VIDA NOVA NA QUARESMA
- Iniciamos o importante tempo da Quaresma! Durante este tempo somos chamados a aprofundar nossa vida cristã e caminhar em sincera conversão. Queremos renovar na Vigília Pascal os nossos compromissos batismais com o coração sincero.
Iniciamos estes quarenta dias recebendo cinzas sobre as nossas cabeças, sinal de que reconhecemos que somos pecadores, que somos pó e ao pó voltaremos e, enquanto isso, aceitamos o chamado à conversão, acolhendo e crendo no Evangelho.
Iniciado com um dia de jejum e abstinência, iremos também vivenciar este tempo de penitência com atitudes concretas, significando a nossa disposição de corresponder com a graça de Deus que nos convida a uma verdadeira conversão – eis o tempo favorável, eis o dia da conversão! Oração, jejum, esmola, penitência, lectio divina, confissão, arrependimento a que somos convocados devem estar presentes a cada instante.
A Campanha da Fraternidade será um outro tema que não só exigirá de nós uma mudança de mentalidade, mas, principalmente, uma mudança de atitudes, uma mudança de vida. Somos chamados a viver mais sobriamente e respeitar o nosso habitat.
Nos domingos que antecederam a Quaresma, escutamos o “Sermão da Montanha”, e assim tivemos oportunidade de nos preparar para este tempo oportuno. Diante de um tempo de vinganças e violências, a vida cristã é chamada a ser um sinal de um tempo diferente.
Jesus pronuncia algumas frases que são um impulso para o nosso modo de vida. A nova justiça que veio nos trazer parte do pressuposto de que a lei de talião, olho por olho, dente por dente, é substituída pela lógica do perdão e da não-violência, que não significa covardia ou aquiescência.
A lógica da não-violência também se manifesta em dar a outra face em nível de atitude e não apenas na aparência. Os cristãos não consideram o outro como inimigo, mas todos são pessoas que devem se amar e se respeitar, de modo que o violento torne-se não-violento.
Ouvindo estas palavras, a primeira reação espontânea é um sorriso de descrença. Elas parecem, de fato, propostas absurdas. A atitude de Jesus quebra o nosso orgulho, porque Ele é o exemplo vivo nesse caminho.
Nós não somos chamados a perdoar a nível jurídico ou penal, mas aparecer desarmado diante das pessoas é a atitude que pode mudar uma mentalidade, vencendo a violência que está no coração do agressor.
Jesus convida-nos não só a opor-se à não-violência, mas para amar os nossos inimigos e orar pelos que nos perseguem. Na verdade, a atitude do Pai para nós é assim. Além disso, se apenas saudamos as pessoas que vêm nos cumprimentar, somos como qualquer outra pessoa, enquanto a novidade do anúncio cristão consiste nessa mudança de mentalidade.
Podemos reconhecer amargamente a distância de tal caminho! Cumprir um gesto de amor gratuitamente, sem exigir qualquer recompensa, é viver no estilo do doar-se. Ainda com o eco da “figura da nova humanidade” que ouvimos nos últimos domingos antes da Quaresma, sem dúvida que a iniciamos com o coração contrito e necessitado de transformação.
Que o arrependimento nos ajude a acolher o dom de Deus dessa vida que em Cristo Jesus Ele nos promete. A raiz da moralidade cristã não consiste na relação com a paternidade de Deus, para o qual a lei para os cristãos é Jesus Cristo inserido no íntimo de cada um.
Depois de escutarmos o “Sermão da Montanha” é claro que o dilema inicial permanece. Pessoas que têm dificuldade para enfrentar, que são um fardo para nós, permanecem. Mas, talvez, pode gerar uma nova atitude: O estilo da acolhida, do deixar sempre a porta aberta, de não guardar rancor, para orar por eles, amá-los ainda mais.
A novidade cristã pode desbloquear as paralisias de nossas relações interpessoais. Jesus, por exemplo, fez. E de discípulos humildes. Somos chamados a seguir o único caminho para a verdadeira paz: o caminho do amor.
Eis agora a oportunidade de dar passos nessa direção: o tempo da Quaresma!
† Orani João Tempesta, O.Cist.Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ
Fonte: RV
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