr do sol, o seu reflexo nas vidraças das janelas ou nas gotas de orvalho.
Como Francisco de Assis, amava os passarinhos, porque são criaturas de Deus. Partia o pão para eles em pedacinhos pequenos, em cima dos penedos; chamava por eles: “Coitadinhos! Estão cheios de fome. Venham, venham comer”.
Depois de ver o Anjo e receber a Sagrada Comunhão, não conseguiu dormir naquela noite, absorto na contemplação dessas maravilhas: “Eu sentia que Deus estava em mim, mas não sabia como era”, dizia; e prostrado por terra permanecia longo tempo a repetir a oração do Anjo: “Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo…”
Não se impressionou muito com a visão do inferno, mas ficava absorto na contemplação da Santíssima Trin¬dade; na contemplação de Deus que se lhe manifes¬tou nessa luz imensa que penetrou até ao mais íntimo da alma. “Nós estávamos a arder, naquela luz que é Deus e não nos queimávamos. Como é Deus!!! Não se pode dizer! Isto, sim, que a gente nunca pode dizer! Mas que pena Ele estar tão triste! Se eu o pudesse consolar!” Neste estado de alma que Francisco nos descreve reconhecemos muitas das características psicológicas da contemplação: Pre¬sença de Deus sentida; invasão da alma pelo sobrenatural; impossibilidade de produzir este estado de alma por si própria; maior passividade que activi¬dade pessoal; conhecimento experimental de Deus, obscuro e confuso; certeza de encontrar-se sob a acção a de Deus; estado de que não se sabe falar; impulso para a vivência das virtudes cristãs.
O contemplativo ama o silêncio, a solidão exterior, para com maior serenidade mergulhar no mistério de Deus. Por isso, tantas vezes o foram encontrar sozi¬nho, detrás de alguma pedrita, arbusto ou silvado, de joelhos ou prostrado: “Gosto mais de rezar sozinho”, dizia tantas vezes, “para pensar e consolar a Nosso Senhor”! Por isso passava horas e horas jun¬to de “Jesus escondido”. Quando já não podia ir, pedia à Lúcia que fosse na sua vez: “Dá muitas saudades minhas a Jesus escondido”.
Fonte: TV Portugal
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