Pároco conta alegrias e tristezas de ser sacerdote hoje
Padre Luigi Pellegrini, de Santa Rita em Viareggio
Por Antonio Gaspari
Padre Luigi Pellegrini, de Santa Rita em Viareggio
Por Antonio Gaspari
ROMA,
- Segundo o Anuário Estatístico da Igreja (edição de 2008), há 407.262 padres no mundo. Deles, uma grande parte desempenha a tarefa de pároco. Guia, aconselha, dá assistência, forma comunidades locais, pessoas e famílias.
Seu papel tem um aspecto religioso, social e civil insubstituível. Todavia, certa cultura secularizada ataca, critica e é incrédula quanto aos párocos e sacerdotes.
Neste contexto e em pleno “Ano Sacerdotal”, ZENIT entrevistou Luigi Pellegrini, pároco desde 2000 da igreja Santa Rita, em Viareggio (12.000 habitantes), Itália.
Nascido em Camaiore, dia 17 de março de 1966, pe. Luigi se licenciou em Teologia Espiritual no Instituto Pontifício “Teresianum” de Roma, em 1997, e está inscrito no mesmo Instituto para o doutorado em Teologia Espiritual. É professor da “Escola Teológica” para leigos, onde ministra cursos sobre a eucaristia para seminaristas no “Estúdio Teológico Interdiocesano de Camaiore”.
Sua paróquia é uma das que mais atraem fiéis em Viareggio, a qual também promove vários encontros de alto nível, tanto espiritual como cultural.
–Em num mundo que parece cada vez mais secularizado, como se explicariam as razões que movem muitas pessoas a seguir a vocação ao sacerdócio?
–Pe. Luigi: Em sua vida, no momento em que a fé não permanece exterior, mas interpele concretamente, cresce em você em entusiasmo de poder fazer dela uma resposta da sua vida. Nossa religião te coloca diante de um encontro pessoal, concreto e capaz de preencher sua existência.
É verdade que hoje o mundo está bem organizado para levar os corações até outras perspectivas, a fim de confundir e enfraquecer. Mas depois de certo tempo, nada disso mais basta. Encontra-se Jesus, conhece-o e no momento em que responde “sim”, a alegria se faz concreta e, portanto, verificável em sua vida diária.
Talvez nós, como Igreja, também percamos muitas oportunidades para levar os homens até a dimensão espiritual da vida. O espírito, entretanto, através de caminhos simples, sabe conduzir à busca de Deus e a experimentar que o amor por Ele não é utopia, mas se faz o verdadeiro sentido à vida.
–Como foi o seu chamado? –Pe. Luigi: Recebi como grande presente uma família cristã, pobre de coisas materiais, mas rica em humanidade. Meus pais foram capazes de me acompanhar no descobrimento das verdades de Deus, com fatos e com uma singela profundidade de fé concreta e por isso ainda mais incisiva. Nasci dia 17 de março de 1966, 12 anos depois do casamento de meus pais. Num ano em que meu pai, tendo que enfrentar um tumor, pensava em tudo, menos em ter um filho.
Justo no período menos esperado, o Senhor me chamou à vida. Eles, sem possibilidades econômicas, preocupados em como manter um filho, não se renderam e, de forma resistente, e com grande dignidade e fé, conseguiram lidar bem com aquele determinado momento.
Meu pai morreu quando eu tinha dez anos e aos 14 entrei no seminário menor de Lucca. Por que a essa idade? Tive de deixar, naquele momento, muito do que era importante para mim: meu pai, minha mãe –que ficava sozinha–, minha paróquia, na qual desempenhava diversas atividades, amigos...
Lembro-me ainda, de modo claro, que sentia que tinha de dizer “sim” a um chamado que a oração me havia me ajudado a discernir: os grupos vocacionais daqueles anos, tal como o entusiasmo de sentir que aquela paróquia me pertencia e que eu fazia parte dela.
Não posso dizer que ninguém me condicionou. Ao contrário. Pensando de novo sobre isso, me propus a prestar muita atenção para seguir as eventuais vocações que o Senhor colocasse em meu caminho.
Sentia crescer a cada ano, a alegria de me aproximar do sacerdócio. Não foi sempre fácil. Cresci conforme a idade e ao mesmo tempo também minha espiritualidade se transformava, adquirindo maior consciência a respeito da entrega de uma vida que devia ser cada vez mais plena e definitiva. Estava muito impaciente.
Acredito cada vez mais que o Senhor me deu esta vocação não por ser melhor ou caracterizada por dons especiais, e sim porque necessitava encontrar um caminho e uma resposta forte, que deve ser reconfirmada a cada dia, para que eu possa me salvar verdadeiramente. A dádiva da vocação se converte na proteção e apoio à própria fraqueza.–Ser padre hoje, especialmente em uma cidade como a sua, onde durante muito tempo dominou a ideologia anticlerical, não é fácil. Quais são as maiores dificuldades para difundir as palavras de Cristo?
–Pe. Luigi: A cidade de Viareggio pode parecer imersa no mar e no carnaval e por muitos aspectos realmente está. Mas agradeço cada dia ao Senhor por minha experiência de padre (18 anos em cinco contextos diferentes) nesta cidade. Conheci homens e mulheres que, através de diferentes formações espirituais, fizeram do Senhor e da vida da Igreja um verdadeiro sentido a própria vida. Com frequência os leigos têm sido para mim promotores de iniciativas e experiências espirituais que se manifestaram importantes à comunidade. Aproximei o mundo do espaço paroquial juvenil, descobrindo nele um estilo que me ajudou a crescer como sacerdote. Uma comunidade aberta, onde alguém te acolhe e está disposto a fazer contigo parte do caminho até o Reino.
Do mais, a realidade dos movimentos e dos leigos pertencentes a caminhos formativos e comunidades eclesiásticas me fez conhecer os homens, mulheres e jovens que fizeram do anúncio Evangélico e do próprio testemunho um significado à vida.
Nestes anos compreendi que nós, sacerdotes, não podemos individualizar nosso modo de ver a Igreja e o mundo. Os homens, assim como nossa vocação, necessitam de uma forte dimensão espiritual e formação.
Para nós, padres, é extremamente perigoso nos convencermos de que temos direito a uma vida privada, a um pequeno grupo nosso de seguidores fiéis, e organizar uma pastoral privada que não nos incomode. O entusiasmo de poder promover como padre uma comunidade que sirva ao homem sempre me ajudou. Especialmente porque estou convencido de que Jesus é a verdadeira resposta à pergunta do sentido verdadeiro da vida do homem.
A dificuldade mais frequente é ter de explicar às pessoas o verdadeiro significado de ser cristão católico: quer dizer, a proximidade com os sacramentos, a Eucaristia dominical, a escuta da palavra de Deus, a oração, a unidade com o Papa, sobretudo quando se compreende que seus diversos pontos de vista derivam da amizade com um sacerdote.
Nesses casos, sempre supondo que entenderam mal, explico a beleza e necessidade do encontro físico e real com Jesus, alimento de Vida, que podemos experimentar e doar unidos à Igreja.
–Poucos, inclusive aqueles que mais a frequentam, conhecem e refletem sobre a importância social da paróquia. Poderia nos explicar como as atividades paroquiais influenciam na educação dos jovens e na vida social das famílias e da comunidade local?
–Pe. Luigi: Acredito que poderíamos ter ainda uma grande incidência na comunidade social como paróquias. Experimento isso hoje em dia, tendo uma paróquia de 12.000 habitantes... Quantos encontros e experiências de vidas difíceis! Certamente devemos enfatizar que hoje, como Igreja, temos menos incidência nas estruturas sociais. Mas como paróquias, podemos mais que nunca introduzir lugares de encontro para famílias a indivíduos para que todos colaborem na construção de um mundo melhor.
Não devemos nos desanimar se muitos nos consideram como “distribuidores” de sacramentos. Todas, inclusive esta, são oportunidades para encontrar e tentar uma mudança na forma de pensar. Não podemos permitir que fiquemos atrás, esperando alguma mudança. O fato é que as pessoas não entendem. Com frequência construímos uma pastoral que evita tradições, encontros, adoração, missas, confissão, devoção a Maria; para substituir tudo isso, propomos o “vazio” ou alguma iniciativa que possa ser manipulada politicamente, talvez não em sintonia com o Santo Padre. Assim certamente o sacerdote tem mais tempo livre para si e para os poucos que o cercam. Porém, perde a beleza de entregar-se totalmente, experimentando a alegria da própria vocação e a identidade verdadeira do próprio sacerdócio.
–Quais momentos são difíceis na vida de um padre e quais são os de maior satisfação?
–Pe. Luigi: Hoje é difícil fazer compreender o valor da perseverança nas decisões da vida e no caminho da fé. Fica difícil aproximar de quem, como os padres, têm responsabilidade educativa. Enquanto ainda resiste o voluntariado, se torna cada vez mais difícil ter disponibilidade para a formação e a catequese por parte dos adultos. É muito difícil aconselhar e educar os filhos e jovens na dimensão da escuta, da meditação, do sacrifício e do respeito às pessoas e às coisas. É um grande desafio hoje não só nos âmbitos religiosos, se queremos pensar em um mundo melhor.
Certamente não faltam ocasiões de grande satisfação para um sacerdote: começando por cada Eucaristia, que mesmo celebrada todos os domingos, cada vez é um grande milagre de graça que nos permite experimentar especialmente a união ao sacrifício de Cristo e a possibilidade de encontrar a cada domingo, rezando, todos aqueles que o Senhor confiou. A outra grande oportunidade é estar à disposição de todos no sacramento da Reconciliação. Deus não nos elegeu precisamente para manifestar seu amor e misericórdia.
Outro momento especial de graça é quando podemos partilhar com muitos irmãos e irmãs a sua fase de conversão: do distanciamento para compartilhar a alegria do renascimento. Experimentando a proximidade com aqueles que não sofrem apenas de reproduzir profissionais frases pré-fabricadas, mas a capacidade de compartilhar a experiência que leva você à entrega total a Deus.
Outra oportunidade para grande alegria é quando alguém se sente capaz de dizer "sim" ao chamado de Deus para sua própria vocação.–Se tivesse de explicar a um jovem a beleza do sacerdócio, o que diria?
–Pe. Luigi: Primeiro, certifique-se de que tal chamado não é por seus méritos, e sim porque constata um amor especial por Jesus. Quando experimentar isso como um convite, não permanecerá indiferente.
Logo, os anos de estudo e de formação são uma ocasião para conhecer Aquele que por ele dá a vida e que te faz mais seguro para se converter em anunciador não suas verdades, mas da única Verdade que pode salvar toda a humanidade.
Quando sente que é verdade para ti, nada pode te deter e, portanto, a característica espontânea de um jovem se volta para os outros. O que logo te reforça e confirma sua decisão é descobrir a presença de Maria e a intercessão especial de toda a Igreja do céu que, através dos escritos de santos e seu testemunho de vida, te ajuda a crescer na dimensão espiritual e na oração.
Por último e não menos importante, recomendaria sentir intensamente a unidade com o Papa, que orienta e dá sentido ao nosso sacerdócio, tornando-se um símbolo de unidade com Cristo.
Quero tratar de modo especial também outro aspecto da vida sacerdotal: o celibato. Pode parecer que impõe limite ao amor ou quem sabe reduza as vocações. Não é assim. Posso compreender que diga isso quem não vive a experiência da Igreja, mas me parece difícil compreender que tais afirmações possam derivar de nossos contextos.
Sinto-me capaz de testemunhar o contrário, que é um grande dom da Igreja Católica para os próprios sacerdotes. É a consequência natural de uma consagração. Enriquece a própria eleição na totalidade da entrega e se converte cada vez mais em testemunho para todos aqueles que acreditam na realidade do céu.
O fato é que a exclusividade da própria vida pelo Senhor não tira nada. Pelo contrário, te enriquece. Afirmar o contrário empobrece o valor sacrifical de nosso “ser sacerdote”.
–Quais são as iniciativas culturais e religiosas que propõe para reforçar a identidade e a fraternidade sacerdotal? –Pe. Luigi: Dar aos padres ocasiões para se afirmarem na fé através da troca de experiências, não para julgar o outro, mas para que haja um enriquecimento mútuo, de maneira que a amizade cresça e que a estima seja recíproca. Por exemplo, aproveitar a grande ocasião que Bento XVI nos ofereceu neste ano, através do Ano Sacerdotal.
Deveria introduzir a todos, ajudados pelos bispos, no descobrimento da própria identidade dos homens e de chamados. Redescobrir a essência de uma vida entregue totalmente, sem compromissos, sempre orientados a reconhecer a benevolência de Deus e por isso capazes de renovar a Jesus, sem temer, o próprio amor.
Não acredito que para ser sacerdote seja preciso buscar uma vida simples, facilmente aceita pelo mundo todo, entretanto devemos fazer crescer nossa pertença à Igreja, que nos acolheu, nos formou, nos direciona através dos bispos, segue vigiando, dirigindo e corrigindo eventuais visões menos católicas ou individuais que tenhamos.
A Igreja é uma mãe e nela devo sentir que não estamos sozinhos, mas que compartilhamos e enfrentamos eventuais desafios do mundo de hoje.
Seu papel tem um aspecto religioso, social e civil insubstituível. Todavia, certa cultura secularizada ataca, critica e é incrédula quanto aos párocos e sacerdotes.
Neste contexto e em pleno “Ano Sacerdotal”, ZENIT entrevistou Luigi Pellegrini, pároco desde 2000 da igreja Santa Rita, em Viareggio (12.000 habitantes), Itália.
Nascido em Camaiore, dia 17 de março de 1966, pe. Luigi se licenciou em Teologia Espiritual no Instituto Pontifício “Teresianum” de Roma, em 1997, e está inscrito no mesmo Instituto para o doutorado em Teologia Espiritual. É professor da “Escola Teológica” para leigos, onde ministra cursos sobre a eucaristia para seminaristas no “Estúdio Teológico Interdiocesano de Camaiore”.
Sua paróquia é uma das que mais atraem fiéis em Viareggio, a qual também promove vários encontros de alto nível, tanto espiritual como cultural.
–Em num mundo que parece cada vez mais secularizado, como se explicariam as razões que movem muitas pessoas a seguir a vocação ao sacerdócio?
–Pe. Luigi: Em sua vida, no momento em que a fé não permanece exterior, mas interpele concretamente, cresce em você em entusiasmo de poder fazer dela uma resposta da sua vida. Nossa religião te coloca diante de um encontro pessoal, concreto e capaz de preencher sua existência.
É verdade que hoje o mundo está bem organizado para levar os corações até outras perspectivas, a fim de confundir e enfraquecer. Mas depois de certo tempo, nada disso mais basta. Encontra-se Jesus, conhece-o e no momento em que responde “sim”, a alegria se faz concreta e, portanto, verificável em sua vida diária.
Talvez nós, como Igreja, também percamos muitas oportunidades para levar os homens até a dimensão espiritual da vida. O espírito, entretanto, através de caminhos simples, sabe conduzir à busca de Deus e a experimentar que o amor por Ele não é utopia, mas se faz o verdadeiro sentido à vida.
–Como foi o seu chamado? –Pe. Luigi: Recebi como grande presente uma família cristã, pobre de coisas materiais, mas rica em humanidade. Meus pais foram capazes de me acompanhar no descobrimento das verdades de Deus, com fatos e com uma singela profundidade de fé concreta e por isso ainda mais incisiva. Nasci dia 17 de março de 1966, 12 anos depois do casamento de meus pais. Num ano em que meu pai, tendo que enfrentar um tumor, pensava em tudo, menos em ter um filho.
Justo no período menos esperado, o Senhor me chamou à vida. Eles, sem possibilidades econômicas, preocupados em como manter um filho, não se renderam e, de forma resistente, e com grande dignidade e fé, conseguiram lidar bem com aquele determinado momento.
Meu pai morreu quando eu tinha dez anos e aos 14 entrei no seminário menor de Lucca. Por que a essa idade? Tive de deixar, naquele momento, muito do que era importante para mim: meu pai, minha mãe –que ficava sozinha–, minha paróquia, na qual desempenhava diversas atividades, amigos...
Lembro-me ainda, de modo claro, que sentia que tinha de dizer “sim” a um chamado que a oração me havia me ajudado a discernir: os grupos vocacionais daqueles anos, tal como o entusiasmo de sentir que aquela paróquia me pertencia e que eu fazia parte dela.
Não posso dizer que ninguém me condicionou. Ao contrário. Pensando de novo sobre isso, me propus a prestar muita atenção para seguir as eventuais vocações que o Senhor colocasse em meu caminho.
Sentia crescer a cada ano, a alegria de me aproximar do sacerdócio. Não foi sempre fácil. Cresci conforme a idade e ao mesmo tempo também minha espiritualidade se transformava, adquirindo maior consciência a respeito da entrega de uma vida que devia ser cada vez mais plena e definitiva. Estava muito impaciente.
Acredito cada vez mais que o Senhor me deu esta vocação não por ser melhor ou caracterizada por dons especiais, e sim porque necessitava encontrar um caminho e uma resposta forte, que deve ser reconfirmada a cada dia, para que eu possa me salvar verdadeiramente. A dádiva da vocação se converte na proteção e apoio à própria fraqueza.–Ser padre hoje, especialmente em uma cidade como a sua, onde durante muito tempo dominou a ideologia anticlerical, não é fácil. Quais são as maiores dificuldades para difundir as palavras de Cristo?
–Pe. Luigi: A cidade de Viareggio pode parecer imersa no mar e no carnaval e por muitos aspectos realmente está. Mas agradeço cada dia ao Senhor por minha experiência de padre (18 anos em cinco contextos diferentes) nesta cidade. Conheci homens e mulheres que, através de diferentes formações espirituais, fizeram do Senhor e da vida da Igreja um verdadeiro sentido a própria vida. Com frequência os leigos têm sido para mim promotores de iniciativas e experiências espirituais que se manifestaram importantes à comunidade. Aproximei o mundo do espaço paroquial juvenil, descobrindo nele um estilo que me ajudou a crescer como sacerdote. Uma comunidade aberta, onde alguém te acolhe e está disposto a fazer contigo parte do caminho até o Reino.
Do mais, a realidade dos movimentos e dos leigos pertencentes a caminhos formativos e comunidades eclesiásticas me fez conhecer os homens, mulheres e jovens que fizeram do anúncio Evangélico e do próprio testemunho um significado à vida.
Nestes anos compreendi que nós, sacerdotes, não podemos individualizar nosso modo de ver a Igreja e o mundo. Os homens, assim como nossa vocação, necessitam de uma forte dimensão espiritual e formação.
Para nós, padres, é extremamente perigoso nos convencermos de que temos direito a uma vida privada, a um pequeno grupo nosso de seguidores fiéis, e organizar uma pastoral privada que não nos incomode. O entusiasmo de poder promover como padre uma comunidade que sirva ao homem sempre me ajudou. Especialmente porque estou convencido de que Jesus é a verdadeira resposta à pergunta do sentido verdadeiro da vida do homem.
A dificuldade mais frequente é ter de explicar às pessoas o verdadeiro significado de ser cristão católico: quer dizer, a proximidade com os sacramentos, a Eucaristia dominical, a escuta da palavra de Deus, a oração, a unidade com o Papa, sobretudo quando se compreende que seus diversos pontos de vista derivam da amizade com um sacerdote.
Nesses casos, sempre supondo que entenderam mal, explico a beleza e necessidade do encontro físico e real com Jesus, alimento de Vida, que podemos experimentar e doar unidos à Igreja.
–Poucos, inclusive aqueles que mais a frequentam, conhecem e refletem sobre a importância social da paróquia. Poderia nos explicar como as atividades paroquiais influenciam na educação dos jovens e na vida social das famílias e da comunidade local?
–Pe. Luigi: Acredito que poderíamos ter ainda uma grande incidência na comunidade social como paróquias. Experimento isso hoje em dia, tendo uma paróquia de 12.000 habitantes... Quantos encontros e experiências de vidas difíceis! Certamente devemos enfatizar que hoje, como Igreja, temos menos incidência nas estruturas sociais. Mas como paróquias, podemos mais que nunca introduzir lugares de encontro para famílias a indivíduos para que todos colaborem na construção de um mundo melhor.
Não devemos nos desanimar se muitos nos consideram como “distribuidores” de sacramentos. Todas, inclusive esta, são oportunidades para encontrar e tentar uma mudança na forma de pensar. Não podemos permitir que fiquemos atrás, esperando alguma mudança. O fato é que as pessoas não entendem. Com frequência construímos uma pastoral que evita tradições, encontros, adoração, missas, confissão, devoção a Maria; para substituir tudo isso, propomos o “vazio” ou alguma iniciativa que possa ser manipulada politicamente, talvez não em sintonia com o Santo Padre. Assim certamente o sacerdote tem mais tempo livre para si e para os poucos que o cercam. Porém, perde a beleza de entregar-se totalmente, experimentando a alegria da própria vocação e a identidade verdadeira do próprio sacerdócio.
–Quais momentos são difíceis na vida de um padre e quais são os de maior satisfação?
–Pe. Luigi: Hoje é difícil fazer compreender o valor da perseverança nas decisões da vida e no caminho da fé. Fica difícil aproximar de quem, como os padres, têm responsabilidade educativa. Enquanto ainda resiste o voluntariado, se torna cada vez mais difícil ter disponibilidade para a formação e a catequese por parte dos adultos. É muito difícil aconselhar e educar os filhos e jovens na dimensão da escuta, da meditação, do sacrifício e do respeito às pessoas e às coisas. É um grande desafio hoje não só nos âmbitos religiosos, se queremos pensar em um mundo melhor.
Certamente não faltam ocasiões de grande satisfação para um sacerdote: começando por cada Eucaristia, que mesmo celebrada todos os domingos, cada vez é um grande milagre de graça que nos permite experimentar especialmente a união ao sacrifício de Cristo e a possibilidade de encontrar a cada domingo, rezando, todos aqueles que o Senhor confiou. A outra grande oportunidade é estar à disposição de todos no sacramento da Reconciliação. Deus não nos elegeu precisamente para manifestar seu amor e misericórdia.
Outro momento especial de graça é quando podemos partilhar com muitos irmãos e irmãs a sua fase de conversão: do distanciamento para compartilhar a alegria do renascimento. Experimentando a proximidade com aqueles que não sofrem apenas de reproduzir profissionais frases pré-fabricadas, mas a capacidade de compartilhar a experiência que leva você à entrega total a Deus.
Outra oportunidade para grande alegria é quando alguém se sente capaz de dizer "sim" ao chamado de Deus para sua própria vocação.–Se tivesse de explicar a um jovem a beleza do sacerdócio, o que diria?
–Pe. Luigi: Primeiro, certifique-se de que tal chamado não é por seus méritos, e sim porque constata um amor especial por Jesus. Quando experimentar isso como um convite, não permanecerá indiferente.
Logo, os anos de estudo e de formação são uma ocasião para conhecer Aquele que por ele dá a vida e que te faz mais seguro para se converter em anunciador não suas verdades, mas da única Verdade que pode salvar toda a humanidade.
Quando sente que é verdade para ti, nada pode te deter e, portanto, a característica espontânea de um jovem se volta para os outros. O que logo te reforça e confirma sua decisão é descobrir a presença de Maria e a intercessão especial de toda a Igreja do céu que, através dos escritos de santos e seu testemunho de vida, te ajuda a crescer na dimensão espiritual e na oração.
Por último e não menos importante, recomendaria sentir intensamente a unidade com o Papa, que orienta e dá sentido ao nosso sacerdócio, tornando-se um símbolo de unidade com Cristo.
Quero tratar de modo especial também outro aspecto da vida sacerdotal: o celibato. Pode parecer que impõe limite ao amor ou quem sabe reduza as vocações. Não é assim. Posso compreender que diga isso quem não vive a experiência da Igreja, mas me parece difícil compreender que tais afirmações possam derivar de nossos contextos.
Sinto-me capaz de testemunhar o contrário, que é um grande dom da Igreja Católica para os próprios sacerdotes. É a consequência natural de uma consagração. Enriquece a própria eleição na totalidade da entrega e se converte cada vez mais em testemunho para todos aqueles que acreditam na realidade do céu.
O fato é que a exclusividade da própria vida pelo Senhor não tira nada. Pelo contrário, te enriquece. Afirmar o contrário empobrece o valor sacrifical de nosso “ser sacerdote”.
–Quais são as iniciativas culturais e religiosas que propõe para reforçar a identidade e a fraternidade sacerdotal? –Pe. Luigi: Dar aos padres ocasiões para se afirmarem na fé através da troca de experiências, não para julgar o outro, mas para que haja um enriquecimento mútuo, de maneira que a amizade cresça e que a estima seja recíproca. Por exemplo, aproveitar a grande ocasião que Bento XVI nos ofereceu neste ano, através do Ano Sacerdotal.
Deveria introduzir a todos, ajudados pelos bispos, no descobrimento da própria identidade dos homens e de chamados. Redescobrir a essência de uma vida entregue totalmente, sem compromissos, sempre orientados a reconhecer a benevolência de Deus e por isso capazes de renovar a Jesus, sem temer, o próprio amor.
Não acredito que para ser sacerdote seja preciso buscar uma vida simples, facilmente aceita pelo mundo todo, entretanto devemos fazer crescer nossa pertença à Igreja, que nos acolheu, nos formou, nos direciona através dos bispos, segue vigiando, dirigindo e corrigindo eventuais visões menos católicas ou individuais que tenhamos.
A Igreja é uma mãe e nela devo sentir que não estamos sozinhos, mas que compartilhamos e enfrentamos eventuais desafios do mundo de hoje.
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