PAPA RECEBE BISPOS DOS REGIONAIS SUL 3 E 4 DA CNBB
Cidade do Vaticano,
- Bento XVI recebeu em audiência, ontem, sábado, os bispos dos Regionais Sul 3 e 4 (Rio Grande do Sul e Santa Catarina) da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em visita ad Limina. O papa agradeceu ao arcebispo de Florianópolis, Dom Murilo Krieger, pelas palavras de estima dirigidas a ele em nome de todos os bispos e do povo catarinense e gaúcho a eles confiado. O Santo Padre falou sobre a cultura, ressaltando "que o pensamento se dirige para dois lugares clássicos onde a mesma se forma e comunica – a universidade e a escola –, fixando a atenção principalmente nas comunidades acadêmicas que nasceram à sombra do humanismo cristão e nele se inspiram, honrando-se do nome católicas".Bento XVI fez um apelo para que a escola possa, "numa convicta sinergia com as famílias e com a comunidade eclesial, promover aquela unidade entre fé, cultura e vida que constitui a finalidade fundamental da educação cristã".Além disso, o pontífice sublinhou que a escola católica não pode ser pensada nem vivida separadamente das outras instituições educacionais. Ela "está a serviço da sociedade: desempenha uma função pública e um serviço de pública utilidade, não reservado apenas aos católicos, mas aberto a todos os que queiram usufruir de uma proposta educacional qualificada" – firou o papa. O Santo Padre citou o artigo 26 da Declaração Universal dos Direitos Humanos que afirma: "os pais têm direito de prioridade na escolha do gênero de educação a ser ministrada aos próprios filhos". "O empenho plurissecular da escola católica situa-se nesta direção, impelido por uma força ainda mais radical, ou seja, a força que faz de Cristo o centro do processo educacional" – frisou ainda Bento XVI.Ainda em seu discurso, o papa agradeceu às congregações religiosas que fundaram no Brasil renomeadas universidades, "lembrando que elas não são uma propriedade de quem as fundou ou de quem as freqüenta, mas expressão da Igreja e do seu patrimônio de fé".Bento XVI recordou também que em agosto passado a Instrução "Libertatis nuntius" da Congregação para a Doutrina da Fé, sobre alguns aspectos da teologia da libertação, completou 25 anos.Enfim, o papa concluiu pedindo ao Senhor que derrame a abundância da sua Luz sobre todas as escolas brasileiras, confiando seus protagonistas à proteção da Virgem Maria. O Santo Padre concedeu aos sacerdotes, aos religiosos e religiosas, aos leigos engajados e a todos os fiéis brasileiros das dioceses catarinenses e gaúchas a sua bênção apostólica. (MJ)
DISCURSOS NA ÍNTEGRA
Leia a seguir, na íntegra, o discurso de Bento XVI aos bispos dos Regionais Sul 3 e 4 e a saudação do presidente do Regional Sul 4, Dom Murilo Krieger, ao Santo Padre:
DISCURSO DO PAPA
Venerados Irmãos no Episcopado,Dou as boas-vindas e saúdo a todos e cada um de vós, ao receber-vos colegialmente no quadro da vossa visita ad limina. Agradeço a Dom Murilo Krieger as expressões de devotada estima que me dirigiu em nome de todos vós e do povo confiado aos vossos cuidados pastorais nos Regionais Sul 3 e 4, expondo também os seus desafios e esperanças. Ouvindo estas coisas, sinto elevarem-se do meu coração ações de graças ao Senhor pelo dom da fé misericordiosamente concedido às vossas comunidades eclesiais e por elas zelosamente conservado e arduamente transmitido, em obediência ao mandato que Jesus nos deixou de levar a sua Boa Nova a toda a criatura, procurando impregnar de humanismo cristão a cultura atual.Referindo-me à cultura, o pensamento dirige-se para dois lugares clássicos onde a mesma se forma e comunica – a universidade e a escola –, fixando a atenção principalmente nas comunidades acadêmicas que nasceram à sombra do humanismo cristão e nele se inspiram, honrando-se do nome «católicas». Ora «é precisamente na referência explícita e compartilhada de todos os membros da comunidade escolar – embora em graus diversos – à visão cristã que a escola é “católica”, já que nela os princípios evangélicos tornam-se normas educativas, motivações interiores e metas finais» (Congr. para a Educação Católica, Doc. A escola católica, n. 34). Possa ela, numa convicta sinergia com as famílias e com a comunidade eclesial, promover aquela unidade entre fé, cultura e vida que constitui a finalidade fundamental da educação cristã.Entretanto também as escolas estatais, segundo diversas formas e modos, podem ser ajudadas na sua tarefa educativa pela presença de professores crentes – em primeiro lugar, mas não exclusivamente, os professores de religião católica – e de alunos formados cristãmente, assim como pela colaboração das famílias e pela própria comunidade cristã. Com efeito, uma sadia laicidade da escola não implica a negação da transcendência, nem uma mera neutralidade face àqueles requisitos e valores morais que se encontram na base de uma autêntica formação da pessoa, incluindo a educação religiosa.A escola católica não pode ser pensada nem vive separada das outras instituições educativas. Está ao serviço da sociedade: desempenha uma função pública e um serviço de pública utilidade, não reservado apenas aos católicos, mas aberto a todos os que queiram usufruir de uma proposta educativa qualificada. O problema da sua paridade jurídica e econômica com a escola estatal só poderá ser corretamente impostado se partirmos do reconhecimento do papel primário das famílias e subsidiário das outras instituições educativas. Lê-se no artigo 26 da Declaração Universal dos Direitos do Homem: «Os pais têm direito de prioridade na escolha do gênero de educação a ser ministrada aos próprios filhos». O empenho plurissecular da escola católica situa-se nesta direção, impelido por uma força ainda mais radical, ou seja, a força que faz de Cristo o centro do processo educativo.Este processo, que tem início nas escolas primária e secundária, realiza-se de modo mais alto e especializado nas universidades. A Igreja foi sempre solidária com a universidade e com a sua vocação de conduzir o homem aos mais altos níveis do conhecimento da verdade e do domínio do mundo em todos os seus aspectos. Apraz-me tributar aqui a mais viva gratidão eclesial às diversas congregações religiosas que entre vós fundaram e suportam renomadas universidades, lembrando-lhes, porém, que estas não são uma propriedade de quem as fundou ou de quem as freqüenta, mas expressão da Igreja e do seu patrimônio de fé.Neste sentido, amados Irmãos, vale a pena lembrar que em agosto passado, completou 25 anos a Instrução Libertatis nuntius da Congregação da Doutrina da Fé, sobre alguns aspectos da teologia da libertação, nela sublinhando o perigo que comportava a assunção acrítica, feita por alguns teólogos de teses e metodologias provenientes do marxismo. As suas seqüelas mais ou menos visíveis feitas de rebelião, divisão, dissenso, ofensa, anarquia fazem-se sentir ainda, criando nas vossas comunidades diocesanas grande sofrimento e grave perda de forças vivas. Suplico a quantos de algum modo se sentiram atraídos, envolvidos e atingidos no seu íntimo por certos princípios enganadores da teologia da libertação, que se confrontem novamente com a referida Instrução, acolhendo a luz benigna que a mesma oferece de mão estendida; a todos recordo que «a regra suprema da fé [da Igreja] provém efetivamente da unidade que o Espírito estabeleceu entre a Sagrada Tradição, a Sagrada Escritura e o Magistério da Igreja, numa reciprocidade tal que os três não podem subsistir de maneira independente» (João Paulo II, Enc. Fides et ratio, 55). Que, no âmbito dos entes e comunidades eclesiais, o perdão oferecido e acolhido em nome e por amor da Santíssima Trindade, que adoramos em nossos corações, ponha fim à tribulação da querida Igreja que peregrina nas Terras de Santa Cruz.Venerados Irmãos no episcopado, na união a Cristo precede-nos e guia-nos a Virgem Maria, tão amada e venerada nas vossas dioceses e por todo o Brasil. Nela encontramos, pura e não deformada, a verdadeira essência da Igreja e assim, através dela, aprendemos a conhecer e a amar o mistério da Igreja que vive na história, sentimo-nos profundamente uma parte dela, tornamo-nos por nossa vez «almas eclesiais», aprendendo a resistir àquela «secularização interna» que ameaça a Igreja e os seus ensinamentos.Enquanto peço ao Senhor que derrame a abundância da sua luz sobre todo o mundo brasileiro da escola, confio os seus protagonistas à proteção da Virgem Santíssima e concedo a vós, aos vossos sacerdotes, aos religiosos e religiosas, aos leigos empenhados, e a todos os fiéis das vossas dioceses paterna Bênção Apostólica.
SAUDAÇÃO DE DOM MURILO KRIEGER, ARCEBISPO DE FLORIANÓPOLIS
Santo Padre,
Deixamos nossas Igrejas Particulares e viemos a Roma para ser confirmados pelo sucessor de Pedro em nossa missão (cf. Lc 22,32). Procuraremos responder a três perguntas que, segundo pensamos, estão em seu coração.Quem somos? Somos os Bispos de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. Nesses dois Estados há 28 Dioceses. Nossa região tem uma natureza privilegiada e ali mora um povo de ricas tradições culturais e religiosas. Dos portugueses açorianos, que para lá foram no século dezoito, e dos alemães, italianos, poloneses, ucranianos e austríacos, que imigraram nos séculos dezenove e vinte, herdamos, sobretudo, a fé. Nossas terras foram regadas com o sangue de mártires – alguns deles, elevados às honras dos altares: Pe. Roque Gonzales de Santa Cruz, Pe. Afonso Rodrigues e Pe. João de Castilho, canonizados em 1988; Pe. Manuel Gómez Gonzáles e o Coroinha Adílio Daronch, beatificados em 2007; e Albertina Berkenbrock, beatificada também em 2007. Uma santa, canonizada em 2002, hoje muito conhecida no Brasil, Santa Paulina do Coração Agonizante de Jesus, andou por nossas estradas, atendeu a nossos doentes e foi catequista de muitas crianças. Nossas comunidades deram à Igreja um considerável número de bispos, sacerdotes, diáconos permanentes, religiosos e religiosas. Nossos leigos – uma multidão! – nos edificam com sua disponibilidade e generosidade. Pastores das ovelhinhas que o Bom Pastor nos confia, não conseguimos realizar todos os nossos sonhos. Anima-nos, contudo, a certeza de que o Senhor vem ao encontro de nossas limitações. Sabemos, também, que sua graça é poderosa, capaz de transformar e enriquecer o coração de nosso povo.O que trazemos? Trazemos, Santo Padre, o desejo de expressar-lhe nossa unidade, nossa obediência e disponibilidade. Em nosso dia a dia, nos trabalhos no Reino de Deus, suportamos com amor o peso do dia e do calor ardente (cf. Mt 20,12). Num mundo marcado pelo relativismo e individualismo, nossos desafios se multiplicam. Por isso, trazemos o desejo de, com o sucessor de Pedro, rezar por nossas famílias, comunidades de vida e de amor; por nossos jovens que, como Vossa Santidade nos lembrou em sua Visita ao Brasil, são "o presente jovem da Igreja e da humanidade" (Encontro com os Jovens no Pacaembu, 10.05.2007); por nossas crianças, que são o maior patrimônio de nossas dioceses; e por nossos doentes, sobre os quais pousa o olhar carinhoso de Cristo.O que esperamos levar? Nossas Igrejas Particulares nos acompanham nesta visita, com suas orações, e esperam receber vossa bênção de pai. Esperamos levar-lhes vossa palavra amiga e orientadora, sabendo, de antemão, que, nesses encontros com os regionais do Brasil, cada mensagem que Vossa Santidade transmite é dirigida a todos os brasileiros. Esperamos levar um coração renovado, para realizar com alegria, cada dia, a grande tarefa da Igreja, "de custodiar e alimentar a fé do Povo de Deus" (Bento XVI, Abertura da Conferência de Aparecida, 13.05.09). Esperamos, sobretudo, levar a presença de Cristo, que se torna realidade neste nosso encontro. Para isso, contamos com a intercessão da Mãe de Jesus, invocada em nosso país com o título de Nossa Senhora Aparecida.
Fonte: RV
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