EDITORIAL: "PRIMAVERA ÁRABE"
- Conhecemos pouco sobre a realidade do mundo árabe, muitas vezes tão distante da nossa. Mas nestes dias esse mundo desconhecido entrou e continua entrando nas nossas casas através das imagens da televisão que evidenciam povos que ganham ruas pedindo democracia e fim de regimes que duram décadas. Democracia, palavra tão usada e consumada que talvez para nós tenha pouco efeito quando pronunciamos, pois vivemos em uma democracia.
Desde a invenção da democracia pelos gregos no século V a.C, essa expressão vem sendo utilizada com o intuito de dar unidade a um povo, formar comunidades, desenvolver, controlar, sistematizar e organizar a sociedade, diminuir distâncias e contribuir para a resolução pacífica de conflitos. Em meio a várias cenas chocantes de protestos populares reprimidos com violência em diversos países do Oriente Médio - tal como na Líbia, onde fala-se de milhares de pessoas mortas nas ruas durante manifestações por reformas políticas – fica evidente que a região segue em um caminho sem volta em busca da democracia e de crescimento, depois da mudança de rumos políticos no Egito. Para especialistas no mundo árabe, não houve surpresa com a avalanche de protestos simultâneos. Eles afirmam que os sistemas de governo que predominam nestas nações vivem um processo de esgotamento de seus modelos centralizadores e antidemocráticos, seria o esvaziamento dos próprios governos, que não têm mais o que oferecer à sociedade. Foram anos em que nada do que foi prometido foi feito. Depois o fim da esperança e da paciência da população árabe.O mundo árabe está vivendo a sua “primavera árabe”, disse à Rádio Vaticano o padre jesuíta egípcio Samir Khalil Samir, professor de História da Cultura Árabe e Islamologia na Universidade São José de Beirute, Líbano: existe um denominador comum por toda parte. As pessoas estão cansadas de reinos ou repúblicas que duraram décadas, que não dão lugar à democracia, à liberdade, à igualdade, à partilha de decisões, especialmente com uma situação econômica e social em que muitas pessoas se encontram em dificuldade. Este é um movimento que já não se pode parar. Outro elemento interessante dessa crise é a utilização das novas tecnologias de comunicação como Internet, Youtube, Facebook, Twitter, uma comunicação instantânea que chega em um minuto em todo o mundo, em todas as agências de notícias, e são os jovens, que mais utilizam esses instrumentos, os protagonistas dessa avalanche de manifestações.É realmente extraordinário que os jovens desses países tenham conseguido reproduzir e ampliar o movimento de revolta originalmente tunisiana desafiando, sem uma organização política nem armas nas mãos – exceto pedras e suas próprias vozes –, as forças habituadas a não serem contestadas e que nunca precisaram prestar contas de seus atos à população. A democracia, nos modelos admissíveis pelo mundo árabe, pode não ser imposta em seguida, mas é indiscutível que as portas foram abertas e de ora em diante tudo é possível. “A pior democracia é preferível à melhor das Ditaduras”, já dizia Rui Barbosa. (SP)
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