A humanidade está enlouquecendo
O sonho de tornar uma grande empresária a fez tirar a vida do próprio filho.
Comove a opinião pública a morte de Isabella. A concentração dos noticiários televisivos na apuração dos fatos estimula e alimenta a indignação das pessoas. Faço duas observações sobre o que está acontecendo. A primeira se refere à brutalidade do assassinato de Isabella. É muito difícil crer que os próprios pais sejam os autores de tal crime. A segunda se refere ao poder da mídia de mobilizar emoções ao dar cobertura minuciosa ao acontecido. Mas passo agora a narrar o que ouvi de um médico ginecologista. Procurado por uma jovem senhora decidida a abortar, ele fez ver a ela a gravidade da decisão que ela estava a tomar. Mas ela tinha uma razão definitiva: com seu esposo acabara de criar uma empresa e precisava dedicar-se à consolidação desse projeto. Não estava, pois, em condições de levar a gravidez até o final e a arcar com os cuidados que um bebê exige. Diante da negativa do médico de atender sua solicitação, ela lhe pediu indicar outro que aceitasse fazer o aborto. Ao que recebeu a resposta: “não conheço e não tenho relações com pessoas envolvidas nessa tarefa”. Com muito custo foi convencida a fazer o ultra-som para verificar as condições do bebê. A esperança do médico é de que, vendo a imagem do bebê durante a realização do ultra-som e ouvindo as batidas de seu coração, lhe fosse mobilizado o instinto materno, tão forte na espécie animal, e, assim, ela viesse a assumir o ser humano que crescia em seu ventre.A jovem senhora, entretanto, recusou-se terminantemente a olhar para o vídeo onde as imagens da vida em desenvolvimento mostravam sua força bem como recusou-se a ouvir as batidas do pequeno coração do bebê que respondia, com suas batidas apressadas, às batidas do próprio coração da mãe. A mãe não voltou mais ao médico a quem havia procurado. Deve ter encontrado um outro qualquer que lhe atendeu o desejo. Lembro-me que o primeiro lhe havia dito que o projeto de ter e criar um filho é muito mais importante do que consolidar uma empresa. Ela, entretanto, estava inebriada pelo sonho de se tornar uma grande empresária e, firmada no direito de decidir sobre a vida do filho em gestação, permitiu sua execução. O bebê foi morto por esquartejamento, sugado aos pedaços do seio de sua própria mãe. Pergunto ao leitor: é possível falar em direito ao aborto? Faz poucos dias vi em projeção de data-show a imagem de um bebê recém-nascido a mamar. Estava como que pregado pelos lábios no peito da mãe. Pensei: seria um crime arrancá-lo da fonte que o alimenta. Só muito lentamente ele vai dispensar aquela fonte. Na mesma projeção, ao lado, aparecia um embrião nidado, agarrado à parede do útero da gestante. Há quem julgue ser lícito arrancá-lo de sua fonte, como se um carrapato fosse. Curiosa e escandalosamente a lei do aborto interrompe uma lógica divina que estabelece ser tanto mais necessário proteger a vida humana quanto mais frágil ela se apresente. Matar uma criança ou dela não cuidar é crime, tanto mais grave quanto mais a criança necessita de proteção. Quanto mais no início tanto mais a sociedade deve cuidar da vida do ser humano. A lógica é interrompida assim: não se pode destruir a vida começada há 12 (11, 10, 9) meses, mas, recuando mais dois, seis, ou 08 meses, quando a vida mais necessita de proteção, aí a lógica é a do egoísmo, prevalece o pretenso “direito” da gestante sobre o real direito do feto ou do embrião. Se todos os canais de TV colocassem no ar, de vez em quando, o DVD “o grito silencioso”, onde está filmada a cena de um abortamento, com certeza haveria de se verificar a mesma comoção produzida pelo assassinato de Isabella. Em outro artigo assim descrevi a cena que vi: “A mulher se colocara na posição de dar à luz. Depois era necessário perfurar a bolsa amniótica. Quando o instrumento - amniótomo - tocava a bolsa, a criança se movia, em manifestações de aflição. Ela não tinha como expressar seu desespero. Confesso que foi com relutância que continuei a presenciar a cena: uma mulher em posição de dar à luz e, colado a seu corpo, em posição de quem faz um parto, um médico, ou coisa parecida, a agir como quem vai extirpar um tumor maligno. E dentro um bebê sem ter onde se esconder. Ah! se ele pudesse fugir para dentro do coração da própria mãe! Ali com certeza não tocariam nele. Perfurada a bolsa, a presa estava à disposição. Foi então introduzido no útero da mãe o aspirador que ligado a uma pequena bomba pneumática tinha a tarefa de sugar, aos pedaços, o pequeno ser. Ele morreu dando um forte grito. Aqueles que crucificaram Jesus escutaram esse grito quando Jesus morreu (Lc 23,46). Do lado de fora foram caindo os pedaços sugados. Sobrou a cabeça, que logo depois foi arrancada por uma espécie de tenaz. E assim veio para fora a parte mais nobre daquela pobre humanidade. Por fim fez-se a limpeza do abrigo onde cresceu por 12 semanas aquela frágil vida. Que horror!
Comove a opinião pública a morte de Isabella. A concentração dos noticiários televisivos na apuração dos fatos estimula e alimenta a indignação das pessoas. Faço duas observações sobre o que está acontecendo. A primeira se refere à brutalidade do assassinato de Isabella. É muito difícil crer que os próprios pais sejam os autores de tal crime. A segunda se refere ao poder da mídia de mobilizar emoções ao dar cobertura minuciosa ao acontecido. Mas passo agora a narrar o que ouvi de um médico ginecologista. Procurado por uma jovem senhora decidida a abortar, ele fez ver a ela a gravidade da decisão que ela estava a tomar. Mas ela tinha uma razão definitiva: com seu esposo acabara de criar uma empresa e precisava dedicar-se à consolidação desse projeto. Não estava, pois, em condições de levar a gravidez até o final e a arcar com os cuidados que um bebê exige. Diante da negativa do médico de atender sua solicitação, ela lhe pediu indicar outro que aceitasse fazer o aborto. Ao que recebeu a resposta: “não conheço e não tenho relações com pessoas envolvidas nessa tarefa”. Com muito custo foi convencida a fazer o ultra-som para verificar as condições do bebê. A esperança do médico é de que, vendo a imagem do bebê durante a realização do ultra-som e ouvindo as batidas de seu coração, lhe fosse mobilizado o instinto materno, tão forte na espécie animal, e, assim, ela viesse a assumir o ser humano que crescia em seu ventre.A jovem senhora, entretanto, recusou-se terminantemente a olhar para o vídeo onde as imagens da vida em desenvolvimento mostravam sua força bem como recusou-se a ouvir as batidas do pequeno coração do bebê que respondia, com suas batidas apressadas, às batidas do próprio coração da mãe. A mãe não voltou mais ao médico a quem havia procurado. Deve ter encontrado um outro qualquer que lhe atendeu o desejo. Lembro-me que o primeiro lhe havia dito que o projeto de ter e criar um filho é muito mais importante do que consolidar uma empresa. Ela, entretanto, estava inebriada pelo sonho de se tornar uma grande empresária e, firmada no direito de decidir sobre a vida do filho em gestação, permitiu sua execução. O bebê foi morto por esquartejamento, sugado aos pedaços do seio de sua própria mãe. Pergunto ao leitor: é possível falar em direito ao aborto? Faz poucos dias vi em projeção de data-show a imagem de um bebê recém-nascido a mamar. Estava como que pregado pelos lábios no peito da mãe. Pensei: seria um crime arrancá-lo da fonte que o alimenta. Só muito lentamente ele vai dispensar aquela fonte. Na mesma projeção, ao lado, aparecia um embrião nidado, agarrado à parede do útero da gestante. Há quem julgue ser lícito arrancá-lo de sua fonte, como se um carrapato fosse. Curiosa e escandalosamente a lei do aborto interrompe uma lógica divina que estabelece ser tanto mais necessário proteger a vida humana quanto mais frágil ela se apresente. Matar uma criança ou dela não cuidar é crime, tanto mais grave quanto mais a criança necessita de proteção. Quanto mais no início tanto mais a sociedade deve cuidar da vida do ser humano. A lógica é interrompida assim: não se pode destruir a vida começada há 12 (11, 10, 9) meses, mas, recuando mais dois, seis, ou 08 meses, quando a vida mais necessita de proteção, aí a lógica é a do egoísmo, prevalece o pretenso “direito” da gestante sobre o real direito do feto ou do embrião. Se todos os canais de TV colocassem no ar, de vez em quando, o DVD “o grito silencioso”, onde está filmada a cena de um abortamento, com certeza haveria de se verificar a mesma comoção produzida pelo assassinato de Isabella. Em outro artigo assim descrevi a cena que vi: “A mulher se colocara na posição de dar à luz. Depois era necessário perfurar a bolsa amniótica. Quando o instrumento - amniótomo - tocava a bolsa, a criança se movia, em manifestações de aflição. Ela não tinha como expressar seu desespero. Confesso que foi com relutância que continuei a presenciar a cena: uma mulher em posição de dar à luz e, colado a seu corpo, em posição de quem faz um parto, um médico, ou coisa parecida, a agir como quem vai extirpar um tumor maligno. E dentro um bebê sem ter onde se esconder. Ah! se ele pudesse fugir para dentro do coração da própria mãe! Ali com certeza não tocariam nele. Perfurada a bolsa, a presa estava à disposição. Foi então introduzido no útero da mãe o aspirador que ligado a uma pequena bomba pneumática tinha a tarefa de sugar, aos pedaços, o pequeno ser. Ele morreu dando um forte grito. Aqueles que crucificaram Jesus escutaram esse grito quando Jesus morreu (Lc 23,46). Do lado de fora foram caindo os pedaços sugados. Sobrou a cabeça, que logo depois foi arrancada por uma espécie de tenaz. E assim veio para fora a parte mais nobre daquela pobre humanidade. Por fim fez-se a limpeza do abrigo onde cresceu por 12 semanas aquela frágil vida. Que horror!
Dom Eduardo Benes é arcebispo de Sorocaba (SP).
Fonte: Revista Vida e Missão – junho/julho de 2008 – pág. 12 – Diocese de Campo Limpo (SP)
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